4 de set. de 2013

O AMOR DAS CORTESÃS

Quando Deus permite um pouco de amor a uma cortesã, esse amor, que parece em princípio uma redenção, torna-se um castigo. Não há absolvição sem penitência. [Alexandre Dumas Filho]

O amor é o sentimento mais puro que podemos sentir, a partir dele tudo muda, chegamos a emburrecer em certos aspectos, porém o mesmo amor que alimenta pode matar. Como uma chave que abri portas em nosso subconsciente, ele pode trazer muitas outras emoções que desconhecemos e combinadas geram sentimentos e atitudes em série. O amor é o sentimento que pode causar mais dor e sofrimento que podemos suportar.

A ideia de que os opostos se atraem é um fato que a lei da natureza nos mostra constantemente. Mas o que não é revelado é o que fazer quando esses opostos iniciam o processo de auto repulsa, como a força de um imã que se repele com a proximidade dos corpos, mesmo que você os force, mesmo que você os pressione, eles irão se repelir. Assim eu e Miguel nos descobrimos, imãs com lados que se repelem.

Sem ter culpados em nossa história, nossas realidades apresentavam contrastes na maneira de agir e pensar e os embates pesavam a medida que nos conhecíamos mais a fundo. Não que essas diferenças sejam determinantes para você encontrar seu par ideal, porém, além do material nossas diferenças eram ideológicas e quando um casal tem essas diferenças é preciso que ambos os lados cedam um pouco para que haja um consenso. Mas no mundo de Miguel tudo se resolvia na moeda vigente, o vil dinheiro e quem não podia acompanhar esse ritmo podia ficar para trás.

Mesmo assim eu me apaixonei por ele e tentava me adequar ao seu mundo. Inseri Miguel em meu circulo social, junto dos meus amigos fizemos coisas legais como ir a praia, ir ao cinema, ao shopping, a baladas.  Porém, havia coisas que não faziam parte do meu mundo e sempre entravamos em conflitos ideológicos por defender pontos diferentes.

Eu não sei por que nos encontramos e o que nos moveu a nos envolvermos. Criados em mundos diferentes tive uma vida cheia de limitações. Enquanto Miguel é filho de engenheiros, eu sou filho de empregada doméstica, desde pequeno tive que escolher entre em ter o que vestir e o que calçar, enquanto Miguel ganhava roupas e sapatos de marca. Comecei a trabalhar aos 15 anos de idade, enquanto Miguel ainda vive à base de mesada. Na idade de Miguel eu já me desdobrava entre trabalhar durante o dia e estudar durante a noite parcelando minhas mensalidades da faculdade, ele por sua vez dorme até 12h e cursa engenharia a noite.

Miguel era o típico playboy criado a base de Coca Cola e sanduíches do MC Donald, acreditando piamente que tudo se resolve na base do cash. Admito que uma vida com dinheiro a disposição e conforto é muito melhor, porém depende da forma como você usa isso. Tudo em excesso nos cega e nos limita a pensar.

Vou pedir ao meu pai um intercambio de presente.

Vou me matricular na Academia do Shopping e contratar um personal trainer.

Vou cobrar o carro que meu pai prometeu...

Vou comprar! Vou cobrar! Vou pedir!

Mesmo estando junto de Miguel eu sentia me só, nossas diferenças eram mais fortes. Meu mundo era muito mais simples que o dele, minhas prioridades não era ostentar o tênis mais caro, o jeans de marca ou a balada da moda. Eu gosto das coisas com outro sabor, outros valores, sobretudo nas amizades e no caráter das pessoas. Nossos últimos encontros aconteciam na cama, onde o desejo falava mais forte, mas com o tempo o brilho que eu via nos olhos de Miguel ao me ter em seus braços foi se apagando...

se apagando...

a...pa...gan...do

Eu sabia que era uma questão de tempo. Até que em uma tarde de céu cinzento  ele disse.

Quero terminar com você...

Em estado de letargia eu apenas consenti.

Tudo bem.

Entre uma fala e outra ele pedia desculpa. Aceitei cada palavra, cada frase e cada entonação.
Tristeza? Eu não senti. Não sei ao certo o que senti, mas sabia que não doía. Afinal, eu não o amava para sofrer, porém se me perguntarem se um dia eu senti amor por alguém, a reposta é sim. Mas foi um amor maldito que provocou tanta dor que anulou minha capacidade de amar alguém de forma mais profunda, pelo menos por enquanto. A ti ofereço a superficialidade num terreno tranquilo, onde eu posso arrancar qualquer intruso pela raiz. E assim fiz com Miguel, pois para ele eu era apenas uma fatura de cartão de crédito já vencida, agora eu já não lhe servia mais...

Ser realmente amado por uma cortesã é uma vitória muito mais difícil. No caso delas, o corpo gastou a alma, os sentidos queimaram o coração, a devassidão arruinou os sentimentos. As palavras que lhe dizemos, elas as ouvem há muito tempo; os métodos que empregamos, elas já os conhecem e o amor que elas nos inspiram já foi anteriormente vendido. As cortesãs amam por razões profissionais, e não por motivos passionais. [Alexandre Dumas Filho]


O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com


3 comentários:

  1. Olá Eduardo, tudo bem? Acompanho o seu blog há 1/2 meses. Deparei-me com seu blog quando chequei seu perfil no Scruff e li que era gp e que tinha um blog onde escrevia sobre seus clientes e suas aventuras/desventuras. Por mais que eu saiba que eu jamais teria coragem de sair e fazer um programa com um gp, não por preconceito, mas por falta de fetiche mesmo, eu gosto muito de ler o que você escreve por aqui, principalmente devido a forma como você se expressa. Gosto muito. Desejo-te boa sorte com os perigos da profissão e as aventuras amorosas que possam te ferir no meio do caminho. Torço para que um dia você consiga se dar/doar a uma nova relação, caso isso seja algo que você realmente queira, futuramente. Um grande abraço e continuarei te acompanhando.

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  2. Engraçado... histórias assim, onde dois mundos colidem, parecem funcionar só em novelas e filmes. O bolsista se apaixona pela menina rica, e depois de muitos tapas e beijos, se acertam e vivem felizes para sempre.... Essa seria uma boa exceção pra regra da vida, rsrs! Enfim, divagações de um cara que nunca se apaixonou de verdade...

    Assim como o colega aí em cima, passei a acompanhar e gostar do seu blog. Você tem talento com as palavras, e admiro seu trabalho. Também não tenho coragem de sair com um GP, nem tanto por medo, mas pela minha cabeça mesmo. Como dizem no mundo gay, sou bem "Alice", rsrs!

    Abração e até!

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  3. Ao vasculhar a internet me deparei com esse blog que muito me chamou a atenção principalmente pela qualidade dos textos e o cuidado com o Português. Acho importante que o garoto seja educado e estudado, Ainda estou criando coragem para sair com um GP. Acho que você será o meu escolhido.

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