"A liberdade me ensinou e muito bem que nela se
concentra todo o prazer possível." [ Margarida, rainha de Navarra ]
Um pouco de ilusão não faz mal a ninguém, já diria o poeta.
Ocorre que cada vez mais as pessoas querem fugir da vida real para mergulhar de
cabeça numa falsa realidade, onde o êxtase induzido pelas mucosas toma o controle
da razão e sacrifica o corpo e os sentidos. Qual a graça em perder o controle
de si mesmo em prol de uma “vibe” que vicia e cria dependências químicas e
financeiras?
Para meninos e meninas que trabalham com o sexo essa é uma
realidade cada vez mais próxima de nós. As pessoas buscam cada vez mais ilusão
como fuga da realidade. Ignorar essa tendência é uma perda de uma considerável fatia
do mercado. Mas como lidar e não se corromper nessa sociedade “Fcloud?”
Em São Paulo é quase inevitável não sair pelo menos uma vez
por mês com clientes que curtem esses tipos de elixir psicodélicos, cocaína e
poppers são os preferidos. A mim é um tipo de prazer incompreensível, pelo
menos para sexo. Essa alteração de sentidos não me apetece. Aos passivos eles
dizem que o importado e proibido Poppers eleva o nível de relaxamento para a
penetração. Já para os chamados tekados que por entre mucosas absorvem gramas e
gramas de pó branco, afirmam que o nível de tesão atingi ápices, porém perde-se
totalmente a ereção e praticamente não se sente o prazer da ejaculação.
Pelo que observo esse prazer corrompido escraviza o corpo e
condena a alma. O resultado dessa equação é que não há um gozo final, o usuário
fica com um tesão permanente e com isso submete seu corpo cada vez mais aos
seus limites. E se por um acaso ele consegue milagrosamente gozar e finalizar
seu ato com uma ejaculação, minutos depois a necessidade de mais sexo volta por
um estimulo de libido induzido.
Recentemente atendi a dois clientes que curtem tekar (cocaína).
Um deles era Alex, um advogado no auge dos seus trinta e poucos anos, loiro,
corpo bonito e de estatura média. Transamos numa tarde qualquer. Ele cheirou,
colou-se de bruços sob minha cama e a meia luz do quarto foi um passivo
amortecido por uma vibe que somente ele poderia explicar. Contudo, posso dizer
que nem todos seus gemidos eram de prazer ao ser penetrado. Foi uma transa
tranquila, penetrei-o gostoso, bombei em várias posições mas Alex não teve o
prazer de uma gozada final. Ele apenas transpirou muito, tomou um banho,
vestiu-se e saiu do meu apartamento mais agitado quando chegou.
Leonel foi um cliente ativo, chegou em meu apartamento e
perguntou se eu curtia um teko. Declinei do convite mas disse que ele poderia
usar com alguma moderação, já que ele deseja ser o ativo da relação. Preparou
uma fina carreira sob minha nova bancada e com uma nota de cinquenta aspirou.
Pouco tempo depois estávamos na cama, ele me fudeu não mais que 20 minutos,
após isso seu pau caiu e a ereção oscilava muito. Ele tekou mais um pouco,
fumou cerca de seis cigarros enquanto conversamos sobre emprego, moradia, e
baladas, após 2 horas foi embora sem gozar.
Creio que todos prazeres são possíveis ao homem, não condeno
quem os utiliza, até experimentei alguns. É tão delicioso assistir o nascer do
sol tocado por uma brisa de maconha na praia ou confraternizar com amigos numa noite
em que estamos embriagados por Baco com um bom vinho tinto. Mas o mais
importante é saber escolher esses momentos e as pessoas com quem partilhamos
eles, seja dopado ou de cara limpa, o mais importante é NÃO fazer desse prazer fugaz
uma necessidade para encaramos a vida. Infelizmente há muitas pessoas que vive
como se Woodstock fosse o AGORA. Sinto dizer que Woodstock já acabou...
O garoto errado.
Não sei se esses seus dois clientes veem o mundo como se estivessem em Woodstock ainda. Talvez justamente por terem consciência do fim dele (que representava a esperança de um futuro livre e feliz para todos, onde seríamos sempre jovens e bonitos) é que precisam de um escape. Woodstock acabou, não há nada no lugar a não ser desesperança e prazeres fugazes (ou às vezes, nem isso, pois parece que nem o sexo não foi muito bom, não é?). Na verdade, todo prazer talvez seja sempre fugaz (há prazer permanente?), e acho que todos acabam de alguma forma entorpecidos ou embriagados, seja pelo vinho (meu caso às vezes), pelas drogas (incluídos os remédios), e até pela religião, no caso dos fanáticos... Altera-se o estado de consciência como alívio para encarar a vida, como você disse. No fim, o que o ser humano busca é um sentido para tudo isso (o que vem sendo feito desde os gregos, sem sucesso, infelizmente). Caramba, já filosofei demais por aqui, e olha que nem estou bêbado :-) Abraço forte, cara!
ResponderExcluirE´verdade sempre temos subterfúgios para nossas desilusões ...até o sexo é um válvula de escape muitas vezes ,
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