Entre muitas outras coisas, tu eras para mim uma janela
através da qual podia ver as ruas. Sozinho não o podia fazer. [Franz Kafka]
Quando eu era adolescente uma das minhas vontades era ter um
namorado, um carinha com quem eu pudesse me relacionar, me satisfazer
sexualmente e de certa forma compartilhar momentos. Nessa busca incansável eu
sempre metia os pés pelas mãos, ora acabava num fast foda, ora acabava em
alguns dias de pegação e derrepente aquele sumiço repentino, onde ambos imaturos saiam de cena sem por um ponto final na história. Samuel foi um traço sem ponto final em
minha vida, e como uma folha em branco onde letras, palavras e rabiscos surgem
como fruto de nossa imaginação, ele ressurgiu como um traço inacabado, mas
dessa vez quem colocou o ponto final não foi meu “Eu mesmo” e sim Eduardo.
Quando conheci Samuel quando eu havia completado a
maioridade e já ele era estudante do ITA – Instituto Técnológico de Aeronática,
renomada instituição de ensino superior do comando da aeronáutica. Quase 90% do
efetivo de alunos era formada por filhos bem nascidos e abastados em famílias
de classe média alta. Novo na cidade, Samuel era natural do Espirito Santo,
branco, alto, corpo estruturado, olhos verdes, loiro e com um leve sotaque ele além
de se dedicar aos estudos também buscava um cara jovem para se relacionar, mas
sem que este despertasse qualquer desconfiança ou suspeita. E neste quesito a paranoia
imperava em sua cabeça, grande parte imposta pelo meio em que ele convivia, num
colégio onde todas cabeças pensantes eram voltadas para área de exatas e tudo
que se referia a masculinidade tinha que ser ressaltado.
Refém de seu universo paralelo Samuel buscava a perfeição
onde ela não existia. Foi ai que nossas histórias se cruzaram. Na época eu o
conheci por salas de bate papo e logo nossas afinidades apareceram; trocamos
telefone e conversamos quase uma semana, até que marcamos um encontro. Na época
eu dividia apartamento com uma prima e não houve problemas, ele foi até meu
encontro. Assim que nos vimos a situação configurou-se de outra forma, apesar
de alguns beijos, ele infelizmente viu em mim um garoto imaturo, pois apesar de
ser maior de idade minha aparência depôs contra, pois aparentava ser mais
jovem, até hoje isso ocorre, mas ao contrário de antes, hoje eu gosto quando
erram minha idade.
Após ele ter ido embora eu me lembro que fiquei feliz por
termos nos beijado e como todo garoto apaixonado fiquei a espera de um retorno,
que nunca aconteceu. Samuel simplesmente evaporou e claro, o que me restava era
a dor da desilusão.
Três anos haviam se passado e nossos destinos se cruzaram
novamente em uma sala de bate-papo, assim que abrimos a câmera nos
reconhecemos, mas desta vez a impressão causada era outra. Eu já havia perdido
o ar de menino inocente e Samuel havia adquirido a experiência de um homem
maduro, pelo menos por fora. Um novo encontro aconteceu, mas desta vez no
apartamento de Samuel, porém, eu já havia sofrido mais desilusões e de certa
forma me encontrava preparado para encarar o fato como uma transa casual. E
assim foi, transamos, foi muito bom pela sensação de dever cumprido, pois
quando mais novo eu ansiava por este momento com Samuel e abruptamente ele foi
interrompido. Fato consumado, nos despedimos ainda de forma meio fria, ele
fechou a porta de seu apartamento, desci as escadas, passei pelo portão eletrônico
e quando olhei para trás ele não estava na janela me olhando...
Vieram as primaveras, os verões, os outonos e os invernos...
As torrentes de chuvas lavaram muitas etapas da minha vida até que eu já me
encontrava no corpo de Eduardo.
Meu Skype avisou um novo contato, como de costume aceitei. Quem sabe um novo cliente?
Alguns minutos de conversa, até que ele me pede para abrir a
câmera e ao aceitar o pedido de transmissão nossos olhares se cruzam. Era
Samuel novamente em meu caminho. Rapidamente eu abaixo a câmera do note book
deixando pescoço e tórax a mostra.
Levanta a cam para eu te ver. Pediu ele.
Criei coragem e mostrei meu rosto, ele em nenhum momento se
fez lembra de mim. Conversamos alguns minutos, ele ainda quis ligar e falar
comigo no celular e finalmente marcou uma pernoite.
Será que ele não me reconheceu? Fiquei com essa pergunta no
pensamento.
Mesmo assim decidi marcar e ir ao seu encontro. Fechamos um
valor, definimos o horário e logo sai de casa, durante o trajeto rememorei
nosso encontros e como tudo havia sido cortado estranhamente por ele. Ao chegar
em seu apartamento eu ainda pensei em desistir, mas algo dentro de mim pediu
para encarar e mostrar a ele que talvez seu futuro era baseado numa visão
distorcida e preconceituosa. Talvez Samuel teria um futuro talvez solitário, em
que mesmo bonito, jovem e bem sucedido ele precisaria PAGAR POR PRAZER, afinal,
ninguém era bom o suficiente para conviver ao seu lado. Ele jamais se deixaria
influenciar por um sentimento ou uma impressão que desviasse seu olhar.
Sabia que era você! Disse ele num tom de alegria
Poxa, que bom que se lembrou de mim.
Cara, não acredito! Você
fazendo isso... Quando você abriu a cam eu te reconheci, levei um susto... Eduardo
então?
Pois é, e eu não acredito que você ta contratando boy...
Como os tempos mudam, não?
Vem cá, mas você poderia fazer de graça né. A gente já se
conhece.
Eu não misturo as coisas cara. Se você quiser ficar comigo
agora é pagando. Senão vou embora. Lei da oferta e da procura.
Nada, que isso! To brincando ooo...E..DU..ARDO. ( Disse ele com sotaque que lembrava carioca) Eu vou pagar
sim. Quero que passe a noite comigo.
Logo Samuel me puxou para si e nos acariciamos, nos beijamos
jogados no sofá. Conversamos por um bom tempo. Parecia que na verdade o lance
de pagar era algo natural para ele. Claro que ele fez algumas perguntas a fim
de matar sua curiosidade. E ao contrário do nerd frio que ele era no passado, ele
havia se tornado um homem mais carinhoso, por diversas vezes me abraçou, me
beijou e me acariciava como se fosse um namorado, alguém a quem ele tivesse
afeto.
Como sempre ele gostava de dominar na cama e assim o fez.
Nosso sexo continuava bom, com desejo um pelo outro. Ao pé do ouvido Samuel sussurrava
que me deseja e o quanto era bom estarmos juntos naquela cama. Mas eu sabia que
era algo como uma fase de lua, onde ao amanhecer eu iria embora sem que ele
estivesse na janela me olhando na rua.
A noite caiu e dormimos na mesma cama, de madrugada ele me
abraçou sem que eu o percebesse. Ao amanhecer ele se levantou primeiro e fez
café enquanto eu acordava. Conversamos mais um pouco sobre algumas futilidades,
ele me pagou o combinado.
Gostei muito, Eduardo...
Que bom, quando precisar você já tem meu telefone, só ligar.
Você pode me ligar também, quando quiser. Disse ele.
Eu nunca ligo. Ninguém melhor do que você para saber quando vai
precisar de mim... Abre a porta?
Claro. Se cuida rapaz.
Desta vez ao descer as escadas nada dentro de mim doía, não
havia expressão de dúvida ou a sensação de algo partido...quebrado...roubado.
Eu estava vazio de sentimentos ou de certa forma eles estava sufocados.
Sai do prédio, atravessei a rua e tive a sensação de que
alguém estava atrás de mim. Olhei para trás... E lá do alto estava Samuel, na
janela me observando.
O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com
E a Vida e uma caixinha de surpresas...
ResponderExcluirA melhor ate agora!!! :)
É cara, De Certa Forma é uma bonita historia...
ResponderExcluirGostei...
Para Muitos serve de lição...
Não me importo com a veracidade, mas esta história é muito interessante. Parece que posso ouvir isso de qualquer pessoa que circula no meu meio. Muito bem escrita. Já tive um namorado de aluguel. O fato de pagar facilita os intermináveis contratempos para partirmos imediatamente para sexo. Foi bom. Foi ótimo por que fui tratado com carinho, com paixão, com tesão... como um namorado!
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