15 de set. de 2013

SEMELHANÇAS

Sempre dependi da bondade de estranhos. [Blanche - Um bonde chamado desejo]

Engana-se que ainda pensa que a vida imita a arte. Para mim arte é extensão da vida, é na arte que podemos usar nossas válvulas de escape para dizer de formas diferentes o que pensamos, transmitir sensações, angustias e de certa forma tocar o espectador por outro caminho. Hoje tudo é muito hibrido, temos urgência em tudo, prezamos pelo imediatismo e a falta de paciência nos cega no dia a dia.
Me dividir em dois me faz ter uma percepção diferente da realidade, tenho a vida que vivo a partir do meu “eu mesmo” e a vida que Eduardo criou partindo de uma fuga das minhas realidades. Hoje posso constatar que Eduardo tem quase autonomia total sobre meu tempo, mas ainda sim consigo parar e contemplar outras formas de vida, uma delas está ligada a arte. Neste final de semana acompanhei um festival de teatro que acontece todo mês de setembro em minha cidade, assisti diversos espetáculos e foi bastante enriquecedor por mostrar universos diferentes, a cada personagem existia um conflito que não era só existencial, mas também de caráter ético e ai sentimos como se estivéssemos diante de um espelho.

Pude ver Eduardo nitidamente nos dramas deles que de certa forma eram também os meus. Entre os grupos estava um grupo de Ribeirão Preto com uma performance intitulada BLANCHE, que fala da personagem Blanche do texto “Um Bonde Chamado Desejo”, de Arthur Miller. O texto trada de Blanche uma aristocrata falida que vai morar na de favor na casa de sua irmã e seu cunhando em uma periferia, porém não aceita sua nova condição social e leva consigo seu passado decadente, como a prostituição para ganhar dinheiro e manter seu antigo padrão de vida. A performance do grupo mostra diferentes Blanches em imagens sensuais e decadentes que dialogam entre si e com o público. Conversando com uma das atrizes ela disse que Blanche buscava o amor em tudo o que fazia, inclusive na prostituição. Confesso que isso me chamou atenção de certa forma existe um vazio a ser preenchido, não digo isso por mim, mas pelas pessoas em geral, porém para umas um vazio maior.

Tirei um tempo para baixar alguns filmes que queria, entre eles assisti STRAPPED, um filme sobre um garoto de programa que numa noite chuvosa sai para atender um cliente em um prédio formado por um labirinto de apartamentos. Ao sair do apartamento de seu cliente e procurar pela saída ele acaba se perdendo pelos corredores do condomínio e vai encontrando homens com personalidades diferentes que de certa forma o envolvem com suas histórias. A cada programa feito ele segue a sinalização “EXIT”  mas se perde cada vez mais pelos andares do prédio até a noite acabar e ele se perceber diferente.

O filme é uma produção americana, mas fora do circuito de grande produções, porém cativante por relacionar diferentes  a partir dos clientes que o garoto encontra em seu caminho e que de certa forma traduz bem a realidade de um gp. O filme também dialoga com o “vazio”, pois o garoto enche seus clientes de prazer e momentos de felicidade, mas ele mesmo não se vê modificado, pois entra num tipo de automatismo em dar prazer e não receber. A cada corredor ele vê a sinalização EXIT  (saída)  piscando, mas ao segui-la ele se vê em mais corredores e com isso mais uma história, mais clientes. Metalinguagem ou não, o filme tem uma sacada bem legal e ilustra o circulo vicioso de pessoas que buscam momentos de satisfação.

Eduardo ainda se encontra em seu labirinto, conhecendo pessoas, dando prazer a elas, tendo também algum prazer e guardando notas e mais notas de papel em seu bolso. Ele julga que essas notas poderá lhe comprar algum espaço ou tempo de felicidade. Se isso vai acontecer eu não sei, mas existe a contrapartida em aprender com outros homens, assimilar suas histórias e de certa forma modifica-las em algum momento. Transitório ou não o fato é que existe um letreiro EXIT que de fato leva a uma saída. Basta segui-lo sem desviar do caminho.


O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com

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