31 de jul. de 2013

ÁRVORE DE ESTRELAS

No fundo de um buraco ou de um poço, acontece descobrir-se as estrelas. [Aristóteles]

Um momento pode durar uma eternidade, um momento pode ser bom, um momento pode ser ruim, um momento pode ser pouco, pode ser muito, um momento pode ser a ETERNIDADE. Mas... um momento é um momento, um lapso de tempo em que os pensamentos param e um êxtase toma conta do nosso corpo e quando tudo passa o que restará é a saudade de algo que se experenciou...

Semana com frente fria por longos dias e noites, a vontade é ficar jogado no sofá enrolado em cobertores, mas acabei tendo um dia cheio com outros afazeres e sob frio e chuva constante fui ao centro da cidade resolver assuntos pessoais. No trajeto meu celular tocou pelo menos oito vezes com pessoas querendo marcar algo, mas nada efetivo. Uma das tentativas foi um coroa que me ligou pelo menos três vezes de depois de encaixa-lo num horário a tarde. Como estava pelo centro marquei para 17h15 em um ponto da cidade, chuva... frio e nada do cara, resolvi então voltar para casa.

Banho quente, jantar, pijama, quarto e sossego, naquela noite com os termômetros marcando quase 10 graus jurei que ninguém fosse me ligar, porém Murphy é um cara marrento e anda brigado comigo, afinal ele é de aquário e eu sou de gêmeos. Celular toca...

Alô...
Oi, Eduardo?
Sim, sou eu.
Oi, cara, tudo bem? Me chamo Álvaro, vi um anúncio... Você faz programa?
Tudo certo. Sim, faço.
Falo aqui de São José, moro no centro... Você ta livre agora?

Por um momento pensei em excitar, mas o chato de recusar um contato é que perco a oportunidade de fazer um novo cliente.

Estou, mas com esse frio e chuva eu só saio se você me buscar na porta de casa. Tudo bem?

Claro! Respondeu Álvaro entusiasmado

Conversamos por poucos minutos, passei meu endereço para que ele viesse me buscar enquanto eu trocava de figurino; Pele perfumada, cueca boxer, Jeans, sapato, camisa, blusa e gotas de Dior Homem pelo pescoço, nuca e atrás das orelhas; Em poucos minutos Eduardo estava pronto para entrar em cena.

Ao entrar no carro me surpreendi, Álvaro era um homem bonito, maduro e másculo e de certa forma falante. Durante o trajeto conversamos bastante, ele fez muitas perguntas sobre a profissão como GP e também falou um pouco de si. Natural de Campinas ele tem um parceiro fixo com o qual vive junto, porém o relacionamento esta um pouco desgastado e para fugir da rotina ele resolveu fazer algo diferente permitindo se sair com outro cara.

Voce se sentiria mal se fossemos para meu apartamento? Perguntou.

Não, de forma alguma.

É que prometi para mim mesmo não levar outra pessoa para meu apartamento... Mas tranquilo, se eu me sentir mal ai vamos para um motel. Ok?

Ao chegarmos em seu apartamento no sexto andar, ficamos pela sala. Enquanto Álvaro ajustava o som para uma música ambiente eu reparei em sua sala minimalista, com uma mesa com tampão de vidro, uma estante antiga pintada, tipo dessas de antiquário, estava pintada na cor amarela, perguntei sobre o móvel e Álvaro disse que estava montando para fazer dela uma adega de vinhos. Porém o que me chamou atenção foi um objeto decorativo sob o rack, uma árvore pequena, cujas pontas dos galhos são pequenas estrelas que ligadas iluminam quando ligada na tomada. E sob luzes apagadas, com janelas cerradas para barrar o vento gelado na pele nos beijamos no sofá. A única luz que iluminava o ambiente era das estrelas da árvore.

Álvaro beijava muito gostoso, logo estávamos nus e trepamos ali na sala, sem chance alguma de irmos para o quarto. Línguas, lábios, membros, fluidos, foi um sexo gostoso entre dois homens que por um momento se desejaram naquela noite fria e densa. A falta de cobertor não era mais problema, nossos corpos estavam quentes... Gozamos deitados no tapete, e enquanto relaxávamos recuperando o folego, eu deitado sob o tapete já começava a sentir o frio tocando minha pele, olhei fixamente para as estrelas... As mesmas que brilhavam estáticas, era um brilho que encantava por sua beleza, mas não havia profundidade, não havia forma de fazer um pedido, nenhuma das estrelas era cadente, apenas incandescentes... Um brilho artificial, o mesmo brilho que sinto me preencher e que um dia pode se apagar, como em uma noite fria.

O garoto errado


garotoprivado@hotmail.com

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