One Day. I found a big book buried deep into
the ground. I opened it, but all the pagens were blank. Then to my surprise, it
started writing it self… [ Bjork – música Bachelorette Lyrics]
Ao
abrir os olhos com a visão ainda turva o relógio no celular marcava 11h. Nova
mensagem:
Bom
dia Eduardo. Gostei muito de você. Se você for ficar hoje em São Paulo me
avise. Quero marcar a noite. Um abraço. Frederico.
O
dia amanheceu sem que tivesse acabado...Era a sensação que eu tinha. Da janela do
hotel eu observava a vida que passava lá fora... gente subindo, gente
descendo... gente. Enviei um sms para David, mas como ele não respondeu deduzi
que estivesse dormindo. Tomei uma ducha, me arrumei, deixei as chaves do quarto na
recepção do hotel e sai para comer algo. Era sábado e a expectativa de novo ainda pairava
no ar. São Paulo impregnava
outro ritmo com pessoas diferentes umas das outras a todo instante. A região onde eu estava hospedado
era de certa forma badalada, com o shopping Frei Caneca a um quarteirão e baladas na porta do hotel acabava sendo um convite ao flerte por quase 24h
ininterruptas. Após um almoço solitário decidi comprar duas camisas, pois
havia levado poucas roupas.
As
horas passavam depressa demais, de volta ao hotel descansei um pouco no quarto e as 19h, já
estava de banho tomado, perfumado e pronto para mais uma noite de trabalho.
Enviei sms a Bruno mas ele não respondeu, deduzi que estava ainda dormindo.
Segui para lan-house, escolhi uma cabine privativa e fui a caça de clientes.
Entrei com o nick Boy Interior e fiz alguns anúncios, logo apareceram
curiosos, até que...
Homem
quer tekar: Oi, você curte tekar?
Parado
diante da tela por alguns segundos me veio o papo que tive com David e suas palavras.
Edu,
tekar é cheirar pó. Há muitos caras que só querem cia e pagam bem para isso...
Por
que não? Pensei... E logo digitei. SIM, eu curto.
Homem
quer tekar: Eu não quero transar, não quero sexo... Quero cia para punhetar,
conversar, jogar baralho e tekar. Quanto você me cobraria por 4h?
Considerando
que não haveria sexo sugeri a quantia de R$300,00.
Homem
quer tekar: Mas você curte mesmo? Consegue pegar com alguém. Quanto é?
Boy
interior: Tenho um brother que pega. Me da um minuto, vou ligar para ele.
Com
agilidade nos dedos disquei para David que logo atendeu.
E
ai cara, até que enfim... Olha só, to aqui na lan, tem um cara no chat que quer
cia para tekar mas ta sem pó. Você tem algo ai?
Quem
é o cara? Tenho dois pacotinhos Quanto
ele quer?
Vou
perguntar... Com David no celular e o cliente no chat passei os valores, fechamos o
programa e marquei para dali 20 minutos.
Fechei com meu amigo e logo segui para o hotel, sai da lan house um pouco apreensivo e com medo do que poderia acontecer. Chegando ao quarto de David ele me
orientou.
E
ai Boy, as paradas estão em cima da cama. Seguinte, você vai dar conta? Você não usa
essas paradas. Por sorte experimentamos ontem hein...
Realmente eu não curto. A primeira vez que experimentei foi ontem e fiquei de boa. Vou devagar. Mas eu disse a ele que curtia. Respondi.
É, até estranhei, vamos ver hoje. Essa
é da boa, vai com calma, deixa o cara cheirar mais que você. Se não aguentar
diga a ele e não força... Ou então em vez de aspirar para dentro você joga fora
sem ele ver. Disse Bruno.
Vou
tentar. Vamos ver no que dá...
Eu
to indo atender um cara mas volto logo. Quando chegar te ligo. Deixarei meu cel ligado também,
qualquer coisa você me liga. Acompanhei David até a porta do hotel e fiquei parado
por lá a espera do meu cliente. Pessoas subindo e descendo a rua, eram 19h e os
bares e casas noturnas começavam a abrir.
Em
frente ao hotel esperei por alguns minutos, até que um cara branco, cabelos um
pouco grisalhos, olhos claro aparentando cerca de 36 anos passou flertando
comigo, observei-o até que ele desceu uma parte da rua, atravessou e voltou
refazendo seu trajeto, desse vez olhando para mim. Deduzi que fosse meu
cliente.
Eduardo?
Sim,
você é o Gomes né? Vamos subir?
Vamos.
Nos
dirigimos a recepção do hotel, paguei R$20,00 para liberar a subida de Gomes,
ele por sua vez apresentou um documento com foto e assim fomos liberados. Chegamos
ao quarto em que estava hospedado. Trata-se de um quarto simples com cama de
casal, ventilador, tv e WC privativo. Em frente a cama havia um grande espelho
com uma bancada para colocar objetos pessoais como, carteira, maquiagens ou
outros pertences. Mostrei a ele os papelotes como o combinado e os deixei em
cima da bancada.
Aqui
está a grana, confere ai. Disse Gomes me entregando o dinheiro do cachê e do
pó.
Conferi a grana e guardei-a na cômoda do quarto. Enquanto Gomes tirava suas roupas ficando
totalmente nu, fiz o mesmo. Logo em seguida ele abriu um dos papelotes e fez
uma carreira para cada um aspirar. Por algum lapso de segundo pensei se aquilo
daria certo.
Gomes aspirou e me concedeu a vez. Olhei a fina carreira por alguns segundos,
inclinei meu corpo sobre a bancada, coloquei uma das pontas do canudo no nariz e
a outra no inicio da carreira... E aspirei toda a extensão do pó até o fim. A
sensação inicial era de um pó compacto preso no nariz, como se ele estivesse
sujo enquanto o resto ficou aparentemente tudo normal.
Gomes pegou um dos travesseiros e sentou-se no chão, pediu para eu fazer o mesmo a
fim de punhetarmos e conversarmos. Meu pau ficou muito duro e pulsando enquanto eu batia. Gomes perguntou se eu estava com tesão e disse que sim... Falamos sobre São Paulo, sobre os boys de programa da
cidade e de como as coisas rolam por lá. Durante nossa conversa ficamos nos
punhetando o tempo todo. O fetiche de Gomes era ficar assim, peladões num quarto
punhetando e trocando ideia. Gomes me contou sobre alguns boys que conhecia, falamos
sobre carreira profissional, viagens que já fizemos, entre outros assuntos.
E
seu amigo que arrumou o pó, ele ta onde?
O David foi atender um cliente e deve estar chegando aqui no hotel.
Aé?
Liga para ele e veja se ele topa passar aqui para ficar um tempo com a gente.
Eu pago!
Peguei o celular e liguei para David que atendeu e disse estar a caminho.
Expliquei a situação a ele que disse topava mas não ia ficar por muito tempo, pois
estava cansado.
Ele
já esta vindo! Avisei.
Ótimo, vamos preparar uma carreira para ele. Ele chegando a
primeira coisa é tirar a roupa cheirar e punhetar também.
Logo David chegou e Gomes pediu que ele tirasse suas roupas, cheirasse sua carreira
e se juntasse a nós. O trio estava formado e ficamos um tempo jogando conversa
fora. Gomes disse que já havia conversado com David antes mas nunca havia
feito programa com ele.
Esse
pó é o pó da punheta hein! Muito bom! Disse Gomes mais de uma vez.
Sim,
esse cara com quem eu pego é garantido. Sempre me passa do bom. Respondeu David
É que este que peguei já está acabando. Será que você consegue pegar mais dois
com ele?
Mais
dois? Você vai aguentar? Perguntei.
Sim,
ta tão bom aqui... Queria continuar... Disse Gomes.
O
relógio já marcava 23h, exatas 4h acordadas com Gomes.
Mas
não se preocupe, eu irei lhe pagar as horas adicionais. Você topa? Indagou Gomes
Bom,
galera, eu posso ligar para o cara e pedir, mas chegando a parada eu irei
para meu quarto. Eu estou cansado, já atendi hoje. Disse David.
Tudo
bem, você já tinha avisado. Eduardo, te pago mais 500 para ficarmos até
6 horas. Ok?
Eram
23h, eu poderia ter parado o programa ali. Mas o que faria depois? Tentar outro
cliente num sábado a noite na cabine de uma lan? Considerando que eu ainda
estaria sobre efeito de cocaina. Até o momento eu não sentia nada; estava um
pouco mais agitado, mas as faculdade mentais estavam em ordem, porém,
provavelmente eu não faria outro cliente naquela noite, pelo simples fato
de estar sem ereção. O pó costuma dar um tesão legal, mas depois de um tempo o
pau não sobe, fica mole.
Ok.
Aceito! Respondi
David então ligou para seu contato, passou o preço
para Gomes que acatou prontamente.
Cara,
você tem essa grana ai com você? Pois só nessa brincadeira já foi uma boa quantia.
Alertei. Me achei louco em falar isso para Nelson, mas eu não queria surpresas desagradáveis.
Ele torrando toda a grana além da conta e depois me deixando na mão.
Relaxa
Edu, tenho sim. Só que sua grana nós vamos sacar no caixa pela manhã, pois eu
não trouxe tudo comigo. Ok?
Tudo
bem, tem caixas aqui perto.
Enquanto
o contato de David trazia a encomenda, Gomes pegou dois jogos de baralho para que jogássemos.
Vocês
sabem jogar algum jogo?
Eu
não. Respondi
Eu
não curto baralho, mas topo jogar um pouco. Disse David
Bom,
vou ensinar a vocês como jogar “trinca” ou “Cacheta”, como alguns chamam – Cada
jogador receberá 9 cartas. O objetivo do jogador a principio é colocar as
cartas em sequencia montando pares com 3 cartas ou mais, do mesmo naipe, ordenadas em sequência
numérica ou três ou mais cartas do mesmo valor, independente do naipe (trinca).
No decorrer da partida podem-se acrescentar mais cartas ao jogo pegando-as do
monte. Ok?
Gomes nos mostrou alguns exemplos e a partir dali
começamos a jogar. Algumas partidas e meu celular toca. Era o contato de Bruno
que já estava em frente ao hotel. Bruno desceu e como combinado subiu para o
quarto com mais dois papelotes. Nelson preparou mais algumas carreiras, todos
cheiramos. Por vezes tentei identificar algum sinal em meu modo de agir ou
fisicamente. Mas o que constatei era a falta de sono e um agito permanente.
Ficamos por bastante tempo jogando baralho.
Hey galera, eu vou indo nessa. Disse David
Quanto lhe devo cara? Perguntou Gomes. Bruno lhe
passou um valor e ambos acertaram.
Hey Eduardo, vou me deitar e tentar dormir,
qualquer coisa só me dar um toque. Beleza?
Tranquilo cara... Nos olhamos com alguma
cumplicidade. David sabia que eu não era chegado em pó e outros entorpecentes e
estava preocupado no risco de exageros da minha parte. Mas eu estava tranquilo
e realmente aceitei por conta da grana.
Sozinhos eu e Gomes continuamos a jogar baralho.
Ele me ensinou pelo menos mais quatro jogos dos quais não me recordo os nomes,
apenas a maneira como jogar. Um deles bem estimulante, onde num tipo de bancada
ambos ficávamos em pé com um monte de cartas nas mãos e cada um ia jogando uma
carta na bancada falando uma sequencia de 1 a 10 e de letras J Q K – Caso alguém
jogasse uma carta e falasse seu número ou letra igual ao da carta tinha que
bater a mão sobre ela, fazendo o adversário comprar todo o monte embaixo da
mão. Se meu adversário batesse a mão no monte antes de mim eu quem compraria o
monte de cartas.
Ficamos um bom tempo nesse jogo, ganhei várias partidas de Gomes e fiquei comemorando igual a criança. Ele começou a
se cansar. Mas como eu estava sem sono eu ia adiante. A cada rodada
Nelson fazia mais e mais carreiras. Porém, eu já estava querendo parar de
cheirar, pois comecei a sentir meu corpo tremer, ainda que timidamente. Eu não
sabia identificar se por conta do frio ou por conta do pó, pois eu e Gomes ficamos pelados o tempo inteiro no quarto com ventilador ligado.
As horas passavam madrugada adentro, eu e Gomes amanhecemos jogando baralho e conversando. Entre uma carreira e outra, sem Gomes perceber passei a não cheirar todas, em algumas carreiras eu fingia. Enquanto Nelson se distraia eu o observava pelo espelho na bancada e aproveitava para limpar a carreira com a mão enquanto fingia cheirar... Já estava exausto e tremendo um pouco.
Você curte pó a muito tempo? Perguntei
Faz um ano, mas não curto durante a semana, apenas aos finais de semana pois gosto de dormir e descansar.
Mas você notou alguma alteração? Você perdeu muito
peso ou teve algum problema. Insisti
Bom, eu emagreci bastante. Mas quando fico um bom tempo sem usar eu costumo engordar.
Entendi...
Seu amigo David não aguentaria ficar aqui a noite toda
como você aguentou, ainda mais cheirando.
Ele estava cansado. Não iria aguentar mesmo. Eu já
estou tremendo, estou agitado e acho que não conseguirei dormir.
Gomes começou a se vestir, pois já eram 6h30 e sol
estava para nascer. Nos vestimos, organizamos o quarto recolhendo inúmeros pedaços
de papel que usamos para limpar os narizes sujos de pó, recolhemos os baralhos
e limpamos a bancada que estava com resquícios da bagunç a que fizemos.
Feito isso descemos até a portaria, deixei as
chaves na recepção e saímos do hotel rumo a um caixa eletrônico, andamos muito,
descemos toda a rua augusta. Gomes parecia com um aspecto melhor do que eu,
que sentia como se estivesse andando com um nuvem de gelo seco no meu rosto. Parecia tudo meio opaco,
certamente por estar exausto por não ter dormido e ainda sobre efeito do pó que
havia cheirado da segunda remessa que Gomes comprou.
Chegamos ao banco, eu e Gomes entramos, ele sacou
a grana e me pagou. Contei a grana ainda dentro do banco e havia R$ 200,00 a
mais do que ele havia prometido. Eu nunca tinha ganhado tanto dinheiro com
um programa só. Coloquei o montante no bolso de trás da calça, me despedi de Gomes e subi
novamente a rua Agusta. Com passos apressados eu procurei subir rápido com medo
de dar o azar de ser assaltado. Embora a rua ainda estivesse bem movimentada.
Creio que já era alguma paranoia minha. Lembro que um cara veio me pedir
dinheiro e procurei não dar trela, e continuar caminhando, por alguns instantes
ele insistiu subindo atrás, mas logo desistiu. Lembro que estava tão agitado
que subi dois quarteirões a mais e quando constatei respirei fundo e voltei. Só
me senti aliviado quando cheguei no hotel.
Diante do espelho do meu quarto me observei, estava
com o coração disparado pela caminhada e pelos efeitos do pó. Terminei de
organizar o quarto, tomei um banho demorado, comi alguma coisa e deitei para
descansar. Minha cabeça parecia um turbilhão de pensamentos. Eu não conseguia
dormir, coloquei a mão sobre meu peito e sentia o coração ainda bater rápido,
me examinei e vi que meu corpo estava quente e vermelho, parecia que a
circulação de sangue estava fora do comum. Na cama me bateu um profundo
remorso. Pensei no que estava fazendo com minha vida e como eu seria se me
viciasse em cocaína ou qualquer droga. Pensei em minha mãe e nos casos que já
vi de outros garotos de programa viciados. Pensei em Bruno que vendia e atendia
clientes viciados e como ele estava se perdendo nisso. Por vezes eu quis chorar
mas nem isso eu conseguia Com os pensamentos fora de ordem eu não via mais
sentido em nada. Me questionei o por que de ter aceitado aquilo? Por que correr
o risco de experimentar e ficar consumindo cocaína a troco de uma boa bolada?
De que me valeria aquela grana?
Quis pegar minha mochila e ir embora Mas meu corpo
e minha mente estavam cansados para fazer isso. Eu precisava me desligar por
algumas horas, mas não conseguia... eu não conseguia... eu não conseguia...
Então eu fechei os olhos, respirei fundo e desejei que aquela agonia
passasse... mas ela não passou e assim passei a manhã de sábado me martirizando
deitado na cama dentro de um quarto de hotel... O relógio marcava 10h quando
consegui relaxar um pouco e com os batimentos já normalizados eu apaguei por 40
ou 50 minutos.
Ás 11h30 eu já estava de pé, liguei para David que
voltava de uma balada para que fossemos almoçar no Shopping Frei Caneca por
minha conta. Conversamos sobre a “doideira” que havia rolado, além de outras
coisas. E retornamos ao hotel. Ficamos no meu quarto deitados vendo tv e logo
apagamos a fim de descansar um pouco.
A noite chegou, ás 19h ambos nos arrumamos e jantamos, logo depois David foi atender um cliente num hotel na Paulista enquanto eu
fui para o chat. Sinceramente eu não via a hora de voltar para casa, me encontrava um pouco abatido. Não havia dormido direito e o remorso ainda continuava dentro de mim. Mesmo eu sabendo que nesse ramo é muito fácil encontrar pessoas que curtem drogas, em São Paulo essa frequencia é maior ainda com meninos de programa que de certa forma "traficam" para seus clientes, pois muitos repassam a droga, fazem um programa e como constatei ganham bem mais com esses clientes que não medem esforços para custear o vício. Vai do garoto querer se submeter a isso, eu de certa forma me deixei levar pela grana, mas depois de tudo não estou mais disposto a topar uma parada dessas. No mais seu sentia que tudo aquilo iria passar.
Eram quase meia noite quando surgiu um cliente em Moema, peguei o endereço, chamei um
taxi e fui ao seu encontro, chegando lá, não sei dizer se o cara não gostou de
mim. Mas ele se desculpou, disse que havia sido precipitado em me chamar, mas
que pagaria pelo combinado e assim o fez. Voltei bem mais cedo para o hotel e
resolvi dormir para vir embora no dia seguinte, logo pela manha. Enfim, precisava voltar para
meu porto seguro, afinal, Eduardo estava exigindo demais de mim...
Muitos clientes ou pessoas que acompanham meu blog podem me criticar, mas o fato é que não tenho vergonha em relatar minhas experiências. Eu poderia não publicar esse texto e evitar julgamentos, mas de certa forma eu não estaria sendo honesto comigo mesmo... Acho importante quando cometemos um erro e de certa forma o reconhecemos, a partir dai passa a ser um alerta para nós... Por isso, eis o texto publicado.
O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com
Ps. Parei de publicar por um tempo devido aos dias corridos e também por ter ficado gripado. Agora parece que tudo se normalizou.