13 de ago. de 2013

NAMORADO DE ALUGUÉL

Entre muitas outras coisas, tu eras para mim uma janela através da qual podia ver as ruas. Sozinho não o podia fazer. [Franz Kafka]

Quando eu era adolescente uma das minhas vontades era ter um namorado, um carinha com quem eu pudesse me relacionar, me satisfazer sexualmente e de certa forma compartilhar momentos. Nessa busca incansável eu sempre metia os pés pelas mãos, ora acabava num fast foda, ora acabava em alguns dias de pegação e derrepente aquele sumiço repentino, onde ambos imaturos saiam de cena sem por um ponto final na história. Samuel foi um traço sem ponto final em minha vida, e como uma folha em branco onde letras, palavras e rabiscos surgem como fruto de nossa imaginação, ele ressurgiu como um traço inacabado, mas dessa vez quem colocou o ponto final não foi meu “Eu mesmo” e sim Eduardo.

Quando conheci Samuel quando eu havia completado a maioridade e já ele era estudante do ITA – Instituto Técnológico de Aeronática, renomada instituição de ensino superior do comando da aeronáutica. Quase 90% do efetivo de alunos era formada por filhos bem nascidos e abastados em famílias de classe média alta. Novo na cidade, Samuel era natural do Espirito Santo, branco, alto, corpo estruturado, olhos verdes, loiro e com um leve sotaque ele além de se dedicar aos estudos também buscava um cara jovem para se relacionar, mas sem que este despertasse qualquer desconfiança ou suspeita. E neste quesito a paranoia imperava em sua cabeça, grande parte imposta pelo meio em que ele convivia, num colégio onde todas cabeças pensantes eram voltadas para área de exatas e tudo que se referia a masculinidade tinha que ser ressaltado.
Refém de seu universo paralelo Samuel buscava a perfeição onde ela não existia. Foi ai que nossas histórias se cruzaram. Na época eu o conheci por salas de bate papo e logo nossas afinidades apareceram; trocamos telefone e conversamos quase uma semana, até que marcamos um encontro. Na época eu dividia apartamento com uma prima e não houve problemas, ele foi até meu encontro. Assim que nos vimos a situação configurou-se de outra forma, apesar de alguns beijos, ele infelizmente viu em mim um garoto imaturo, pois apesar de ser maior de idade minha aparência depôs contra, pois aparentava ser mais jovem, até hoje isso ocorre, mas ao contrário de antes, hoje eu gosto quando erram minha idade.
Após ele ter ido embora eu me lembro que fiquei feliz por termos nos beijado e como todo garoto apaixonado fiquei a espera de um retorno, que nunca aconteceu. Samuel simplesmente evaporou e claro, o que me restava era a dor da desilusão.

Três anos haviam se passado e nossos destinos se cruzaram novamente em uma sala de bate-papo, assim que abrimos a câmera nos reconhecemos, mas desta vez a impressão causada era outra. Eu já havia perdido o ar de menino inocente e Samuel havia adquirido a experiência de um homem maduro, pelo menos por fora. Um novo encontro aconteceu, mas desta vez no apartamento de Samuel, porém, eu já havia sofrido mais desilusões e de certa forma me encontrava preparado para encarar o fato como uma transa casual. E assim foi, transamos, foi muito bom pela sensação de dever cumprido, pois quando mais novo eu ansiava por este momento com Samuel e abruptamente ele foi interrompido. Fato consumado, nos despedimos ainda de forma meio fria, ele fechou a porta de seu apartamento, desci as escadas, passei pelo portão eletrônico e quando olhei para trás ele não estava na janela me olhando...

Vieram as primaveras, os verões, os outonos e os invernos... As torrentes de chuvas lavaram muitas etapas da minha vida até que eu já me encontrava no corpo de Eduardo.
Meu Skype avisou um novo contato, como de costume aceitei. Quem sabe um novo cliente?
Alguns minutos de conversa, até que ele me pede para abrir a câmera e ao aceitar o pedido de transmissão nossos olhares se cruzam. Era Samuel novamente em meu caminho. Rapidamente eu abaixo a câmera do note book deixando pescoço e tórax a mostra.

Levanta a cam para eu te ver. Pediu ele.

Criei coragem e mostrei meu rosto, ele em nenhum momento se fez lembra de mim. Conversamos alguns minutos, ele ainda quis ligar e falar comigo no celular e finalmente marcou uma pernoite.
Será que ele não me reconheceu? Fiquei com essa pergunta no pensamento.
Mesmo assim decidi marcar e ir ao seu encontro. Fechamos um valor, definimos o horário e logo sai de casa, durante o trajeto rememorei nosso encontros e como tudo havia sido cortado estranhamente por ele. Ao chegar em seu apartamento eu ainda pensei em desistir, mas algo dentro de mim pediu para encarar e mostrar a ele que talvez seu futuro era baseado numa visão distorcida e preconceituosa. Talvez Samuel teria um futuro talvez solitário, em que mesmo bonito, jovem e bem sucedido ele precisaria PAGAR POR PRAZER, afinal, ninguém era bom o suficiente para conviver ao seu lado. Ele jamais se deixaria influenciar por um sentimento ou uma impressão que desviasse seu olhar.

Sabia que era você! Disse ele num tom de alegria

Poxa, que bom que se lembrou de mim.

Cara, não acredito!  Você fazendo isso... Quando você abriu a cam eu te reconheci, levei um susto... Eduardo então?

Pois é, e eu não acredito que você ta contratando boy... Como os tempos mudam, não?

Vem cá, mas você poderia fazer de graça né. A gente já se conhece.

Eu não misturo as coisas cara. Se você quiser ficar comigo agora é pagando. Senão vou embora. Lei da oferta e da procura.

Nada, que isso! To brincando ooo...E..DU..ARDO. ( Disse ele com sotaque que lembrava carioca) Eu vou pagar sim. Quero que passe a noite comigo.

Logo Samuel me puxou para si e nos acariciamos, nos beijamos jogados no sofá. Conversamos por um bom tempo. Parecia que na verdade o lance de pagar era algo natural para ele. Claro que ele fez algumas perguntas a fim de matar sua curiosidade. E ao contrário do nerd frio que ele era no passado, ele havia se tornado um homem mais carinhoso, por diversas vezes me abraçou, me beijou e me acariciava como se fosse um namorado, alguém a quem ele tivesse afeto.

Como sempre ele gostava de dominar na cama e assim o fez. Nosso sexo continuava bom, com desejo um pelo outro. Ao pé do ouvido Samuel sussurrava que me deseja e o quanto era bom estarmos juntos naquela cama. Mas eu sabia que era algo como uma fase de lua, onde ao amanhecer eu iria embora sem que ele estivesse na janela me olhando na rua.
A noite caiu e dormimos na mesma cama, de madrugada ele me abraçou sem que eu o percebesse. Ao amanhecer ele se levantou primeiro e fez café enquanto eu acordava. Conversamos mais um pouco sobre algumas futilidades, ele me pagou o combinado.

Gostei muito, Eduardo...

Que bom, quando precisar você já tem meu telefone, só ligar.

Você pode me ligar também, quando quiser. Disse ele.

Eu nunca ligo. Ninguém melhor do que você para saber quando vai precisar de mim... Abre a porta?

Claro. Se cuida rapaz.

Desta vez ao descer as escadas nada dentro de mim doía, não havia expressão de dúvida ou a sensação de algo partido...quebrado...roubado. Eu estava vazio de sentimentos ou de certa forma eles estava sufocados.
Sai do prédio, atravessei a rua e tive a sensação de que alguém estava atrás de mim. Olhei para trás... E lá do alto estava Samuel, na janela me observando.



O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com

3 comentários:

  1. E a Vida e uma caixinha de surpresas...
    A melhor ate agora!!! :)

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  2. É cara, De Certa Forma é uma bonita historia...
    Gostei...
    Para Muitos serve de lição...

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  3. Não me importo com a veracidade, mas esta história é muito interessante. Parece que posso ouvir isso de qualquer pessoa que circula no meu meio. Muito bem escrita. Já tive um namorado de aluguel. O fato de pagar facilita os intermináveis contratempos para partirmos imediatamente para sexo. Foi bom. Foi ótimo por que fui tratado com carinho, com paixão, com tesão... como um namorado!

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