No fundo de um buraco ou
de um poço, acontece descobrir-se as estrelas. [Aristóteles]
Um momento pode durar uma
eternidade, um momento pode ser bom, um momento pode ser ruim, um momento pode
ser pouco, pode ser muito, um momento pode ser a ETERNIDADE. Mas... um momento
é um momento, um lapso de tempo em que os pensamentos param e um êxtase toma
conta do nosso corpo e quando tudo passa o que restará é a saudade de algo que se
experenciou...
Semana com frente fria
por longos dias e noites, a vontade é ficar jogado no sofá enrolado em
cobertores, mas acabei tendo um dia cheio com outros afazeres e sob frio e
chuva constante fui ao centro da cidade resolver assuntos pessoais. No trajeto
meu celular tocou pelo menos oito vezes com pessoas querendo marcar algo, mas
nada efetivo. Uma das tentativas foi um coroa que me ligou pelo menos três vezes
de depois de encaixa-lo num horário a tarde. Como estava pelo centro marquei
para 17h15 em um ponto da cidade, chuva... frio e nada do cara, resolvi então
voltar para casa.
Banho quente, jantar,
pijama, quarto e sossego, naquela noite com os termômetros marcando quase 10
graus jurei que ninguém fosse me ligar, porém Murphy é um cara marrento e anda
brigado comigo, afinal ele é de aquário e eu sou de gêmeos. Celular toca...
Alô...
Oi, Eduardo?
Sim, sou eu.
Oi, cara, tudo bem? Me
chamo Álvaro, vi um anúncio... Você faz programa?
Tudo certo. Sim, faço.
Falo aqui de São José,
moro no centro... Você ta livre agora?
Por um momento pensei em
excitar, mas o chato de recusar um contato é que perco a oportunidade de fazer
um novo cliente.
Estou, mas com esse frio
e chuva eu só saio se você me buscar na porta de casa. Tudo bem?
Claro! Respondeu Álvaro
entusiasmado
Conversamos por poucos
minutos, passei meu endereço para que ele viesse me buscar enquanto eu trocava
de figurino; Pele perfumada, cueca boxer, Jeans, sapato, camisa, blusa e gotas
de Dior Homem pelo pescoço, nuca e atrás das orelhas; Em poucos minutos Eduardo
estava pronto para entrar em cena.
Ao entrar no carro me
surpreendi, Álvaro era um homem bonito, maduro e másculo e de certa forma
falante. Durante o trajeto conversamos bastante, ele fez muitas perguntas sobre
a profissão como GP e também falou um pouco de si. Natural de Campinas ele tem
um parceiro fixo com o qual vive junto, porém o relacionamento esta um pouco
desgastado e para fugir da rotina ele resolveu fazer algo diferente permitindo
se sair com outro cara.
Voce se sentiria mal se
fossemos para meu apartamento? Perguntou.
Não, de forma alguma.
É que prometi para mim
mesmo não levar outra pessoa para meu apartamento... Mas tranquilo, se eu me
sentir mal ai vamos para um motel. Ok?
Ao chegarmos em seu
apartamento no sexto andar, ficamos pela sala. Enquanto Álvaro ajustava o som
para uma música ambiente eu reparei em sua sala minimalista, com uma mesa com
tampão de vidro, uma estante antiga pintada, tipo dessas de antiquário, estava
pintada na cor amarela, perguntei sobre o móvel e Álvaro disse que estava
montando para fazer dela uma adega de vinhos. Porém o que me chamou atenção foi
um objeto decorativo sob o rack, uma árvore pequena, cujas pontas dos galhos
são pequenas estrelas que ligadas iluminam quando ligada na tomada. E sob luzes
apagadas, com janelas cerradas para barrar o vento gelado na pele nos beijamos
no sofá. A única luz que iluminava o ambiente era das estrelas da árvore.
Álvaro beijava muito
gostoso, logo estávamos nus e trepamos ali na sala, sem chance alguma de irmos
para o quarto. Línguas, lábios, membros, fluidos, foi um sexo gostoso entre
dois homens que por um momento se desejaram naquela noite fria e densa. A falta
de cobertor não era mais problema, nossos corpos estavam quentes... Gozamos
deitados no tapete, e enquanto relaxávamos recuperando o folego, eu deitado sob
o tapete já começava a sentir o frio tocando minha pele, olhei fixamente para
as estrelas... As mesmas que brilhavam estáticas, era um brilho que encantava por
sua beleza, mas não havia profundidade, não havia forma de fazer um pedido,
nenhuma das estrelas era cadente, apenas incandescentes... Um brilho
artificial, o mesmo brilho que sinto me preencher e que um dia pode se apagar,
como em uma noite fria.
O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com
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