Em meus programas eu costumo ouvir muitas histórias e muitas
verdades. Verdade? Sim, hoje em dia todo mundo se sente um pouco dono dela. O
que me leva a pensar que justificamos nossos meios para saciar os fins. Ser um
garoto de programa me faz um privilegiado por conhecer muitos homens em suas
intimidades. Em geral pensam que um prostituto está abaixo de qualquer ordem
social, o pensamento comum nos classifica uma classe que não tem moral para
julgar pessoas e isso faz de nós juízes sem crédito, perfeitos para ter corações
e pensamentos abertos em nossas camas. É como ir a um confessionário, onde as mais
escusas fantasias são reveladas. É conosco que muitos maridos, noivos e
namorados confessam seus desejos e devaneios. É em nossa cama que a curiosidade
busca ser saciada... Porém, há o outro lado...
O lado em que o cliente não sabe o que busca e
consequentemente espelham seu drama e nós. Tem medo do que querem viver e a
partir dai tornam-se carrascos de si próprio e espelham seus conflitos internos
em nós. Confuso?
Muitos caras não são bem resolvidos com sua
sexualidade, estão em constante conflito, com isso e camuflam seus desejos,
porém, o desejo sempre ultrapassa barreiras do campo racional e cedo ou tarde
esse cara vai atrás do que quer. Dado esse passo ele pode assustar-se e o
reflexo natural disso é colocar-se fora e apontar o dedo para quem esta dentro,
como uma anomalia da natureza.
Consequentemente me deparo com esse tipo de cara, que
muitas vezes não sabe por que me procura, mas procura mesmo assim. É estranho...
Já tive programas estressantes em que num quarto de motel, sofri com pressões
psicológicas de homens frustrados que por sua vez me questionavam o por que da prostituição.
Já me deparei com homens extremamente carentes que propõe namoro ou algo
parecido com um caso secreto, entre outras histórias que parecem não ter
fundamento.
A eles eu sempre mostro meu ponto de vista. Sou e
estou bem resolvido com minhas decisões e constato que sexualidade é algo muito
particular e ainda é um tabu para muitos homens. Entretanto continuará sendo um
circulo vicioso e muitos irão continuar com suas vidas duplas, porém, enganando
a si próprio, achando que quem leva uma vida dupla serei somente eu. Afinal,
que crédito tem um prostituto?...
E quando o programa termina, naturalmente ele veste
sua máscara, paga o programa e o motel e tudo volta ao normal... Pobre homem...
José é um
cara jovem, boa aparência, bom emprego, tem um namoro estável com uma garota, aos
sábados ele joga bola com os amigos, aos domingos ele vai a igreja, e zela
muito por sua masculinidade, sendo exemplo para primos e amigos. Mas José
esconde seus desejos reprimidos, sem que saibam José gosta de homens, sente
desejos por corpos masculinos, por músculos e pelo volume nas calças alheias. Embora
tente reprimir. José frequenta saunas masculinas em cidades como São Paulo,
costuma ir em algumas baladas e gosta de curtir um darkroom (quarto escuro),
onde a sacanagem rola solta. José também costuma chamar amigos que assim como
ele curtem coisas diferentes e juntos promovem surubas. Claro que tudo isso na
mais perfeita discrição. Quando José goza ele sente imenso prazer e não sente
culpa por fazer parte daquele momento. José quase nunca se apaixona por seus
parceiros, na verdade ele sente repulsa logo depois de gozar, afinal, muitos
caras são anormais, querem manter contato com ele, mas ele não quer. José tem
em mente que isso é errado e inaceitável. José não costuma pensar em sua
namorada, somente quando essa liga para ele e cobra uma ida ao cinema ou
shopping. Certa vez José estava com amigos em seu carro no estacionamento do
shopping e não hesitou em apontar o dedo para um casal de garotos e disse em
bom tom, “Da vontade de matar esses caras”... Era uma sensação tão boa ser
superior em relação aos meninos que não ficavam no armário. Afinal, José era
macho! Ele gosta de mulher, essa coisa de homem são apenas brincadeiras. Quando
ele casar passa. E se não passar José continua no mesmo ritmo. José tem uma compreensão
pequena de seus desejos, ele costuma ver muitos casos parecidos, mas o medo o
impede de querer entender... Então, José vai vivendo e com isso se anulando,
pois se ele der um vacilo, poderão apontar o dedo para ele... E ai tudo estaria
perdido. E agora
José?
O garoto errado
Muito bom o texto! E muito bem escrito parabéns!
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