26 de dez. de 2013

FADE IN_TOWN_O INICIO

Conheço todo mundo e não conheço ninguém, todo mundo me conhece e ninguém sabe como sou.

Há sentimentos e sensações que o tempo não muda... Lendo meus escritos encontrei esse antigo texto sobre minha primeira ida a São Paulo. Uma época tumultuada, de preparação para me tornar Eduardo, repletada de acasos bons e ruins em busca do crescimento. Para 2014 pretendo retornar ao ponto de partida, quem sabe eu concerto o que foi quebrado tempos atrás.

Prometeu que não iria chorar, mas chorou, arrumou as malas com poucas roupas e objetos. Na mochila colocou seu notebook, da estante, retirou uma máscara de teatro grego, um porta-retrato, alguns livros, entre eles “A Hora da Estrela” de Clarice Linspector. Na Em fundo falso de uma gaveta, pegou uma pequena chave, abriu uma caixa de madeira, retirou uma quantia em dinheiro das econômicas guardadas e partiu.
Caminhou em direção ao ponto carregando uma pequena mala na mão e uma mochila nas costas, no ônibus, sentou-se e durante o trajeto chorou. Chegou a rodoviária, no guichê comprou uma passagem com destino ainda incerto. Com a cabeça encostada na janela, observou as mudanças de paisagens... Casas, ruas, estradas, morros, fábricas, pastagens... a cada quilometro percorrido, tinha certeza de que não regressaria mais...acalmou-se e dormiu longamente.

Um hora depois...

Assustado acordou, a imagem ainda turva apresentou prédios, caminhões, letreiros, carros, e um largo rio que cortava a rodovia. Esfregou os olhos e acertou a postura no banco. O ônibus parou... Limpou o rosto, fragilizado, levantou-se com os demais passageiros, pegou sua mala e mochila e desceu... Nenhum pensamento lhe ocorreu, desceu o primeiro, segundo e terceiro degrau... Bem vindo a São Paulo, foi a primeira coisa que pensou.

Passos lentos... Os olhos percorriam cada extensão, lojas, pessoas, sonoridades, aromas... Tudo estava ali, organizado dentro de um caos. Subiu as escadas rolantes e deparou-se com mais lojas, restaurantes, pessoas de diversas origens, altas, baixas, negras, brancas, gordas, magras, crianças, adultos... Sentiu uma imensa necessidade de se integrar aquele lugar, não sabia como, mas havia encontrado uma sensação que o impulsionava a caminhar para frente, para o mundo que ali se mostrava novo.

A cada passo dado, sua imagem confundia-se com a imagem das demais pessoas, sua mala e mochila multiplicara-se, suas roupas fundiam-se... Então, num simples plano de câmera, desapareceu, sem destino, sem referências, era apenas mais um, ainda sem idade, sem nome, sem sexo, sem história, como uma folha em branco, onde se é possível escrever, mas no seu caso, era possível reescrever...

continua...


20 de dez. de 2013

NAVIO NEGREIRO E MALAS PRONTAS

O dinheiro representa uma nova forma de escravidão impessoal, em lugar da antiga escravidão pessoal. [Leon Tolstoí]

O ritual de uma viagem consiste em abrir o guarda roupa, escolher camisas, calças, cuecas, meias, sapatos, blusas, cintos e óculos de sol. Separar pasta e escova de dentes, fio dental, sabonete, shampoo, condicionador, creme e aparelho para barbear, creme corporal, protetor solar, protetor labial, pomada para pele, preservativos, gel lubrificante, dinheiro para estadia, cartões de crédito e passagens. Ufa... Mas a sensação de que sempre estávamos esquecendo algo sempre é presente.

De malas prontas embarquei para Campinas a fim de explorar outro mercado diferente de São Paulo. Me instalei em um flat na rua Barreto Leme, muito bacana, com quarto privativo, sala e cozinha equipados. Embora eu houvesse confirmado se era permitido receber visitas eu não sabia como os funcionários do flat iriam reagir com a demanda de clientes, se essa fosse grande. O certo era que eu arriscaria, pois não se tratava de uma rede grande como o hotel IBIS, onde o fluxo de entrada e saída de hospedes e visitantes sempre é grande. De uma forma geral a estratégia nesses casos é ser mais discreto e cordial possível, sobretudo com os funcionários. Fazer cara de poucos amigos como se o fato de você pagar a diária lhe desse o direito de ser arrogante não é um bom caminho. A fidelidade de um serviçal é preciosa nos momentos mais oportunos. Trate um camareiro como reles empregado e você estará fadado a um tipo de espionagem indiscreta, pior do que o sistema de câmeras, pois além de ser constantemente vigiado por ser o hospede chato e folgado seus lençóis e toalhas serão contatos a cada diária de sua estadia.

Isso faz lembra as histórias de senhores e escravos. Segundo alguns fatos os negros vingavam-se de seus donos cuspindo em suas comidas ainda nos tachos durante o preparo nos fogões de lenha. Servidos em pratos de porcelana e talheres prateados para seus senhores as inundices eram dissolvidas em sopas, tortas e quitutes, que para deleite dos senhores eram consumidos sem direito a ceder restos para os negros na senzalas. Era um senso de justiça velado contra o chicote nas costas...

Ao chegar em Campinas tive a agenda tomada por um cliente que havia estado comigo em São Paulo. Cassiano dessa vez ele fez questão de fechar um dia todo só para ele. Confesso que pra mim era algo inédito em temporadas, pois levo um tempo para me habituar ao hotel, gosto de chegar e ter um tempo solo, porém eu também não dispenso oportunidades, algumas podem ser únicas.

Cassiano é um rapaz de 21 anos, alto de pele bem clara e muito simpático. Ele havia me encontrado pelo meu blog e como bom leitor devorou tudo o que escrevi, sabia de todos os meus gostos a ponto de me lembrar de coisas que escrevi. Curiosamente ele tinha o hábito de durante a conversa ficar me encarando seriamente, como se me analisasse. Era um porre, mas era uma mania dele que embora eu respeitasse eu não pude me conter e brincar de forma irônica só para provocá-lo.

Lembra daquela brincadeira de quem aguenta ficar olhando no olho do outro sem rir? Perguntei a Cassiano.

Sim, lembro. O que tem?

Acho que você era campeão nisso né? Você não para de ficar me olhando e me analisando.

Ah Eduardo, gosto de ficar te olhando. Você não gosta?

Não é que eu não goste, mas é estranho você assistir TV ou fazer qualquer coisa com alguém que se volta para você e o fica olhando, olhando, olhando. Não acha? Rimos

Ta bom, vai, vou parar de ficar te encarando.

Isso ae...

A estadia com Cassiano foi bem agradável, ele me levou para conhecer o shopping Iguatemi e para jantar fora, fomos a uma pizzaria muito boa e tradicional na cidade, bebemos vinho, conversamos sobre família, amigos, viagens e quase que fechamos a pizzaria de tanto falar.

No sexo o rapaz era somente ativo e para minha surpresa ele tem uma bela ferramenta, ficamos bastante nas preliminares e depois ele foi para o abate, apesar da ferramenta bem dotada ele disse que possuía pouca experiência, então, fomos num ritmo mais tranquilo, mas após um tempo metendo e algumas posições eu não aguentei mais. Cassiano tem um pau muito grosso e com excesso de pele no prepúcio, isso de uma maneira geral dificulta a penetração. Segundo Cassiano ele irá fazer uma cirurgia para remoção desse excesso de pele e em fevereiro terá um novo brinquedo mais arrojado. Serei o primeiro a testar.

Após a partida de Cassiano eu pude abrir minha agenda e atender outros clientes. Campinas não tem um ritmo intenso como São Paulo, mas ainda sim apresenta um mercado interessante. Muitos homens entraram em contato comigo, atendi a um número relativamente expressivo de clientes.

Alguns clientes interessantes vieram pelo Grindr, como Robson, com estilo de homem comportado conversamos um pouco pelo grindr e depois pelo whats app. O recebi na recepção do flat e juntos subimos para o quarto. Ao chegar no flat ofereci água, ajustei o ar condicionado; Enquanto ele tirava seus sapatos na sala eu também me despi e fiquei só de cueca. Robson pareceu um pouco tímido, nos abraçamos e começamos a nos beijar, ele então se entregou ao momento e a pegação rolou deliciosamente. Muitos beijos, chupadas e afagos. Como Robson achou meu pau grande e grosso ele preferiu não ser passivo.
Ficamos na pegação e juntos gozamos batendo uma bela punheta. Houveram outros além de Robson e de Cassiano, mas confesso que me cansa escrever sobre transas, sexo é sexo. O que me chama atenção são os fatos que nos levam para a cama.

Campinas é uma cidade com potencial, mas como todo cenário novo é preciso explorar oportunidades, se fazer conhecer e claro, fidelizar clientes. Como de costume, sempre no último dia, já na rodoviária, horas antes de embarcar recebi algumas ligações. E claro, prometi um retorno em breve. Afinal sempre há um navio negreiro viajando, colhendo e deixando escravos pelas cidades. As correntes foram quebradas, mas a sede dos senhores por carne e sexo só aumentou. Vivemos um tempo onde algumas escravidões são consensuais e paga-se um preço por elas.

 Hoje a chibata que comanda é o capitalismo e já que não posso ir contra isso, jogo com a ideia de que é possível comprar meu sexo, mas não no momento em que se quer. Em tempos áureos o desejo de se ter um escravo branco era quase inacessível para muitos senhores e ainda continua sendo nos dias atuais.
Lembre-se, nunca trate um serviçal mal. Ele pode cuspir em sua comida.


O garoto errado

12 de dez. de 2013

IMAGEM DISTORCIDA

Ontem de manhã quando acordei
Olhei a vida e me espantei
Eu tenho mais de vinte anos
E eu tenho mais de mil
Perguntas sem respostas [20 Anos Blues - Elis Regina] 

Eduardo surgiu em um momento de transe, de identidade bagunçada, de perguntas não respondidas, de feridas abertas, de dePRESSÃO...

Quando Eduardo nasceu eu o via como mero personagem para ganhar dinheiro em troca de sexo, de prostituição. Afinal, todo garoto ou garota de programa precisa ter um nome de guerra, ainda mais para aqueles que desejam sair ilesos da profissão. Sem carimbo na carteira de trabalho, sem seguro desemprego, sem FGTS e o mais importante, sem lembranças.

Mas com o tempo Eduardo foi se posicionando e hoje me vejo misturado no que ele representa para muitos. O fato de se criar um outro “eu mesmo“ é que este por sua vez cria expectativas em outras pessoas. E quando o encontro se da ao vivo as impressões se confundem, pois o que imagina-se a “seu” respeito nem sempre é compatível.

Muitos chegam até mim chegam através do meu blog. É engraçado, mas quando comecei escrever eu jamais imaginei que uma pessoa iria se dar ao trabalho de ler  tudo o que escrevo. Embora as pessoas achem que a escrita veio pela minha graduação, eu digo que não. Mesmo depois de formado eu jamais exerci o ofício das letras. A escrita veio pelo simples desejo de por pra fora tudo o que sinto em relação ao que estou vivendo. Escrevendo muito ou escrevendo, pouco eu jamais achei que Eduardo seria detalhadamente observado pelo que meu “eu mesmo” escreve. Eu estava errado...

Tenho passado muito tempo na cia dele, por Eduardo me esqueci dos meus antigos amigos e em parte da família. Em meu quarto a mala de viagem já não fica mais em cima do guarda roupa e sim no chão, nem bem chego em casa e já tenho que arrumar novamente as malas para morar por algumas noites me flats e hotéis.
Sinto-me engolido por tudo o que vem acontecendo, talvez eu saia ileso, talvez com alguns cifrões consideráveis na conta bancaria ou até com bagagem suficiente para escrever um livro, quem sabe depois desse feito vou parodiar um modelo de vida concreta, planto uma árvore e tenho um filho. Mas o que é certo, é que o futuro é sempre incerto, a vida é um imenso emaranhado de acasos, por isso até lá vou seguindo na batida do número de Liza no filme Cabaret.

Money makes the world go around
The world go around
The world go around
Money makes the world go around
It makes the world go 'round.



O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com

6 de dez. de 2013

NETWORKING E SEXO

Os únicos limites das nossas realizações de amanhã são as nossas dúvidas e hesitações de hoje. [Franklin Roosevelt]

O mercado do sexo renova-se todos os dias, a cada minuto e a cada instante. A expressão “Carne nova no pedaço” não é somente uma expressão, é um fato. E o que era novidade hoje já não é mais novidade amanhã. Dura realidade para quem vive ou migra para São Paulo a fim de viver de sexo poderíamos taxar como destino infeliz.  Mas o fato maior é que tudo depende única e exclusivamente de você, pois carnes novas são apreciadas sempre e o que ficam são os ossos.

São Paulo me proporcionou um campo de visão além do que eu vislumbrava na pacata São José dos Campos. Foi na vida nômade entre via dutra e hotéis na região da Paulista que consolidei minha fatia no mercado construindo uma carteira de clientes, ainda que efêmera, pois nunca podemos acomodar. Em minha última temporada na capital neste ano de 2013, fiz cerca de 14 programas, alguns deles com duração estendida que me garantiu altos rendimentos, mas dinheiro não é tudo, afinal repassamos notas e notas nessa vida capitalista e assim como ele abrilhanta nossa conta bancária eles se esvai como água pela torneira. É preciso criar oportunidades... Revi pessoas, conheci outras, entre elas outros profissionais do ramo com quem me relacionei. Uma das peculiaridades é que fiz meu primeiro programa para um voyer.

Voyer é chamado a pessoa que sente prazer em observar o ato sexual entre outras pessoas. Para esse observador não é preciso tocar o corpo do outro, mas sim observar. Confesso que me senti um pouco nervoso por ter um observador a espreita na meia luz do quarto, mas com o tempo fui me deixando levar pela situação e logo estava me deliciando na transa com o outro boy convidado. O nome dele é Emmanuel, recém chegado do Recife trata-se de um menino jovem, de sorriso malicioso e pele sedosa. Embora o cliente houvesse agendado o programa com uma semana de antecedência eu tive que negociar com Emmanuel em questões de minutos, pois o primeiro rapaz que havia marcado acordou tarde e cancelou o que havíamos marcado. De Emmanuel eu sabia apenas suas características físicas e preferências na cama, o jogo entre a gente foi feito na hora. Felizmente correu tudo bem, ele foi ativo e conseguimos uma sintonia legal na transa, com posições e closes que satisfizeram nosso Voyer ao extremo.

Em meus cinco dias na capital conheci também Arthur, fizemos contato pelo Grindr, vi que eu e ele estávamos no mesmo hotel, porém ele havia ido atender um cliente. Trocamos algumas palavras e logo estávamos no whatsApp. Arthur é natural de Rondônia e veio para São Paulo há dois meses atrás para o aniversário da The Week; Encantando com tudo o que viu, decidiu não voltar mais para sua cidade natal. Passou a morar em um hotel no centro de São Paulo e por conselho de um amigo começou a fazer programas para se manter na selva de pedras. O rapaz tem um belo corpo e ar inocente. Ao vê-lo é inegável dizer que ele ainda preserva a pureza e a inocência de um menino que depara-se com a cidade grande. Mas também é inevitável não dizer que ele ira se corromper pelo purgatório de prazeres e necessidades que São Paulo nos impõe, seja com baladas, excessos, prazeres ilícitos ou nas mãos de clientes que sugam nossas almas. Cabe a ele escolher as cartas com as quais quer jogar.

Arthur não possuía blog e nem anúncios em sites conhecidos, então, para fazer clientes passou a frequentar saunas e trabalhar por programas androides em seu celular, como Scruff e Grindr, com isso conseguiu alguns clientes fixos, entre drogados e excêntricos que bancam altas quantias por cia horas a fio. Conversamos um pouco, passei algumas informações sobre a cidade e como auxilio montei um blog para que o rapaz pudesse divulgar suas fotos e seu perfil. Se ele souber trabalhar poderá chegar longe e conquistar seu espaço na cidade.

Encerrei minha sexta temporada em São Paulo com saldo mais que positivo, foi um ano muito especial por superar meus limites. Tudo que fiz até aqui foi em parte intuitivo em parte analisado. Creio que todos nós saímos de um ponto zero e como num tabuleiro podemos avançar casas, voltar outras ou tirar cartas de azar. Porém, a única certeza que tenho é que podemos começar de novo e talvez de um novo tabuleiro. São Paulo foi uma espécie de campo de treinamento, o qual não pretendo finalizar minha caminhada e sim aperfeiçoar meus passos, procurando crescer sempre. Mas agora me sinto pronto para alçar novos voos e explorar novos mercados. De malas prontas, passagens compradas e hotéis reservados meus próximos destinos são Campinas e Curitiba.

O garoto errado

garotoprivado@hotmail.com