4 de ago. de 2018

EU SOU DIONISIO


Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. [Sócrates]

Para os antigos gregos, as Dionisíacas era um rito transformador. A embriagues e a dança vertiginosa serviam para os participantes ultrapassarem a moderação, saírem de si mesmo, entrarem em êxtase e, com isso, transformarem-se internamente. A embriaguez era considerada uma forma de incorporar a divindade em êxtase e entusiasmo, no sentido literal da palavra, isto é, “ter deus dentro de si”. Conta-se que, em uma dessas celebrações, no século VI a.C., um indivíduo chamado Tespis ao invés de dizer “Oh Dionísio, deus do vinho”, ele disse: “Eu, Dionísio, sou o deus do vinho”. Com essas palavras, ele passou a representar o deus, isto é, tornou-se um ator, estava criado o teatro.
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/teatro-grego-mascaras-para-recortar-e-colorir/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues

Ao longo da profissão como Garoto de Programa deixamos o status de mero estranho e passamos a adquirir o status de bibelô, troféu ou brinquedo sexual de luxo, com o qual o cliente busca ser divertir também fora da cama, em eventos e viagens. Em geral o GP troféu muitas vezes cabe para programas nos quais é exibido com certo orgulho, longe do escondido quarto de motel e passamos a ser apresentados ao mundo do cliente como uma conquista de juventude, beleza e virilidade, como sinônimo de uma conquista representada na imagem do outro.
Mas nós também enquanto acompanhantes temos também nossos troféus em forma de clientes. É bem verdade que há garotos e garotas que se vangloriam de alguns feitos e até fantasiam situações, mas embora algumas situações possam parecer inusitadas elas acontecem e a sorte ou o que achamos sorte bate a nossa porta.

Hermes encontrou meu contato num site gringo aberto para anúncios de acompanhantes. Maduro, de porte médio e olhos expressivos, ocupa o cargo de Cônsul - um funcionário de um Estado responsável, em país estrangeiro, pela proteção dos interesses dos indivíduos e empresas que sejam nacionais daquele Estado, assim como Embaixador é responsável por embaixada. 
Recém chegado a São Paulo para intermediar relações e ações entre seu país com o Brasil Hermes era um amante do sexo e mesmo com tanta variedade de garotos na capital, seu feeling veio de encontro com o meu justamente pela escrita. Poeta por paixão, ele divide-se entre o trabalho no Consulado e suas criações literárias, além de amar música clássica e as artes plásticas.
Inicialmente como de praxe nosso contato foi bem superficial, com perguntas e respostas clássicas sobre meu trabalho e atendimento. Como não tenho ido a São Paulo frequentemente e estou sediado no interior, nosso encontro ficou planejado para algumas semanas depois, nesse período passamos conversar quase que diariamente.

Ao longo das conversas fui percebendo que a posição de Cônsul é um trabalho muito visado e exige o cumprimento de uma agenda dedicada a eventos oficiais, encontros com outras autoridades e recepção de outras tantas figuras importantes, como um anfitrião que recebe visitas e tem por tarefa apresenta-los a diversos lugares, neste sentido a casa de Hermes é o Brasil e seu trabalho exige que ele resida num local próprio para recepcionar pessoas vindas de diferentes lugares. Por isso eu tentava entender qual era sua fissura com garotos de programa, tendo em vista sua alta posição e os diversos olhos que o cercam e poderiam julga-lo.

Em uma de nossas conversas soube que em seu país de origem, por um longo tempo ele namorou um garoto de programa; Ambos se conheceram na relação clientes versos GP, e se envolveram num namoro que durou alguns anos. Neste período o rapaz fez a vida, largou a profissão como acompanhante, passou a ter outro padrão de vida, estudou e se formou em psiquiatria. No entanto, não aceitou a término do namoro e ainda corre atrás de Hermes na busca por reconquista-lo. Como bom cético moldado pelas experiências da vida me custava a acreditar nessa coisa chama “amor”. Para mim o rapaz simplesmente não quer largar a regalia de ter um namorado que ostenta certo status, além de boas cifras, porém ao ser confrontado Hermes nega.

Você era cliente exclusivo dele, pagava uma mesada? Perguntei sem cerimônia.
Não, eu o ajudei, mas desde que começamos a namorar não dei mais dinheiro a ele...

Certo...

Ele estudou e se formou em psiquiatria, hoje ganha muito bem. Mas terminamos e vim embora para o Brasil, porém ele ainda me ama e quer voltar...eu também o amo...

E  por que não voltam? Perguntei.
Por que não sinto mais tesão por ele. Mas ele me quer de volta.

Claro, você ocupa uma posição de destaque... Talvez para ele seria conveniente... (As vezes não meço as palavras).
Atualmente ele não precisa de dinheiro...

E como me achou?

Conheci deu blog e acompanho desde então...

Ultimamente não tenho tanto tempo para o blog e as vezes até esqueço que apesar de tantos anos e tantos textos antigos ele é muito lido, e isso atrai pessoas intrigados na persona de Eduardo e que também dividem certos dilemas. Já ouvi de clientes que muitos textos os ajudaram em momentos de grandes dilemas e de certa forma isso me alegra, as histórias aqui compartilhadas não são só minhas, são também de outros, mas que se cruzam em algum momento comigo.
Os dias foram passando, e pouco a pouco eu e Hermes criamos intimidade, falávamos de arte, cultura, personalidades e pensadores da humanidade. Até que se estabeleceu um certo encantamento e também momentos de estresse pelo conflitos de ideias.

Eu gosto de namorar...Se você se apaixonasse por mim, você deixaria de fazer programas? Perguntou.
Se me apaixonasse eu toparia namorar, mas em relação ao meu trabalho não penso em parar, ainda. Não gosto de depender de ninguém, prefiro me deitar com 30 pessoas e ter minha liberdade a ficar a mercê de alguém financeiramente. Tenho uma meta. Neste caso você teria que aceitar minha profissão.

Você não precisa mais trabalhar como GP. Mas percebo que você gosta disso Você sente prazer em ser garoto de programa! Tentava me analisar sem  me olhar nos olhos.
Sim, óbvio que eu gosto do meu trabalho, este é um dos requisitos para você ser garoto de programa, seu  ex-namorado não lhe explicou isso? Afinal ele trabalhou por muito tempo como acompanhante.

Mas ele parou com os programas quando iniciamos o namoro e foi estudar medicina.

Certamente atingiu um objetivo que ele queria, no meu caso estou nessa busca. Não faça um julgamento precipitado. Não sou nenhum acomodado na vida. Mesmo que eu namore alguém, jamais vou interromper meus objetivos jogando a responsabilidade nesse alguém. Uma relação é feita de concessões e convivência, nós nem nos conhecemos, nem tivemos contato físico, além disso é um engano sermos radical a ponto de querer mudar a personalidade de alguém.

Eu tentava abrir os horizontes de Hermes acerca do preconceito com o qual a sociedade olha o garoto de programa, a ponto de classificar seu trabalho como algum sujo, errado e imoral. Alias, quem sustenta a base dessa pirâmide, basta olhar no espelho e vai saber...
O namoro pra mim não era ponto acordado, alias, eu nem estava focado nisso. Mas era um tema recorrente da parte dele, talvez pelo desejo sexual, ou intelectual em encontrar um par condizente com seu padrão intelectual, um garoto = objeto sexual, mas com pontos em comum. Ao menos Know How para entender a cabeça deste tipo de cliente eu já tenho, muitos deles nos fazem promessas e nos contam histórias sedutoras para que abramos nossa guarda. Não que Hermes fizesse isso premeditado, mas era um impulso. Afinal, quando a criança quer muito um brinquedo ela faz birra por ele, depois que brinca de forma excessiva e exaustiva o brinquedo fica desinteressante. Assim é o GP, um objeto de desejo que a medida que vai sendo utilizado cai no desinteresse. Freud explica...

Conversa, vai, conversa vem, eu decidi entrar no jogo de Hermes e ceder aos seus encantos verborrágicos, porém se a sua instante tinha um lugar para um novo troféu resolvi me fazer de isca para ver até onde iríamos na relação cliente x gp. Você, caro leitor, pode achar isso uma tremenda maldade, mas se um cliente joga com o psicológico de um garoto que ele “julga” ingênuo lhe prometendo namoro e uma vida estável, por que não fingir que acredita para desfrutar desses bons momentos? Bingo!

Eduardo, tenho uma proposta. Vou marcar o programa com você. Que tal você vir passar um final de semana comigo, levo você para um concerto, saímos para jantar e ir a algumas exposições. Se você gostar, poderá voltar mais vezes, mas ai será sem cobrar, você virá como meu namorado. 

Ok, eu topo, neste primeiro final de semana vou para um programa, aproveitamos para nos conhecer. A distancia temos muitas coisas em comum, falta ver na prática.

No final de semana seguinte embarquei para São Paulo, restava saber quem de nós seria Tespis e quem de nós seria Dionisio.

Continua...

Ogarotoerrado