26 de abr. de 2014

O GOLPISTA DA PRAÇA ROSEEVELT

O tempo passa e a gente percebe que não gostou da pessoa e sim da imagem que fez dela sem perceber. [Vinícius Soares]

Sempre houveram muitas estórias sobre garotos de programa que se aproveitam de seus clientes para se dar bem. Nessas estórias os personagens são bem definidos. O mocinho é o cliente indefeso e ingênuo e o bandido é o garoto que utiliza sua beleza e pode de persuasão para enganar seu cliente. Nos enredos sempre haverá o garoto que extorquiu, o garoto que agrediu, o garoto que enganou, o garoto que matou... Seria possível a inversão de papéis? Afirmo que sim, mas se um de “nós” garotos de programa contássemos a você provavelmente não nos seria dado credibilidade alguma. Ainda sim, se não há vozes dos meus colegas que denuncie seus algozes seja por vergonha ou por medo de represálias eu não serei mais uma voz anulada.

Talvez não seja nessa década ou neste século que alguém irá admitir que contratou um profissional do sexo para satisfazer suas vontades. O mercado do sexo movimenta milhões por ano, diretamente ou indiretamente os profissionais do sexo são responsáveis pelo turismo em algumas capitais, por eventos de grande porte como parada gay, por trazer hospedes para redes hoteleiras, pelas novidades no mercado do sexo, pelos grandes sites que anunciam escortes, pelas casas de suingue, pelas saunas masculinas que se multiplicam a cada ano, pelos motéis temáticos, pelas produtoras de cinema pornô que vendem assinaturas online, entre outras infinidades de ramificações que ligam o sexo a outros produtos. Vivemos em tempos da nova Sodoma e Gomorra, onde o prazer é colocado em primeiro plano.

A quem escolhe viver deste mercado para pagar suas contas e ter um padrão de vida viável, cabe aceitar e saber lidar com a diversidade de uma forma geral. E como há farsantes em outras profissões, há também no mercado do sexo. Com o passar dos meses vivendo em São Paulo eu tenho aprendido muito sobre isso, são estórias e mais estórias, porém essa não foi alguém que me contou, eu vivenciei na pele e digo que foi revoltante...

Nelson tem entre 35 a 38 anos, estatura média, é branco, magro, tem olhos claros, barba cerrada, lábios finos, cabelos curtos e grisalhos e cerca de três tatuagens no corpo, sendo uma delas um tribal e outras duas letras em japonês. Um homem comum como tantos outros que caminha pelas multidões em São Paulo. Mas quem passa ao lado de Nelson não imagina sua capacidade de persuasão e premeditação para farsante. Talvez um psicopata em potencial, entretanto, isso só poderia ser afirmado com um estudo aprofundado sobre sua personalidade.

Conheci Nelson em abril de 2013, quando era um garoto anônimo, como tantos outros que vinha a São Paulo para temporadas. Sem noção de muitas situações que acorrem no mercado do sexo nas grandes capitais, fui abordado por Nelson enquanto anunciava em salas de bate papo. Amante incondicional de cocaína na época ele me contratou por um período de 3horas para ficarmos nus num quarto de hotel, punhetando, conversando, jogando baralho e consequentemente cheirando. Eu nunca havia experimentado cocaína, mesmo assim atraído pelo dinheiro eu topei o programa. Antes de me encontrar com Nelson conversei com um amigo de São Paulo que já estava mais habituado a esse perfil de cliente.

Eduardo, você não precisa  cheirar de verdade, cheira um pouco, só no início. Depois o cara vai ficar mais louco e não vai ter tanta atenção, ai você finge, joga fora sem ele ver, assopra... Qualquer problema me ligue. Disse meu amigo.

Mas Nelson era raposa velha. Ele mesmo preparava as carreiras e me oferecia na bandeja fiscalizando cada grão de pó aspirado. As horas foram passando e ele então prorrogou o programa para noite toda e assim viramos jogando baralho e cheirando, loucos. Em alguns momentos eu consegui despista-lo de assoprei uma ou duas carreiras, mesmo assim me senti contaminado ao fim da noite. Coração disparado, sono espantado, era como se uma nuvem de fumaça pairasse em minha cabeça. Contudo ele cumpriu sua palavra e me pagou o cachê prometido às 7h da manha em uma agência bancária.

De volta ao hotel eu tomei um banho quente e tentei dormir, mas não conseguia, uma agonia invadiu meu peito, milhões de pensamentos e arrependimentos. Eu quis chorar naquela manhã, mas as lagrimas não vinham, virava para um lado e para o outro naquele quarto de hotel, então olhando para o teto eu só sentia AGONIA, AGOnia, agonia...

e tudo escureceu...

Um ano depois...

Em São Paulo eu terminava de me arrumar para esperar um cliente. Da sacada do meu quarto eu podia ver o céu estrelado de uma noite quente, a Frei Caneca estava cheia de pessoas indo e vindo, bares abertos, musica rolando. O celular toca.

Alô, Eduardo?

Sim, é ele.

Oi, ta disponível hoje? É o Nelson.

Nelson?

Sim, a gente saiu uma vez, ficamos uma noite conversando, jogando baralho, tekando... Lembra?
Em flash back algumas imagens voltaram, jogos de baralhos, conversas, pó... Sim! Me lembro... Tudo bem com você?

Sim, ta disponível agora?

Não estou. Tenho compromisso marcado. O relógio marcava 21h45.

É cliente?

Sim, terei um cliente para daqui a pouco.

Tem como você vir aqui no Savoy na Augusta? Eu to num quarto aqui e queria aquele mesmo lance.

Não posso. Já está marcado e ficarei livre somente após 23h30.

Quanto ele vai te pagar? Eu cubro... Insistiu Nelson.

Não funciona assim cara. Eu já marquei, não posso furar.

Eu te ligo então as 23h30.

Ok... Desligou.

Ao desligar o celular eu fiquei me perguntando muitas coisas. Nunca imaginei esbarrar com Nelson novamente. Depois de um ano ele ainda continuava na mesma. Pagando bem... pensei. Mas será que toparia esse tipo de programa novamente?

Eu teria que analisar... Na época eu não tinha noção dos efeitos de cheirar cocaína e também não sabia quantidades, como simular que cheirava. Enfim... Decidi que receberia meu cliente com calma e depois resolveria isso.

Após o encontro com meu cliente eu verifiquei e haviam três chamadas de Nelson em meu celular. Decidi não retornar e ir tomar banho, um amigo boy também de São José que agora morava em meu prédio fazia aniversário e resolvi ir a sua festa com outro amigo de trabalho. Ao chegar no apartamento do meu amigo conheci seu irmão gêmeo e logo pensei. “ Que louco ser garoto de programa e ter um irmão gêmeo na mesma cidade”... Fui apresentado para algumas pessoas da festa e logo ficamos na cozinha conversando e comendo petiscos.

Logo o celular começa a tocar insistentemente, mesmo no vibra as ligações de Nelson se repetiam, até que mostrei para meu amigo e resolvi atender.

Oi, você ta onde?

Fiquei livre só agora...

Você vai vir? Estou aqui no Savoy te esperando.

Movido pelo impulso de ganancia e burrice eu respondi SIM...

Me julgando mais experiente marquei o encontro para cerca de 30 minutos mais tarde. Me despedi do meu amigo e subi a rua Augusta ao encontro de Nelson. Com o número do quarto anotado, cheguei a recepção, informei meu nome, deixei meu documento e subi rumo ao quarto 405.

Um emaranhado de escadas e corredores até que avistei Nelson de porta aberta e nu a minha espera. Ao entrar no quarto notei que havia um outro rapaz, mulato, magro, punhetando o pau já mucho. Nos cumprimentamos enquanto eu me despia.

Isso, já chega tirando a roupa e junte-se a nós. Preparei uma carreira especial para você. Disse Nelson agitado e entusiasmado.

Totalmente nu, peguei a nota de 50 enrolada sobre a bandeja improvisada e aspirei um pouco da carreira que estava pronta. Prometi a mim mesmo dessa vez que me controlaria e iria dosando cada passo para não exagerar e me deixar levar pelas vontades de meu cliente.

Sentado no sofá ficamos os três conversando e cada um punhetando a si mesmo. Não me recordo o nome do outro rapaz, mas lembro-me que ele é professor na rede estadual, é amigo de Nelson e curtia a mesma pegada que ele, cheirar e punhetar.

E você, trabalha com o que? Perguntou o rapaz. No mesmo instante olhei para Nelson que fez um sinal para eu não contar que era gp a ele.

Trabalho com designer de mídia... respondi

A partir daí construí uma história sem grandes nuances apenas para satisfazer a curiosidade do rapaz. Simpático ele me contou que ele, Nelson e outros colegas haviam se reunido no apartamento de um outro cara que certa vez promoveu um encontro assim com seis caras, onde todos ficaram se masturbando, cheirando e conversando. Logo fomos interrompido por um telefonema da recepção avisando que o período do quarto havia acabado. Nelson prontamente renovou o período. Em seguida o rapaz comunicou que iria embora pois seu irmão chegaria de viagem as 18h e ele queria estar mais sóbrio para que não percebessem ele “chapado”. Logo ficamos eu e Nelson no quarto e entre um papo e outro notei que ele mexia em seu celular, caçando nos aplicativos.

Encontrei um cara que curte a mesma parada que eu aqui no Scruff. Ele disse que ta a fim de vir para cá.

Bacana, mas ele ta perto? Perguntei.

Disse que ta no Ipiranga e chega em 30 minutos.

E você vai querer que eu fique a noite toda? Aproveitei para tocar no assunto grana e tentar me garantir de alguma forma. Por mim eu não ficaria a noite toda, visto que ele estava convocando mais pessoas pelo celular.

Quero sim! Acertamos no final da noite como fizemos da última vez. Tudo bem?

Ok, Pode ser... Apesar de eu não gostar muito da ideia eu considerei que ele havia pago certo na ocasião anterior e não vi problemas receber no final.

Instantes depois o rapaz do scruff chegou ao quarto, tratava-se de um médico de meia idade, corpo bem conservado e atlético, branco, cabelos curtos, rosto quadrado e bem desenhado, baba aparada e aliança no dedo.

Você é casado? Foi a primeira pergunta do Anfitrião Nelson.

Sim, eu e meu marido curtimos numa boa essas paradas, mas ele estava cansado demais e disse para eu vir sozinho... completou.

Peladão o médico tinha um sorriso tenso, mesmo assim ele era muito atraente e sacana, trouxe seu kit particular em uma sacola, um consolo de borracha com cerca de 24cm grosso, um alargador de ano, um tipo de anel grosso que você encaixa no anus de forma que ele fique aberto permanentemente e um anel para o saco escrotal, onde você o utiliza para comprimir os testículos.

Antes de começar a orgia com seus brinquedinhos ele foi para a mesa e aspirou duas carreiras de pó. Nelson aproveitou para me empurrar mais uma, porém eu tirei uma parte da carreira utilizando seu cartão de crédito que estava na bandeja.

Quando cheiro fico com muita vontade de chupar um pau. Querem que eu chupe vocês? Disse o médico
Eu quero! Respondi querendo experimentar o belo homem. Assim, ele caiu de boca em meu pau e mamou por um bom tempo. Mas sua chupada era muito ruim, não colocava o pau inteiro na boca, não chupava com vontade, mais puxava e repuxava a pele do prepúcio se julgando o mamador, parecia uma maquina dopada de pó que fazia sexo por inércia. O que salvava era que ele realmente era gostoso, e só tinha cu para dar, de resto ele não fazia nada. Não tocava, no beijava, não lambia... absolutamente NADA.

Enquanto o médico me chupava mal pra cacete Nelson resolveu brincar na bunda do rapaz, começou metendo os dedos e logo depois o consolo imenso, porém o mastro emborrachado de 24cm fazia apenas uma cócegas e não saciava o médico passivão. Eu fiquei com vontade de comer ele, mas como Nelson ficou insistido para eu cheirar outra carreira meu pau acabou caindo broxado e não adiantaria eu ficar me esforçando, nem com reza brava ia.

Olha, se quiserem pedir algo podem pedir que eu faço. Disse o Doctor Gay. Como se fossemos fazê-lo dele um escravo submisso.

Passado algum tempo o médico sugeriu a Nelson chamar outro rapaz para completar a brincadeira, ele estava louco para ser penetrado. A certo ponto sugeriu chamar um garoto de programa. Nelson então sinalizou para eu não falar que era GP. Como se eu não houvesse percebido. Nesse instante o médico começou a buscar nos aplicativos de celular garotos pelas imediações, assim que percebi peguei meu celular e acessei meus aplicativos para ficar off line para que ele não visse meu perfil.

Olha, tem esse aqui! Ele fode muito e já vende pó também, poderíamos marcar com ele e pedir para ele trazer. Disse ele a Nelson.

Mas você conhece o cara? Questionou Nelson.

Sim, já marquei com ele uma vez. Ele chega arrepiando. Animou-se o Médico. Enquanto cheirava mais duas carreiras grossas.

Bom, onde eu posso esconder minhas coisas? Por que chamar gp e deixar tudo a mostra é complicado. Dizia ele olhando para os cantos do quarto, até que resolveu por seu tênis e sua carteira no entre um relevo de gesso e o teto do quarto.

De certa forma era interessante ver como se comportava aquele rapaz. O tesão em apelar para um garoto de programa era tanto que ele mesmo com medo de ser roubado arriscava-se em prol de sua tara. Depois de um tempo Nelson acabou convencendo ele a não chamar o boy propondo um outro cara que encontrou nos aplicativos. Tratava-se de um moreno pauzudo que também curtia cheirar e topava ir até o hotel. Enquanto conversavam para acertar a ida do cara até lá o rapaz da recepção ligou avisando que o período do quarto havia vencido. Nelson prontamente prorrogou mais um período de três horas.

Depois de um bom tempo o outro rapaz chegou, acanhado ele entrou no quarto e já deu de cara com nós três peladões. Alto, moreno, corpo legal e pauzudo ele despiu-se e ficou sentado no braço do sofá ao meu lado. Notou que dos três eu era o mais tranquilo e logo cheirou uma carreira preparada por Nelson. Durante o papo ele disse que trabalhava na área de saúde como infectologista, algo relacionado á área. Nelson falou pouco de si de abriu que além de professor na área de MKT também ministravas aulas na área de musica, acredito que ministra aulas de piano.

Como o moreno havia cheirado apenas um pouco seu pau estava com uma ereção legal, então ele encapou o bichão e colocou o Doctor Gay de quatro e meteu seu mastro todo no rabo do cara, bombou forte e pesado no rabão do doctor, que gemeu de prazer e aproveitou para cheirar mais enquanto levava pica. O doctor era tão safado que pedia a Nelson para colocar pó na porta de seu cuzão largo para o moreno meter nele e ele sentir o pó pelas mucosas do anus. Desacreditei...

Assistindo o cara meter eu fiquei com muito tesão e como já fazia um bom tempo desde a última carreira meu pau acordou, encampei o rapaz e também partir para cima do médico, que aguentou as duas picas e ainda pedia mais.

Depois de uns 20 minutos metendo no doctor eu o morenão ficamos largados na cama. Nesse instante ele aproveitou para me acariciar deslizando suas mãos por minha barriga, pernas, passando também em minha bunda.

Você curte dar também? Perguntou enquanto Nelson e o médico cheiravam feito loucos na mesa de vidro que havia no quarto.

Sim, dou mas to de boa hoje... respondi sorrindo de lado.

Embora o moreno curtisse pó, felizmente consumia pouco e por ter sinusite ele colocava pó nas gengivas superiores, por ser mucosas facilitava a absorção, assim como no anus. Depois de um tempo deitados demos uns pegas, ele tinha um corpo gostoso e beijo também, mas o gosto da cocaína ficou impregnado em sua boca por ele colocar na gengiva, então parei de beijar pois mesmo não cheirando eu estava absorvendo parte do pó pelo beijo do morenão, sem contar que era um gosto ruim.

Novamente o rapaz da recepção ligou avisando sobre o fim do período e Nelson correu ao telefone para prorrogar, mas dessa vez o hotel não aceitou e exigiu que a fatura fosse paga para que todos ficassem no quarto.

Minutos depois o rapaz da recepção veio ao quarto com a fatura gasta e a maquina de cartão. Nelson o recebeu por aquele tipo de janela onde colocam toalhas e outras coisas sem precisar entrar no quarto. Assim que viu a fatura levou um susto. Puts! R$ 627,50...?

Nossa, tudo isso? Mas você não fechou pernoite aqui? Perguntou o médico.

Não, fechei período mas eu não sabia que era tudo isso... Respondeu.

E ficaram os três tentando entender a fatura absurda cobra pelo motel. Observando deitado no cama os três tentando entender a fatura, me levantei e pedi para olhar. Enquanto isso Nelson que é uma raposa velha indagou o Doctor Gay.

Eu não trouxe meu cartão de crédito. Tem como você pagar pra mim? Eu acerto com você.

Doctor Gay queria ser fudido e não questionou, simplesmente passou seu cartão de crédito e bancou a conta do motel toda. Porém, Nelson havia mentido, ele não só trouxe um cartão de crédito em seu nome, como esse era do banco HSBC e o estava utilizando para separar carreiras e mais carreiras de pó para sua bancarrota.

A madrugada foi passando, cheguei a cobrar Nelson por duas vezes para ele acertar comigo e ele por sua vez sempre prorrogando para eu ficar mais, dando garantias que acertaria no fim da noite. Eu deveria ter ido embora, mas resolvi dar crédito a Nelson e acabei ficando, porém como os três ficaram curtindo, cheirando e resolvi ficar mais de observador, cheguei até cochilar e quando acordei notei que o dia clareou com os três cheirando, o morenão meia bomba sendo chupado pelo médico e Nelson fistando-o com uma das mãos.

Eu já não tinha mais energia para nada, quando finalmente os papelotes do clube do bolinha acabou por completo eles resolveram ir embora, nos vestimos, demos uma ajeitada no quarto, o médico e o moreno despediram-se e saíram primeiro, em seguida sai com Nelson que disse que iríamos ao caixa eletrônico.
Na recepção do hotel ainda constava pendências de água, gel, refrigerante, entre outras coisas. Nelson passou o cartão duas vezes e o mesmo foi recusado, então pagou com dinheiro e ainda sim faltava R$12,50.
Para não ficarmos no impasse de como resolver isso presos no motel eu abri minha carteira e paguei, saímos então rumo ao caixa eletrônico. Descemos a rua Augusta trocando algumas palavras.

O que você acha de ganhar um pouco mais e irmos para seu apartamento curtir por lá um pouco mais? Sugeriu o cara de pau.

Não, deixa para uma próxima, estou cansado e quero dormir um pouco.

Vamos ter que passar em casa para eu pegar meu outro cartão, tenho dinheiro nele. Disse Nelson.

Quase no fim da Augusta viramos e subimos em direção a praça Roosevelt no prédio número 68.

Você vai descer de volta? Perguntei já descrente de toda situação que se mostrava.

Claro, cinco minutos e desço. Disse o infeliz.

Os minutos passaram e nada, olhei para o movimento da praça ainda calma, alguns cachorros passeando com seus donos, idosos indo ao mercado... O céu ainda estava cinza. Eis então que desce uma senhora pequena, bem vestida e perfumada.

Bom dia. Disse ela saindo da portaria e fechando o portão que dava acesso para calçada.

Bom dia.

Bom dia.

Você ta esperando alguém?

Sim, estou.

Quem?...

Nesse instante me senti irritado com a pergunta e com a curiosidade daquela senhora, mesmo assim tranquilamente respondi.

Espero o Nelson.

Eu sou mãe dele. Você pode vir aqui no canto?

Caminhamos para o canto da calçada. 

Quanto ele ta te devendo? Perguntou a senhora sem cerimônia. 

Nesse instante percebi que a situação realmente era delicada. Encabulado eu omiti a verdade.

Ele me deve, mas é uma quantia de valor baixo. A senhora pode ficar tranquila.

Olha, eu não aguento mais isso. O Nelson pega toda a pensão que o pai dele deixou para mim e gasta. Ele me deixa sem dinheiro para comprar remédios... Pega toda minha pensão sai e volta só no outro dia. Eu já pensei em por a polícia atrás dele, mas ele é tão rápido que não o vejo sair de casa. Disse

Bom, eu realmente não sabia disso. Vim aqui acompanhando ele para pegar um dinheiro que ele ficou de me passar.

Quanto ele deve a você? Pode falar. Disse aquela senhora de olhar triste de desolado...

Não precisa se preocupar... Respondi a ela

Olha lá, ele já está me olhando da janela e depois vai brigar comigo por que conversei com você. Bom, eu vou indo. Saiu ela rapidamente.

Olhei para cima e Nelson saiu rapidamente da janela.

Realmente essa era uma situação a qual nunca esperei passar, era revoltante saber que praticamente levei um golpe sem ter feito nada para isso, apenas por ter acreditado na palavra de uma pessoa que simplesmente se aproveita da boa fé dos outros. Mais triste ainda era perceber que essa pessoa não respeitava nem quem o colocou no mundo e a ele dedicou todo seu amor.

A mascara de Nelson caiu naquele instante, quanto a mim ficaria no prejuízo como a situação de mostrava. Ainda insisti e pedi para o porteiro ligar no apartamento de Nelson.

Ele pediu para você olhar para cima, ele ta na janela. Disse o porteiro.

Com os olhos vermelhos e pálido ele jogou uma sacola pela janela que caiu lentamente. Peguei o embrulho e abri, havia um bilhete que dizia: POR FAVOR, PASSE AQUI 15 – 16H. MINHA MÃE PEGOU O DINHEIRO. PRECIO BAIXAR PARA PODER TER PAGAR. DESCULPA. MAS NESSE HORÁRIO VAI ESTAR AQUI!

Olhei para cima e ele fez um sinal pedindo desculpas. Sem ter o que fazer eu sai caminhando ainda estarrecido com a situação. Eu sabia que não veria a cor do dinheiro. Infelizmente eu levei um golpe, se ele não respeitava nem a mãe, privando-a de remédios e sabe-se lá o que mais, quem dirá um garoto de programa.

Bem feito! Fica como lição para nunca mais cair numa dessas! Disse minha consciência.

De volta em casa eu tomei um café da manhã reforçado e resolvi tentar dormir. Deitado eu olhava novamente para o teto, como a um ano atrás; Felizmente eu não sai daquela noitada dopado por drogas e tampouco angustiado com um aperto no peito. O sentimento era apenas de descrença e revolta. Muitas pessoas acreditam que uma pessoa por ser garoto de programa não tem caráter ou sempre age de má fé com seu próximo, essas pessoas preconceituosas geralmente colocam-se num patamar de ética e caráter, como se o titulo de GP não fosse digno para isso.

Mas o fato é que caráter não escolhe embalagem, com é o caso de Nelson, quem o olha dando aulas de música ou no dia a dia não imagina que aquele projeto de homem é um golpista e seu golpe maior não é enganar garotos de programa, seu golpe maior é enganar quem dedica a ele todo seu amor. Saindo dos meus pensamentos eu estava de volta olhando o teto, mas desta vez era o teto do meu apartamento, o qual sustento com meu trabalho como garoto de programa, sem roubar ou me aproveitar de ninguém, afinal, caráter não escolhe embalagem.

Dias depois, investigando com outros colegas de profissão, descobri que Nelson aplicou o mesmo golpe em pelo menos sete garotos, mas somente dois deles eu tenho certeza. De todo modo nada como viver um dia após o outro e a única paz que todos nós temos no caos da vida é poder dormir em paz, mas nem todos conseguem.

Enfim,  virei para o lado e adormeci o sono dos justos...


O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com



10 de abr. de 2014

PARAÍSOS TROPICAIS & PRAZERES CORROMPIDOS

"A liberdade me ensinou e muito bem que nela se concentra todo o prazer possível." [ Margarida, rainha de Navarra ]

Um pouco de ilusão não faz mal a ninguém, já diria o poeta. Ocorre que cada vez mais as pessoas querem fugir da vida real para mergulhar de cabeça numa falsa realidade, onde o êxtase induzido pelas mucosas toma o controle da razão e sacrifica o corpo e os sentidos. Qual a graça em perder o controle de si mesmo em prol de uma “vibe” que vicia e cria dependências químicas e financeiras?

Para meninos e meninas que trabalham com o sexo essa é uma realidade cada vez mais próxima de nós. As pessoas buscam cada vez mais ilusão como fuga da realidade. Ignorar essa tendência é uma perda de uma considerável fatia do mercado. Mas como lidar e não se corromper nessa sociedade “Fcloud?”
Em São Paulo é quase inevitável não sair pelo menos uma vez por mês com clientes que curtem esses tipos de elixir psicodélicos, cocaína e poppers são os preferidos. A mim é um tipo de prazer incompreensível, pelo menos para sexo. Essa alteração de sentidos não me apetece. Aos passivos eles dizem que o importado e proibido Poppers eleva o nível de relaxamento para a penetração. Já para os chamados tekados que por entre mucosas absorvem gramas e gramas de pó branco, afirmam que o nível de tesão atingi ápices, porém perde-se totalmente a ereção e praticamente não se sente o prazer da ejaculação.

Pelo que observo esse prazer corrompido escraviza o corpo e condena a alma. O resultado dessa equação é que não há um gozo final, o usuário fica com um tesão permanente e com isso submete seu corpo cada vez mais aos seus limites. E se por um acaso ele consegue milagrosamente gozar e finalizar seu ato com uma ejaculação, minutos depois a necessidade de mais sexo volta por um estimulo de libido induzido.

Recentemente atendi a dois clientes que curtem tekar (cocaína). Um deles era Alex, um advogado no auge dos seus trinta e poucos anos, loiro, corpo bonito e de estatura média. Transamos numa tarde qualquer. Ele cheirou, colou-se de bruços sob minha cama e a meia luz do quarto foi um passivo amortecido por uma vibe que somente ele poderia explicar. Contudo, posso dizer que nem todos seus gemidos eram de prazer ao ser penetrado. Foi uma transa tranquila, penetrei-o gostoso, bombei em várias posições mas Alex não teve o prazer de uma gozada final. Ele apenas transpirou muito, tomou um banho, vestiu-se e saiu do meu apartamento mais agitado quando chegou.

Leonel foi um cliente ativo, chegou em meu apartamento e perguntou se eu curtia um teko. Declinei do convite mas disse que ele poderia usar com alguma moderação, já que ele deseja ser o ativo da relação. Preparou uma fina carreira sob minha nova bancada e com uma nota de cinquenta aspirou. Pouco tempo depois estávamos na cama, ele me fudeu não mais que 20 minutos, após isso seu pau caiu e a ereção oscilava muito. Ele tekou mais um pouco, fumou cerca de seis cigarros enquanto conversamos sobre emprego, moradia, e baladas, após 2 horas foi embora sem gozar.

Creio que todos prazeres são possíveis ao homem, não condeno quem os utiliza, até experimentei alguns. É tão delicioso assistir o nascer do sol tocado por uma brisa de maconha na praia ou confraternizar com amigos numa noite em que estamos embriagados por Baco com um bom vinho tinto. Mas o mais importante é saber escolher esses momentos e as pessoas com quem partilhamos eles, seja dopado ou de cara limpa, o mais importante é NÃO fazer desse prazer fugaz uma necessidade para encaramos a vida. Infelizmente há muitas pessoas que vive como se Woodstock fosse o AGORA. Sinto dizer que Woodstock já acabou...



O garoto errado.