30 de mar. de 2018

CATARSE, SEXO E LIBERTAÇÃO


Se pudéssemos limpar as portas da percepção, tudo se revelaria ao homem tal como é: infinito.
[ William Blake ]

Roberto apareceu por acaso como cliente caroço (aquele tipo de cliente que aparece, faz inúmeras perguntas, pede todo seu material como fotos, vídeos, reclama do preço, pede desconto, te liga nas horas mais inoportunas e some. Perdi as contas de quantas vezes ele fez isso comigo e outros colegas de profissão. Com o tempo e a prática do contato diário com clientes e curiosos, o garoto de programa desenvolve seu feeling para identifica rapidamente o perfil do cliente que o procura, dentre os curiosos, decididos, indecisos, experientes, iniciantes, podres, ricos, carentes, solteiros, comprometidos há no meio deles o cliente “caroço”, um tipo que se auto intitula cliente, mas no fim das contas ele só quer sua atenção para passar o tempo, são raros os casos que desabrocham para um programa real.

Com Roberto foi assim, inicialmente ele achou meu cachê caro, depois me achou fora do perfil que queria, entre outros motivos que encontrava para aparecer e sumir. Nessa época não o atendi e sugeri ele buscar garotos mais econômicos e como sugerido Roberto foi sair com a concorrência, no caso o mercado informal de garotos que iniciantes ou ainda não profissionais que não tem tato com sexo e com variados perfis de clientes.

Após uma série de programas frustrados que deixaram Roberto literalmente na mão, ele  resolveu me contratar para uma foda. Chegando em seu apartamento notei diversos símbolos do camdonblé, como a figura de Iemanjá sobre a mesa de vidro, algumas esculturas de cavaleiros guardando a parte superior da porta de entrada, caboclos sobre os armários da cozinha, entre outros símbolos que não entendo, pois não sou conhecedor da Umbanda.

Roberto é um homem de baixa estatura, branco, um pouco gordo, barba sempre feita, cabelos ralos, sinal de calvice e olhos castanhos arregalados. Ele tem uma tara particular em pornô gay, logo ao entrar em seu apartamento há uma TV de tela grande na sala na qual era exibido um filme erótico gay, já no quarto a mesma situação, há uma TV pequena também com pornô gay sendo exibido. Toda aquela atmosfera em conjunto com símbolos do Candomblé, me levou a um leve desconforto. Confesso que senti-me apreensivo, logo pensei. “Se houver alguma pomba gira aqui isso vai provavelmente me afetar”, pura ignorância, eu sei, mas era falta de conhecimento. Meu único contato com espiritismo foi depois de adulto quando fui algumas vezes a um Centro Kardecista, que aliás é uma linha oposta ao Candomblé e a Umbanda.

Para entendermos melhor, o Kardecismo defende que os espíritos são evoluídos, de acordo com o seu desprendimento das coisas materiais e, quanto mais evoluído, maior é a proximidade de Deus. Essa evolução se da por meio do arrependimento de coisas passadas, o que se dá através das reencarnações ou do trabalho no mundo espiritual. Historicamente o espiritismo de Kardec é rotulado como elitista, feito pelos brancos e para os brancos. Já a Umbanda tem origem com os negros a partir de matrizes africanas, originado nas senzalas no período da escravatura. A Umbanda transmite conhecimentos espiritualistas respeitando as tradições populares e os usos e costumes do povo.

Há também um grande preconceito com a Umbanda e o Candomblé, pois no período da escravidão a igreja católica dominava a população. Enquanto os brancos cultuavam o cristianismo e colonizavam negros e índios, o povo negro sofria nas senzalas e sua forma de pedir proteção e celebrar a vida, era louvando seus santos e crenças com cantos, danças e cultos aos seus santos e espíritos de luz, a partir da Umbanda e do Candomblé.  Logicamente isso era visto como algo obscuro e criticado pela elite branca, dessa forma foram religiões mal vistas por centenas de anos, recebendo o nome de magia negra, macumba, etc... Isso não exime o fato de pessoas usar esses poderes para o mau, mas é preciso separar o joio do trigo.

Posto isto, era difícil transar com a sensação que você estava sendo vigiado por alguma entidade. O quarto já estava preparado, climatizado, filme pornô no televisor, luz ambiente enquanto Roberto me despiu peça a peça. O enfermeiro de olhos arregalados tinha uma particularidade, o fetiche por sungas de praia e na ocasião fui usando uma a pedido dele. Sem tirar minha sunga ele começou apertar meu pau, sentindo ele enrijecer, enquanto deitado eu acariciava suas pernas e seu pau, que já pulsava na bermuda.
Aos poucos ele tirou minha sunga e num 69 ambos caímos de boca nas pirocas já duras e volumosas. Roberto tinha um pau muito gostoso e macio, passei minutos chupando seu cacete, engolindo e colocando inteiro na boca, enquanto ele fazia o mesmo e acariciava meu cuzinho.

Vira de bruços pra mim?! Pedi em voz baixa

Um pouco receoso ele se deitou de bruços, tinha uma bunda grande, carnuda e branca. Com as duas mãos abrir aquele rabo, era rosado e bem cheiroso, não fiz cerimônia, cai de boca naquele cu macio. Mesmo não sendo muito passivo Roberto gemia com o rosto mergulhado nos travesseiros, relaxando todo o corpo, momento oportuno para preparar o território com gel, encapar o pau e ir penetrando bem devagar. Ao lado da cama há um guarda roupa todo espelhado, possibilitando uma visão privilegiada de toda transa. Roberto então virou o rosto para ver a penetração.

Nossa, seu pau é muito grosso. Dizia ele enquanto eu o penetrava com todo cuidado para ele não fugir da enrabada.

Nem tanto, o seu é mais, relaxa o corpo, confia, vou devagar. Disse a ele.

Aos poucos lembrei que uma das características da Umbanda e do Camdonblé é a catarse pelo corpo, sobretudo com as danças que evocam orixás e entidades como o Preto Velho, entre outros. Nesse instante Roberto estava de bruços e como o pau encaixado em seu anus deixe-me levar, esfregando meu corpo contra o corpo de Roberto, atolando o pau em seu rabo e me movendo como uma serpente, o movimento partia em zigue e zague da coluna e a cada movimento aproveitava para descer mais o quadril e penetrar mais fundo o enfermeiro bundudo. Aos poucos o medo de Roberto ao ser penetrado foi passando, dando lugar a um apetite interessante por rola.

Com todo cuidado consegui essa proeza. E quanto ele havia acostumado aproveitei para bombar com mais vigor naquele rabão guloso. Ele gemia mais forte nos travesseiros, virei o de lado e continuei socando a piroca, dessa vez entrava com toda facilidade e podia sentir um saco batendo no outro. Não demorou muito e Roberto gozou sendo penetrado. Após uma ducha, me troquei, peguei meu pagamento e fui embora.


OS RETORNOS
A partir deste primeiro encontro, Roberto passou a me chamar com certa frequência foi quanto ele confidenciou que era casado com outro homem e seu grande desejo era que ser marido participasse conosco.

Eu falei de você para meu marido!

Sério? O que ele achou?

Ah, mostrei seu perfil na internet, fingi que não te conhecia e só disse que gostei, que poderíamos te chamar para tentar. Ele disse que vai pensar.
Mas se a gente te chamar você tem que fingir que não me conhece! Alertou ele.

Ok, sem problema. Fazemos nosso teatro.

Entretanto esse fetiche nunca foi realizado, os encontros eram aconteciam entre mim e Roberto. Mas ao final de cada transa o assunto do marido vinha a tona. Roberto já estava no segundo casamento, o primeiro não havia dado certo pois o namorado/ marido era muito dotado e somente ativo, Roberto é flex, mas não tem muita resistência como passivo, acabou terminando o relacionamento pois o sexo era uma missão quase impossível entre eles.
Neste novo casamento tudo seguia bem, mas caiu na monotonia, o sexo esfriou, segundo ele.


ENERGIA NEGATIVA OU CALOTE? UMA BOA PERGUNTA

Nosso último encontro foi decepcionante e revoltante pra mim. Era uma tarde, eu estava no no banco para uma analise de crédito para financiamento imobiliário e Roberto aparece no celular. Pelas mensagens havia uma grande agitação.

Oi, você ta atendendo agora?

Estou fora de casa, mas posso atender mais tarde.

Você faz massagem com masturbação?

Faço, massagem relaxante e posso te masturbar. Não quer penetração hoje?

Quero agora massagem e que você goze, agora a tarde em meu apartamento.

Ok, vamos marcar.

Chega em quanto tempo?

Estou no banco, vai demorar um tempo...

Conversa vai, conversa vem Roberto parecia impaciente até que consegui me livrar do banco e fui ao seu encontro. Chegando em seu apartamento, diferente da outras vezes a TV da sala exibia o filme “Bruna Surfistinha”. Mais do que depressa Roberto quis ir para o quarto, deitou-se de roupa na cama, não quis tirar nada, pediu apenas para que eu tirasse e me masturbasse pra ele.

Mas você não quer a massagem? Posso tirar sua roupa, fica de cueca para eu fazer a massagem e curtirmos com calma.

Não, bate pra mim. Quero ver você gozar. Disse com os olhos arregalados em voz embriagada e baixa.

Ok... Percebi que havia algo diferente naquele dia, mas já que estava ali e ele era um cliente fixo... “Vamos fazer a moda do cliente”, pensei.

Comecei me tocando suavemente ao lado dele na cama, o pau foi endurecendo, com movimentos de vai e vem continuei “tocando” minha punheta. Roberto aproximou-se mais, e com a palma da mão começou tocar meu saco e pedir em voz baixa.

Goza, goza, vai...goza em cima de mim, vai...

Não demorou muito gozei, ficamos alguns segundo ali.

Quer gozar?  Perguntei.

Não...

Neste instante fui para o banheiro me limpar e Roberto deu por finalizado, ficou ainda deitado na cama, enquanto eu retornei e comecei a me vestir. Puxei um assunto qualquer e ele respondendo foi para sala e ficou sentado no sofá vendo o filme “Bruna Surfistinha” que ainda passava na TV.

Não tinha visto esse filme da Bruna ainda? Perguntei

Já... inclusive falei de você pra ela...Ela disse que te conhece. Respondeu com a voz mais enrolada.

Oi? Pensei comigo...”Melhor ir embora por que isso não ta legal”... Terminei de me aprontar, saquei o celular e maquina de cartão, coloquei o preço e dei para Roberto incluir o cartão e fazer o pagamento no débito, como ele costumava fazer... Ai veio a ingrata surpresa.

O que? Perguntou ele com os olhos caídos.

Pra você fazer o pagamento. Você pediu pra eu trazer a máquina... respondi

Aé...Mas já acabou?

Sim...você não pediu massagem e punheta? Eu cheguei aqui você não quis mais massagem, pediu para eu tirar a roupa e me masturbar...atendi seu pedido.

Ah...mas eu quero mais. - Veio pra cima de mim, foi abrindo o zíper da minha bermuda e me levando para o quarto, deitamos na cama e Roberto parecia um bêbado, ficou me alisando, pegando no meu pau mole...Não sabia nem o que fazia até que se cansou.

Não vai ficar duro?

Não, eu acabei de gozar nesse instante...Você não deu tempo pra nada, não quis massagem, não quis gozar, só pediu para eu me masturbar e gozar em cima de você. Eu fiz.

Ah... Saiu para sala.

Preciso que você acerte comigo!

Acertar o que?

Meu pagamento.

Pagamento?...

Sim, você marcou um programa comigo, vim aqui te atender. Eu fiz o que combinamos. Você não vai me pagar?

Ah... Nesse instante enquanto ele foi para o quarto eu continuei na sala esperando com a maquina de cartão, mas já repetindo pra mim mesmo “Não acredito que cai nessa”...

Roberto mais pra lá do que pra cá volta com um vidro de perfume, sem caixa, sem rótulo, simplesmente um vidro com um perfume qualquer. Sem querer adivinhar para que era aquilo, antes que ele me oferecesse uma colônia barata como pagamento eu já disparei.

Sinceramente não esperava isso de você, nos conhecemos a tanto tempo, nunca tivemos um problema e agora você faz uma coisas dessas? Marca comigo para me dar um calote? Sem problemas, não me ligue mais, agora preciso ir embora!

Posso ir com você na portaria?

Para que cara?! Você ta ai tonto, todo alterado! Você bebeu? Usou alguma droga? Não quero que você vá comigo a lugar nenhum, quero ir embora, abre a porta, por favor!

Sem prolongar a situação fui embora do condomínio desacreditado, revoltado, me sentindo um lixo humano, acontece... Em muitos casos um garoto sem equilíbrio literalmente enfiaria a porrada no cliente, ou faria uma limpa no apartamento dele pegando objetos de valor. Porém essa não minha índole, jamais me sujeitaria a este ato. Eu só agirei em legitima defesa, pois também não sou nenhum monge gregoriano. Entretanto, acredito muito na lei do retorno. O que você faz de ruim para alguém em algum momento volta, já constatei isso em outros carnavais. Nesses anos todos como Garoto de Programa já passei por diferentes situações e felizmente nunca tive problemas graves, também nunca me faltou nada, consegui prosperar dentro da minha realidade, mas ainda sim é revoltante passar por essa falta de respeito.

Já em casa, tomei um longo banho para tirar toda aquela energia pesada do apartamento de Roberto, peguei meu celular e passei uma mensagem para ele. De tudo que disse no final arrematei com o seguinte texto:

“Achei que você como Umbandista respeitasse seu próximo, visto que a Umbanda não adota práticas agressivas ou violentas ou age com falta de caráter e respeito.
 Mas enfim, não podemos esperar muito das pessoas. Não sou umbandista, mas acredito muito na lei do retorno, e se hoje você engana alguém como me enganou, futuramente isso retorna para você em escala maior. Não irei lhe atender mais, sigamos nossos caminhos. Espero que você numa mais use pessoas como você fez hoje. É uma sensação muito ruim. Que seus guias te orientem a encontrar um caminho de luz.”
Abraços.

Se havia mais alguém naquele apartamento, não posso afirmar, mas a partir da analogia de que “nosso corpo é o nosso templo” é interessante testar alguns limites em busca do prazer, afinal o prazer é também um estado de catarse, compreendida na filosofia, na medicina e na psicanálise como limpeza, purificação e libertação do que é estranho à essência ou natureza de um ser. Especialmente naquele caso a catarse deu-se na quebra entre mim e Roberto, me vi liberto, meu templo foi usado, mas a consciência estava em paz.

O garoto errado.