Vou supor-me a resistir. Lentamente até fugir. [Eduardo
White]
BOY DE PROG$$: Meu
nome é Eduardo, tenho 25 anos, sou branco, 1,76 de altura, 68kg, malho
regularmente, olhos castanhos, cabelos pretos, 19cm, flex liberal. Alguém afim?
Esse sábado fez um ano que vivo na pele de Eduardo White, garoto de
programa. Curiosamente começei num ano bissexto. O tempo passa tão rápido que parece ter sido ontem que tudo começou,
quando eu ainda estava trancado no meu quarto e criava coragem para encarar a
prostituição como profissão.
Venho de uma família simples, todos em casa sempre
trabalharam, nunca nos faltou nada e tive uma boa educação por parte da minha
mãe, que em meio as dificuldades soube transmitir valores como caráter, bom
senso e humildade. Comecei a trabalhar com 16 anos, sempre estudei em escola
pública, corria atrás de cursos gratuitos e me esforçava para conquistar minhas
coisas. Nunca sentia medo de ir adiante, pois o NÃO já era uma resposta certa,
bastava eu tentar para conseguir o SIM e quanto a isso eu não fazia cerimônia.
Embora muitas coisas em nossas vidas se deem de formas
diferente, eu não tive nenhum conhecido para me apadrinhar, não me vi a margem
da miséria como uma vitima do sistema capitalista para me atirar na vida ou
tampouco tive contatos com outros garotos de programa. As coisas aconteceram de
forma natural. A única necessidade que tinha era da alma, de querer abandonar
quem eu era, morrer para nascer um outro e creio que foi isso que fiz...
Meu contato com o mundo da prostituição deu-se de forma subjetiva.
Há dois anos atrás eu me mudei para São Paulo, fui para estudar e trabalhar.
Conheci pessoas e lugares novos, fiz amigos nas republicas por onde passei e
junto com tudo tive também dificuldades para me manter ali. Afinal, eu era um
organismo estranho em uma metrópole. Meu primeiro endereço foi a rua Rego
Freitas, num apartamento que ficava em frente a igreja Consolação, no centro da
cidade. Durante o dia o movimento era intenso pelo comércio local e a noite o
lugar transformava-se em ponto de prostituição e curtição, com bares e casas
noturnas. Meu prédio era no ponto alto da rua, ao lado de uma boate gls e com muitos
travestis que faziam por ali. Eu saia de manhã para trabalhar e ia direto para
meu curso, chegava sempre após as 23h. Na caminhada até meu prédio eu as
observava, assim como os michês que ficavam na parte baixa da rua, nas proximidades
do metrô Republica.
Nessa época eu ralava dentro de um Call Center fazendo
mais de 100 ligações por dia para receber um salário de merda, ao passo que
vivia fazendo bicos para complementar a renda no fim do mês. Por algumas vezes
eu pensei em ser garoto de programa, mas não tinha ideia de como começar. Ficar
na rua nas proximidades do metro? Nem pensar, pois os meninos tinham pontos
fixos e com certeza eu ira levar uma boa surra se pegasse o ponto de alguém. Por
vezes consultei sites de outros meninos e muitos tinham local próprio, ensaios
com fotos produzidas entre anúncios em outros sites. E talvez o mas importante,
faltava a coragem... Pensava em minha família, amigos, as pessoas me
crucificando... Enfim, passei o que passei em São Paulo, conclui meus estudos e
voltei para minha cidade.
Voltei por estar esgotado, mas o que me moveu mesmo foi a
esperança de viver ao lado de alguém a quem amei muito... Foi um desses amores
que você demora a enxergar, mas é capaz de abrir mão de tudo para ficar ao lado
da pessoa, então movido por isso eu resolvi arriscar, afinal o barato da vida é
isso...
As coisas não deram certo, fui abandonado, estava sem
emprego e de volta a casa de minha mãe. Fiquei deprimido por meses, sentindo um
vazio e sempre que tentava me relacionar com alguém o sexo era o ponto chave, a
trepada era o que importava a unanimidade. E com o gosto amargo da desilusão
fui abrindo mão de mim, dos meu sonhos, fui dando espaço para o vazio que aos
poucos era preenchido por outra pessoa. O que antes era uma curiosidade se fez
em ação, ser garoto de programa movido pelo desejo em ser outro, a quem se
busca saciar os desejos, a falta de amor... Ser alguém imune de sentimentos
amorosos e o melhor, ganhando dinheiro para isso.
Porém eu não fazia
ideia. Como se vira um garoto de programa? Recorri as salas de bate papo,
entrei com o Nick “Boy de Programa” e logo curiosos de plantão começaram a me
abordar. As perguntas pipocavam na tela. Qtos anos? D onde? Como vc é? Qto é o
pg? Tem site? Tem foto? Qual seu MSN?
Sai da sala, a coisa era mais complexa do que eu
imaginava, eu precisava ter uma estrutura para isso, contatos separados, fotos
para divulgação e estomago para encarar pessoas que eu não conhecia. Passei alguns
dias ensaiando essas conversas, entrava no chat conversava com pessoas e com
outros garotos de programa. Muitos são fechados, não gostavam de falar como
trabalhavam e como faziam clientes fixos. A partir daí fui pegando alguns “macetes”,
de como interagir nos chats e como abordar as pessoas.
Eduardo era um nome que sempre gostei, mas precisava de
um sobrenome para criar uma personalidade, pois existem muitos boys com nomes
parecidos. Pensei em alguns sobrenomes, queria algo presente em mim, uma característica.
Me ocorreu a palavra “Branco”, pois sempre fui muito branquinho e resaltavam
isso em mim. Então, experimentei White e assim estabeleci. Eduardo White. Para
ter certeza de que não existiria alguém com esse nome eu recorri ao grande
oráculo, o GOOGLE. Digitei, Eduardo White – Para minha surpresa não existia
nenhum GP com esse nome, mas sim um poeta e escritor do Moçambique nascido em
1963. Sua poesia trata sobre o Moçambique
e a história do seu povo. Em um site encontrei a seguinte definição sobre ele:
Empenhado em cantar o
amor, a fim de que a paz se consolidasse nos âmagos individual e nacional,
White desenvolveu uma escrita poética que almejou erotizar uma terra acometida pelas
degradantes consequências de sucessivas guerras. Exaltando da vida e tudo o que
dela pulsasse, o poeta exibiu um eu-lírico marcadamente otimista, embora muitas
vezes melancólico e indignado. [...]
Curioso ou não eu também tinha minhas guerras diárias que
buscavam consolidar a paz e de certo modo precisava colocar isso para fora... Logo
criei um perfil no msn, separei um chip com número de contatos para clientes, produzi
alguma fotos de celular no banheiro e quarto de casa e criei um blog... Naquela
noite nascia em mim Eduardo White.
Meu primeiro programa
No dia seguinte com um misto de nervosismo e expectativa
entrei no chat. Fui a caça, teclei com alguns caras e respondia as perguntas de
forma objetiva. Alguns olharam o site, as fotos (exceto o rosto), essa eu preferia
mostrar somente após alguns minutos de conversa e de forma rápida. Tudo ia
fluindo, adicionei vários contatos no meu MSN, até que um cara quis marcar algo
para aquela noite. Marcamos num bairro na zona sul. Era sexta-feira e havia
grande circulação de pessoas, pois a região era repleta de bares. No horário
marcado lá estava eu. Esperei, esperei e nada... Mesmo querendo não acreditar
estava constatado, eu levei meu primeiro cano como GP. Era patético mais era
rela, ainda sim aprendi algo. Tente marcar pontos de encontro em lugares mais
tranquilos e próximo de casa.
Que merda! Tanta expectativa para o cara furar. Pensei
num plano B, já que ainda estava no início da noite procurei por uma lan house nas
proximidades, paguei por uma hora, conectei meu MSN e entrei no chat. Em dez
minutos estava com várias janelas piscando com perguntas e logo consegui marcar
com um cara que buscava uma pegação rápida, pois era casado e não poderia
demorar muito.
Marcamos próximo da lan house, ele chegou, estacionou o
carro falando ao celular. Certamente era sua esposa. Ele fez sinal para eu
aguardar fora do carro, então esperei na calçada. Isso só fez com que meu
nervosismo aumentasse ainda mais. Fiquei imaginando se algum conhecido me visse
por ali, O que eu iria dizer? Depois de um tempo o cliente fez sinal para eu
entrar. Ele disse que não poderia demorar e enquanto dirigia ele ficou pegando
no meu pau, pediu para eu descer a calça até os joelhos e assim o fiz.
Ele dirigiu por diversos quarteirões, estava louco para
dar, mais não havia tempo e local para isso. Mesmo nervoso eu estava gostando
da brincadeira. Com uma das mãos eu fiquei massageando seu cu, com ele sentado
sobre ela, eu coloquei meu dedo indicador todo dentro dele. Enquanto ele
rebolava e dirigia eu respirava fundo, com meu pau duro e babando, estava com a
adrenalina a mil. Ficamos uns 25 minutos assim, até que ele precisou me deixar
em algum ponto, pois seu celular voltou a tocar. Como era só uma brincadeira,
eu cobrei menos do que um programa completo. O cliente me pagou e saltei do
carro.
Estava feliz e ainda com o coração disparado pela
situação toda. Caminhei por um tempo pensando em tudo. Enfim, sai do ponto de
partida, uma caminhada começava e a estrada estava apenas começando... O
destino eu não sabia e ainda confesso que não sei...
Agradeço a todos clientes com quem me relacionei nessa
trajetória. Com certeza tive experiências boas e ruins, encontros e
desencontros; mas o que vale mais para mim não é o aprendizado e a troca de
prazeres.
E.W.
O garoto errrado
twitter.com/EduardoWhitee
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