“Todos nós temos nossas máquinas do tempo. Algumas nos levam pra trás, são chamadas de memórias. Outras nos levam para frente, são chamadas sonhos”. [Jeremy Irons]
No final de 2020 a pandemia ainda oscilava com altos índices de infectados e hospitais com leitos ocupados. Diferente do Governo brasileiro, outros países deram início a vacinação buscando reestabelecer controle sobre o vírus e recuperação da economia. Enquanto no Brasil as negociações para compra de vacinas e início da imunização estava longe de começar. Decidi continuar recluso, controlar os impulsos e rememorar alguns fatos marcantes que tive como GP.
“Se for para entrar nessa que seja para ser um dos melhores no mercado” era meu mantra.
Em 2016, depois dos meus 15 minutos de fama que rendeu uma pequena fatia do mercado da prostituição em São Paulo, acabei pegando um contrato de trabalho na minha cidade natal e decidi voltar. Levando em paralelo a vida de executivo e GP, acabei abdicando de alguns clientes, que por sua vez pediam indicações de outros garotos.
Foi ai que veio a ideia de criar um grupo seleto de garotos para fidelizarmos uma carteira fixa de clientes. Assim nasceu o grupo White Boys, como um grande desejo em valorizar o mercado da prostituição local, ou seja, numa quase pacata cidade do interior.
Lucas, Daniel, Caio e Eduardo abriram a frente do projeto, o quarteto ficou conhecido por atendimentos em duplas, trios etc... com o tempo vi a necessidade de criar uma espécie de treinamento teórico sobre a profissão como GP. Surreal ou sem noção?
Até hoje eu não sei, mas queria que meus amigos tivessem algo a mais para oferecer. A primeira etapa era um treinamento teórico, ou seja, um book com regras e dicas que abordavam apresentação pessoal, dicas para negociação de valores para os programas, alertas de segurança, discrição e etiqueta.
A coisa foi ficando tão seria que eu me sentia o tio da lancha, mas sem lancha... Mas tinha como piorar...O papel de mãe ou grande irmão foi pegando. Os clientes começaram também a fazer essa imagem de Eduardo White e davam devolutivas boas e ruins.
Como o caso do Senhor X, um dos clientes mais ricos que o grupo teve e que por dois meses saiu de forma continua com todos garotos. Cada garoto tinha um sábado com ele para um programa que durava de 10 a 14 horas. Com o tempo a intimidade...
Certa vez ele soube que Caio havia trancado a faculdade por falta de pagamento e se propôs a quitar a dívida do garoto.
-Você tem certeza?
-Edu, vá com ele renegociar a dívida pra mim.
-Ok, posso ir e conseguir um desconto.
-Não precisa, peça o valor e repasse, meu escritório vai renegociar com eles.
No papel de irmão mais velho fui com Caio no escritório da universidade, levantei o valor da dívida e agendamos o dia da negociação. Dias depois o Senhor X tinha liquidado todas contas de Caio, que dava pulos de alegria. Meses o Senhor X nos levou a passeio para Maceió.
Houve também Sergio, nosso cliente excêntrico em todos os sentidos. Corpulento, sempre muito faminto por junk food, colecionador de filmes pornôs com direito a uma DVDteca e falante, muito falante, com frases finais terminadas em falsete. Sua marca era sempre fechar a história com um gemido ou uma pergunta afirmativa.
- SE TA ENTENNNDENNNDO?!
Ele gostava muito de sair comigo e com Caio e sempre nos rendia elogios. Eu e Caio sempre riamos das histórias e das trapalhadas desse cliente. Como da vez em que ele raspou toda porta do carro no portão da suíte do motel.
Houve também nosso cliente diretor de escola infantil, que sempre pedia que fossemos vestidos como garotos, jeans, camiseta, tênis escolar, ou bermuda, meião com tênis, camiseta e mochila.
Um a um, ele foi pedindo programa em duplas, trios e quarteto. Quanto mais fisionomia de garoto mais ele se fissurava.
Outro cliente era um promotor de justiça que era nosso cliente fixo e “passivão”. Ele curtia duplas e trio, mas quando tentávamos fazer uma DP – dupla penetração, ele fazia o famoso “cu doce” e recusava, mesmo cabendo até três rolas.
-Ai, tira, tira, eu não aguento.
Daniel e Caio riam disfarçadamente. No carro, quando saíamos do programa riamos escrachadamente da situação. “- Largo e fala que não cabe, hahahaha”.
Mas havia também reclamações. Dessa vez Carlos, um cliente de Taubaté havia reclamado do atendimento do Daniel, que havia aceitado marcar um programa com dor de garganta, mas recusou beijar o cliente. E assim, além de me preocupar com meus programas eu tinha que ficar monitorando os programas do resto do grupo, muitas vezes alheia a minha vontade.
O quarteto caminhou bem por meses, até que conheci Felipe, um gp que havia iniciado há pouco tempo na cidade. De bom porte, alto, corpo normal, olhos castanhos e pequenos, corte militar e rosto másculo, fazia o estilo discreto e sério. Em uma conversa senti que o rapaz era confiável, falamos sobre estudos, objetivos de vida e finalizei dizendo que o encaixaria em um programa em dupla ou trio pra ver se rolava uma parceria.
As vezes as palavras atraem coisas, certa tarde Senhor X veio para um programa de quatro horas com Caio, o caçula dos garotos, mas por algum imprevisto ele não poderia ficar as quatro horas marcadas, então coube a mim resolver.
- Du, o Caio saiu daqui agora pouco...
- E como foi?
- Foi ótimo, ele é um anjinho, mas ainda tenho tempo aqui e queria algo mais...
- Agora de última hora nem eu e os garotos conseguem ir... Mas derrepente posso indicar alguém... Tem um rapaz que quero acrescentar no grupo, porém preciso testar.
Rapidamente Senhor X se interessou e pediu mais detalhes, apresentei o perfil e as características de Felipe, e em dez minutos fiz contato, o mesmo estava disponível, passei algumas orientações e a situação estava resolvida. Senhor X foi um dos clientes que amou sair com Felipe, tanto que apadrinhou todo o grupo.
Foi um período divertido, estressante e de grande aprendizado. Felizmente temos mais histórias para rir do que para se lamentar. Foi o período também em que senti o grande peso de ser corresponsável por pessoas, garotos que assim como eu haviam entrado na prostituição e começavam a ter boas oportunidades financeiras de conquistar pequenas coisas e objetivos a partir da boa teia de relacionamentos que formamos.
Em 2018 decidi fechar o site White Boys, a vida começava ganhar outros contornos e foquei em outros objetivos profissionais, mas ainda continuando como Eduardo. Mesmo sem o site WB os laços de amizade com Caio, Lucas, Daniel e Felipe continuaram. Com alguns mantive contato por rede social, como Daniel, que se assumiu como GP anunciando seu rosto em ensaios sensuais, storys com viagens e sua nova cidade, Florianópolis. Na contracorrente Caio largou o trabalho como GP e focou em outros objetivos; Já Lucas sumiu do nosso radar, fora apadrinhado por um cliente fixo do qual ficou exclusivo. Esse cliente era tão ciumento que o proibiu de estabelecer contato com outros garotos, principalmente comigo e o manteve ao estilo prisioneiro com tornozeleira eletrônica, e por fim Felipe, com estilo empreendedor ele cumpriu sua promessa, juntou um capital, parou com os programas e montou um negócio próprio. Costumava acompanhar ele por matérias de jornais locais. Se tornou um homem bonito e de sucesso.
E sobre o Senhor X? Bem, ele continua se divertindo, mas dessa vez no mundo dos aplicativos de pegação gay e provavelmente com novos garotos, carne fresca, faz parte do negócio. Mas o lado bom é que mantivemos uma amizade de carinho e respeito.
Ganhamos muito dinheiro, viagens, pequenos presentes e reconhecimento em nossa pequena bolha no mercado do sexo. Mas tudo passa. Eu como Eduardo continuei na mesma estrada, agora mais dividido e solitário, já que não posso dividir o meu EU DUPLO com nínguem. Pouco tempo depois, percebi que não tinha a mesma graça, o grupo de certa forma me fazia ter um clã de amigos e deixava a profissão como GP mais divertida e menos solitária.
Seja como for, cada um a seu modo, estava feliz por ter tido amigos num meio tão julgado e canibal...Infelizmente a pandemia não nos livrou do pior e nos trouxe uma grande perda
Continua...
O garoto errado
Eu, como "senhor X" deste relato, ou MILK, como me apresento habitualmente, realmente tenho boas recordações dos encontros realizados com o Lucas (carinhosamente por mim chamado como "Coelhinho" devido a sua performance na cama), Caio, o nosso mascote (que esteve comigo em Fortaleza e posteriormente em Maceió, junto com o Eduardo), o Felipe, uma pessoa agradabilíssima, e por fim, o Eduardo, grande empreendedor (meu conselheiro para assuntos de sexo, em me esclarecer alguns termos que lia, mas não sabia o que significava), que acabou se tornando um amigo e mantemos contato (já não mais profissional), mas de amizade mesmo até hoje.
ResponderExcluirOu seja, pessoas com quem formei um círculo de amizade e confiança mútua, e os tenho sob grande ADMIRAÇÃO e principalmente, RESPEITO, fizeram parte de um momento importante, diria mesmo marcante em minha vida, que guardo com muito carinho em minhas lembranças.
A todos vocês, desejo sucesso, conquistando seus sonhos, mas principalmente, muita saúde.
Grande abraço a vocês EDUARDO, LUCAS, CAIO e FELIPE.
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PS: Quero deixar aqui registrado também, o meu carinho pelo PACO (com que também estive por várias vezes) e que também conheci por intermédio do EDUARDO.
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Senhor X, ou MILK.