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Entrevista para REDE TV para o programa "Documento Verdade". Neste bloco eu e Leo Felipo falamos da vida e carreira dos garotos de programa classificados como "luxo". Apenas um rótulo, pois o trabalho é árduo e necessita de foco.

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AVALIAÇÕES
Avaliações publicadas no (extinto) site CÂMBIO DE BOYS. O portal avaliava Acompanhantes masculinos de todo Brasil a partir de relatos enviados por clientes, com notas atribuídas a performance e ao atendimento desses profissionais.
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ENTREVISTA

Entrevista concedida ao (extinto) site Câmbio de Boys.O portal avaliava Acompanhantes masculinos de todo Brasil a partir de relatos enviados por clientes, com notas atribuídas a performance e ao atendimento desses profissionais.

IDENTIDADE

COMO COMEÇOU E QUAIS MOTIVOS O LEVARAM A SER GAROTO DE PROGRAMA?

Iniciei como Garoto de Programa por opção, eu havia me formado há algum tempo em meu curso de graduação, porém deixei diversas parcelas para negociação, as quais eu tentei por três vezes negociar para um acordo, mas sem sucesso. A situação se complicou quando a universidade onde me formei abriu um processo e tive minhas contas bancárias, na época bloqueadas, bem como meu salário bloqueado por decisão judicial. Mesmo com um advogado cuidando do meu caso eu não consegui negociação, até que a situação se tornou insustentável com um oficial de justiça na minha cola, rastreando bens que eu poderia ter, inclusive com visitas periódicas a casa da minha mãe.

Nessa época eu estava desempregado, saturado no campo afetivo, visto que as pessoas com quem me relacionei só priorizavam o sexo. Então, decidi cobrar e assim Eduardo White nasceu. Eduardo, por que acho um nome bonito e White por que sempre fui muito branco. Contudo foi uma escolha, eu não me vitimizo com isso. Eu escolhi ser Garoto de Programa, foi uma decisão consciente sem peso ou culpa.

COMO FOI SEU PRIMEIRO PROGRAMA?

Foi tenso, a iniciação de um garoto de programa nem sempre é boa. Se já temos um nervosismo natural na primeira transa, imagine no primeiro programa, onde você receber para ter um bom desempenho sexual. Lembro-me que fiquei nervoso, deixei o cliente dominar toda situação havendo até um certo abuso pela falta de educação dele. Após o episódio eu pensei em desistir, mas resolvi ir em frente e com o tempo fui aprendendo a conduzir e administrar a situação.

QUAL SUA ORIENTAÇÃO SEXUAL?

Me defino gay, homem que gosta de homem.

O QUE MAIS LHE EXCITA NA TRANSA? (preliminares, jogos, penetração, dominação)

Premilinares, olho no olho, toque, beijos. Tudo isso sem dúvida me excita e constrói o clima para uma ótima transa.

QUAL É SEU ESTADO CIVIL?

Estou solteiro.

COMO VOCÊ VÊ A FIDELIDADE EM UM RELACIONAMENTO?

Pra mim trata-se de um voto de confiança. Isso nem sempre implica na fidelidade conforme o casamento reconhecido pela igreja. Como Garoto de Programa eu me confrontei com diversos tipos de relacionamentos. A fidelidade é quase como um habito cultural e acredito que talvez o mais difícil deles. Porém, se há confiança e cumplicidade entre ambos é algo que pode ser continuamente cultivado.

CLIENTES

QUAL A PROPOSTA MAIS ABSURDA FEITA POR UM CLIENTE?

Fetiche é algo que todos nós tempos, algumas possíveis e outras nem tanto. Um rapaz me contatou por quatro vezes propondo um programa. Ele queria que eu viajasse para a sua cidade, no interior de São Paulo, onde eu ficaria num quarto de hotel acorrentado levando chicotadas dele. Após essa sessão ele me soltaria e transaria comigo. Obviamente eu não aceitei.

QUAL O PROGRAMA MAIS DIFÍCIL QUE VOCÊ FEZ? AQUELE EM QUE O CLIENTE SE TORNOU INCONVENIENTE?

Já tive clientes que tiveram um ou outro tratamento ríspido, mas que com o tempo era desarmado pois eu nunca retribuí na mesma moeda. Há também muita curiosidade a respeito do que penso, talvez pelo fato de escrever, mas encaro com naturalidade. Curiosidade é natural, mas a partir do momento que se torna excessiva com questionamentos desagradáveis já se torna ruim. Certa vez um cliente fechou um pernoite comigo e no meio do sexo ele iniciou uma série de perguntas do tipo: Você é feliz? Por que você faz programas? Você já namorou? Se eu gostaria de namora-lo? etc... Coisas que invadiam muito minha intimidade. Não gostei e paramos. Ele então percebeu e disse que iria embora. Eu acatei na hora, pois já não havia mais clima.

VOCÊ FAZ ALGUMA EXIGÊNCIA NA HORA DE ESCOLHER UM CLIENTE?

Eu atendo somente homens. A masculinidade me atrai. Fora isso o homem pode ser alto, baixo, gordo, magro, careca e até mesmo ser portador de alguma necessidade especial, desde que me avise. Não recuso pessoas por tipo físico ou por beleza. Claro que isso em algum momento causa sensações e desperta um tesão diferenciado. Mas a ideia é que como profissional eu não demonstre isso. Não é justo e correto. Se me proponho a fazer e ter uma relação sexual eu tento fazer o meu melhor. Afinal, será apenas por algumas horas. É um acordo comercial no qual meu papel é fazer com que a pessoa sinta-se especial pelo tempo que estiver comigo. Prezo pela surpresa do encontro. Só tenho o cuidado em estabelecer um diálogo antes de fechar de um programa, para saber o que meu cliente gosta ou se ele procura por algo específico.

JÁ ROLOU ALGUMA QUÍMICA ALÉM DO LADO PROFISSIONAL ENTRE VOCÊ E ALGUM CLIENTE? COMO LIDOU COM A SITUAÇÃO?

Sim, é natural você ter empatia por alguém em algum encontro. Quando acontece é algo muito bom pois o sexo flui muito mais gostoso. Sentimentalmente é possível também desenvolver algo afetivo quando trata-se de um cliente fixo, pois a cada encontro você vai descobrindo pontos de prazer diferente em você e nele. Porém, devemos ter em mente que trata-se de um acordo comercial, com prazo de validade e isso não é pecado algum. Afinal, o cliente chega até você com isso já ciente. Porém, também somos humanos e as vezes rola algum envolvimento. Da minha parte houve uma situação na qual me relacionei por três meses, mas com o tempo essa relação acabou. Eu não recomento misturar essas situações, pois sempre podemos sair machucados. Mas se é algo sincero é possível também ficar uma bela amizade.

HOUVE ALGUMA SITUAÇÃO ESTRANHA, INUSITADA OU ENGRAÇADA DURANTE UM PROGRAMA?

Sim, tive um cliente que gosta muito de pernas peludas, masculinas e na transa quando estávamos encaixados ele ficava alisando minhas pernas. O tesão dele era tanto que certa vez fui pegá-lo na posição de “frango assado” e ele me abraçou com as pernas dele e me puxou para si, acabei caindo em cima dele, ficamos rindo por um bom tempo.

MERCADO & CARREIRA

QUAL O LADO POSITIVO E NEGATIVO EM SER UM GAROTO DE PROGRAMA?

Como em quase todas escolhas há o lado bom e ruim. O lado positivo é o dinheiro, o contato com pessoas que podem lhe oferecer vantagens como bens materiais, viagens e contatos. Para aqueles que se planejam, trabalham e conseguem ter bons clientes, sempre há a vantagem de bons rendimentos financeiros, com um salário e padrão de vida bacana. Além da admiração de seguidores e curiosos que inflam nosso ego de cada dia.

Já o lado negativo é cheio de preconceito, estigma e desprezo. Por mais que gostem de você, te admirem e sigam seus passos, raramente um cliente vai te querer além de um objeto sexual. Ter um Garoto de Programa é bem diferente de assumi-lo para sua vida real. Isso eu aprendi na pele. Não se trata de uma maldade alheia, infelizmente somos educados assim. Há estigmas com o negro, o gordo, o magro, o pobre, o índio, etc... Garotos e garotas de programa também sofrem com essa herança cultural. É um falso moralismo, pois a prostituição está em todos os lugares, só não é encarada como algo que faz parte de nossa sociedade com base na moral e nos bons costumes. Mal sabem que a prostituição salva muitas relações por ai...

As pessoas entendem prostituição o ato daquele que faz sexo por dinheiro, ideologicamente isso que nos é ensinado como "prostituição", mas se analisarmos essa questão mais a fundo, podemos nos deparar com diversos tipos de prostituição. Muitos de nós nos prostituímos por um status social, por uma promoção ou um cargo em nosso trabalho, por um bem material, por carência afetiva, entre outras formas. Mas muitos não veem isso como prostituição por ter uma realidade deturpada.

QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O MERCADO DE ACOMPANHANTES MASCULINOS NO BRASIL? COMO VOCÊ ADMINISTRA SUA CARREIRA?

É um mercado que expandiu em larga escala. O sexo por si movimenta muito a economia no país. O sexo está nas bancas de revistas, nos programas de auditório, dentro das empresas, nos clubes, nos bares, nas passarelas da moda...Enfim, é um mercado que se explorado de forma adequada é possível extrair bons frutos.

Há também nichos no mercado. Em meu caso eu não exponho meu rosto, trabalho apenas pelas mídias digitais administrando meus contatos com meus clientes de forma mais humanizada.

Nos últimos anos os sites de relacionamento, vídeos e acompanhantes cresceram vertiginosamente. Hoje em dia é possível buscar garotos de todos os perfis, cabe ai o profissional saber se posicionar perante ao mercado, explorar seus diferenciais e entender o que seu público alvo busca. De certa forma foi o que eu fiz, pois é comum também termos limitações, sobretudo físicas. As pessoas ainda encaram alguns padrões de beleza como ideal, mas a diversidade é estrondosa. Você não precisa ser um garoto bombado e tatuado para se destacar.

Felizmente é também um tipo de profissão onde podemos aliar diferentes habilidades. No meu caso eu tenho conhecimento em Comunicação e Marketing e isso me ajudou a criar mecanismos para entender o que muitos clientes buscam, a partir dai, tentei e tendo compreender o que esperam de mim e com isso me adequar as essas necessidades. Outro lado é a prática, que nos mostra um outro cenário. Bom sexo, boa Cia, bom papo, boa aparência... É um conjunto de regras que você vai aprendendo a lidar e administrar.

POR QUE ESCOLHE SÃO PAULO PARA TRABALHAR? O QUE LHE ATRAIU NUMA CAPITAL ONDE A CONCORRÊNCIA É ACIRRADA?

Sou de São José dos Campos, uma cidade do interior de São Paulo. Comecei em minha cidade e posteriormente fazendo temporadas na capital. Após quase um ano comecei a estabelecer uma clientela fixa e também ter outros planos.

Em 2014 decidi vir para São Paulo para fixar residência e paralelo a vida como GP estudar em buscar de outros objetivos. Me lancei a esse plano e foi muito gratificante os meses que fiquei, pude montar um apartamento legal e oferecer uma estrutura diferenciada, com discrição e segurança. Outro ponto foi aproveitar minha projeção no mercado. Eu havia sido bem avaliado, havia sido entrevistado e a partir dai muitos homens chegaram até mim. Em muitos casos eu não fazia o tipo de homem ideal, mas a curiosidade levava muitas pessoas a querer estar comigo e me conhecer. Era a hora certa, bastava estar no lugar certo, por isso decidi vir para São Paulo e com isso fixei bons clientes e tratei de dar seguimento aos meus objetivos.

A mudança foi bem conturbada, em dezembro de 2013 eu fiz temporadas em Campinas e Curitiba. Em 02 de janeiro de 2014 eu me mudei para São Paulo, foi um ritmo insano.

Em relação a concorrência é algo natural e até certo ponto estimulante, pois nos impulsiona em querer fazer o melhor. O garoto deve ter em mente que o cliente tem o poder de escolha e não o contrário, por isso se você for bom no que faz, nunca irá lhe faltar oportunidades.

VOCÊ CONSEGUIU VIVER APENAS FAZENDO PROGRAMAS?

Por dois anos eu vivi apenas como Garoto de Programa. Consegui atuar de forma integral como acompanhante e se não tivesse outros planos eu conseguiria por mais tempo. Porém, é um trabalho no qual você precisa se dedicar integralmente, sobretudo pela disponibilidade. A maioria dos clientes são casados, noivos, namoram ou seja, possuem uma vida dupla. Neste caso é preciso que o garoto esteja apto a se adaptar a isso, não ter rotina. Você pode estar no mercado, no cinema ou até mesmo dormindo e seu celular tocar com um cliente querendo seus serviços. E ai, vai dispensar e perder a oportunidade? Não tem jeito, pois mesmo que seja rentável é uma profissão cíclica, instável. Então não é recomendado perder oportunidades. Por isso é importante haver planejamento.

Atualmente não vivo como Acompanhante. Eu parei por seis meses e foquei em outros projetos. Porém, ainda faço alguns programas almejando parar e encerrar essa etapa de vez. Parar bruscamente nem sempre é fácil.

QUAIS OS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA SE DESTACAR NO MERCADO? É NECESSÁRIO ALGUM INVESTIMENTO?

Eu costumo dizer que há acompanhantes e acompanhantes. Depende muito da área de atuação e do que esse profissional busca. Mesmo que o garoto queira atuar na rua, sauna ou por sites de anunciantes, é preciso requisitos básicos como: Gostar de sexo, ser paciente, ter discrição, ter bom sendo, ser cordial. Além disso, ser vaidoso, cuidar do corpo, do rosto, ter bom gosto para se vestir, se portar e estar disposto a encarar diferentes situações.

É preciso compreender que trata-se de um negócio, onde você será seu patrão. Como numa empresa você precisará ter metas, abordagens e cuidar do seu marketing pessoal, aparência e saúde. Investimentos serão necessários sempre, assim como ter algumas limitações nos hábitos de vida. Mas nada que extrapole. Indo por esse caminho o garoto aos poucos vai se adaptando e sacando como o mercado se movimenta.

JÁ RECEBEU CONVITES PARA ATUAR EM FILMES?

Sim, mas nunca me interessei por atuar em filmes. Prezo muito pela minha discrição e creio que o mercado de filmes pornô iria me expor de uma forma desnecessária.

SAÚDE

COMO VOCÊ CUIDA DA SUA APARÊNCIA?

Tento manter uma rotina de treinos, além de uma dieta, mas nada radical.

JÁ USOU ADITIVOS - DROGAS?

Houve dois episódios em que usei cocaína por influência de um cliente. Foi nos primeiros meses como Acompanhante. Mas não uso drogas e não faria uso. Na época eu não tinha noção. O lado positivo foi que constatei que há limites aos quais não é interessante extrapolar.

ALGUM CLIENTE JÁ LHE OFERECEU MAIS DINHEIRO PARA TRANSAR SEM PRESERVATIVO?

Como todo garoto eu já recebi esse tipo de proposta. Mas recusei. Sei que muitos homens são adeptos do sexo bare, mas há tantos problemas que podem surgir que não recomendo esse tipo de risco com alguém que não conhecemos.

EM RITMO INTENSO DE TRABALHO VOCÊ COSTUMAVA FAZER USO DE ALGUM ESTIMULANTE?

Sim, em temporadas eu costumava atender até cinco clientes por dia. Neste caso o uso de estimulante era indispensável. Eu usava o genérico de viagra, mas vale lembrar que isso não é para todo programa. É normal o garoto recorrer a essa pratica quando está num ritmo intenso e quando já ejaculou e precisa ainda continuar trabalhando. Mas com boas horas de descanso e uma boa rotina isso nem sempre necessário.

QUAL ERA SEU LIMITE DE CLIENTES POR DIA?

Meu limite máximo foram seis clientes em um dia, sendo que o último foi uma Cia para balada. Mas é raro isso ocorrer. A média é dois a três fora de temporadas.

VOCÊ FAZ EXAMES REGULARMENTE?

Sim, a cada seis meses.

TRAJETÓRIA

QUAL LIÇÃO QUE APRENDEU SENDO GAROTO DE PROGRAMA?

Aprendi a não julgar alguém pelo que ela faz ou aparenta ser. É um exercício. Mas como já estive desse lado é também algo muito doloroso. Cada um de nós tem como missão evoluir e aprender. Como Garoto de Programa eu aprendi a buscar humanidade nas pessoas.

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