2 de mar. de 2020

EU SOU DIONISIO – PARTE FINAL


Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses. [Socrates]

Marcamos nosso encontro para o fim semana, com passeios a galerias de arte, concerto com a Jazz Sinfônica de SP no Memorial da America Latina, jantar no Fasano e cafés. Mas nem tudo estava ganho, se por um lado o roteiro de passeios era generoso, o cachê foi bastante modesto e negociado, Hermes usou a carta que lhe convêm, a proposta de “namoro”.

Nessa disputa entre amar e pagar, ele jogava duro usando seu status de cônsul, Sim, ele era Cônsul da Grécia aqui no Brasil, e como tal esse cargo além de um salário muito generoso lhe cobria de privilégios, como por exemplo, morar no jardins num apartamento com mais de 150 metros quadrados, comer em bons restaurantes, ter seu nome na lista vip de todos eventos em São Paulo, poder jantar no Fasano e freqüentar uma roda seleta na em São Paulo, quem quer que estivesse com ele poderia desfrutar de tudo isso.
Pensando com meus botões, deduzi “Perde-se uns tostões mas ganho outros benefícios”

Ao chegar em seu imenso apartamento no Jardins, fui recepcionado com um abraço apertado e um beijo caloroso. Hermes era um homem de meia idade, de bom porte, alinhado com cabelo e barba impecáveis, pele bem branca e sorriso largo.

Conversamos, tomamos um café e pouco tempo depois estávamos na cama, muito fogoso Hermes me chupou da cabeça aos pés e o mesmo fiz com ele. Com quadril largo sua bunda redonda era bem suculenta, rabão carnudo e liso, rosado que piscava a cada linguada e sarrada de barba. Penetrei e soquei sem pressa, cada vez mais fundo, o “rabo” dele parecia uma boca quente, engolia uma rola com boa desenvoltura e sem cerimônia, e a cada mudança de posição Hermes mostrava o fogo dos gregos, fui deliciosamente curioso.

Após um sexo quente ficamos um pouco deitados, conversando sobre a adaptação dele no Brasil, os lugares que havia conhecido e as diferenças culturais. A conversa estava ótima, mas era hora de me arrumar, Hermes havia reservado ingressos para um concerto da Banda Jazz Sinfônica de São Paulo no Memorial da América Latina.

- Você trouxe uma roupa mais formal como pedi?
- Sim, ta na mala...
- Ótimo, esse evento pede um traje mais formal. Alertou.

Ao chegar no prédio do Memorial saltamos do uber e nos dirigimos a fila que era consideravelmente extensa, mas não foi necessário, bastou Hermes anunciar seu nome na portaria e fomos direcionados para dentro da sala de concerto, claro, sem antes alguns apertos de mãos a outras autoridades, neste caso fui apresentado como um “amigo”, mas é claro que minha malícia sabia perfeitamente interpretar os olhares atravessados julgando a amizade entre um homem de meia idade de um rapaz bem mais jovem. Fingi-me de ingênuo.

O concerto durou pouco mais de uma hora, no repertório foram tocadas obras brasileiras, espanholas e de outros compositores estrangeiros que não me recordo. Na saída mais alguns cumprimentos, apertos de mão e sorrisos amarelos. Embora eu gostasse de passeios, exposições, arte e cultura, me incomodava lugares excessivamente cheios aos quais eu era olhado com ar de curiosidade, ali naquele hall cheio de pessoas de elevado nível social confesso que me sentia incomodado, mas fazia parte do trabalho. Ao contrário de Téspis eu não poderia me embebedar e propor uma cartase, vesti-me de uma máscara social e segui o roteiro.

- Com fome?
- Um pouco...
- Vou te levar para jantar no Fasano?
- Já ouvi falar, esse restaurante fica num hotel, certo?
- Sim, mas a noite ele é aberto, tem música ao vivo e um cardápio ótimo...

Talvez uma das poucas oportunidades, Fasano é um dos restaurantes badalados da capital Paulista, localizado no lobby do Hotel Fasano São Paulo, no Jardim Paulista, bairro nobre de São Paulo; o restaurante é reconhecido por sua alta gastronomia italiana e serviço impecáveis, onde a personalidade e excelência do restaurateur Rogério Fasano se unem à cozinha comandada pelo Chef Luca Gozzani. Com um ambiente elegante com serviço irretocável o restaurante não oferece apenas comida e bebida, mas sim uma experiência gastronômica. Ao entrar no salão fomos direcionados ao bar, que tinha uma pequena banda com piano bar, com repertório de Jazz, luz aconchegante, gente bonita e clima descontraído. Realmente um outro universo. No cardápio uma série de drinks e pratos que eu pouco conhecia, não me recordo o drink, mas pedi algo que ainda não conhecia e por ali a noite se estendeu, com boa música e comida... Só ali já deduzi que a conta daria meu o valor do meu cachê com um cliente comum, mesmo assim não me deixei impressionar, era apenas uma experiência, enquanto Hermes na pele de Dionisio se sentia de fato um “Deus”.
A noite acabou na cama com Hermes sendo penetrado sob efeito do álcool, que o deixou mais solto e quente na cama.
No domingo pela manha tomamos café num restaurante situado no jardins e partimos para a galeria Tomie Ohtake, que estava com algumas exposições. O prédio em tinha diversas salas e um café muito gostoso, haviam três exposições, a que mais gostei trazia peças em argila (acho) como moldes de corpos humanos em diferentes tamanho e posições, fiquei um bom tempo observando essas esculturas e depois visitei as demais. Geralmente quando vou a exposições fico quieto e observador, fazendo minha leitura da obra, até porque muitas fichas não caem ali na hora, mas depois... Meu silêncio não agradou Hermes, mas isso eu saberia depois.
De volta ao imenso apartamento, na sala de jantar que tinha apenas duas poltronas e uma extensa mesa de jantar cheia de livros sobre arte e poesia com capacidade para vinte ou mais lugares iniciamos uma conversa amistosa. Hermes mostrou alguns livros de artes plásticas de pintores que admira e de poesias; Em seguida sentamos nas poltronas e continuamos a conversa, dessa vez o assunto foi sobre as formas de financiamento de projetos artísticos no Brasil, enquanto da Grécia a tradição mantinha um financiador, no Brasil há as leias de incentivos fiscais e os editais públicos, que compõe grande parte da nossa política cultural de produção e circulação; Não sei como, mas em um dado momento voltamos a falar sobre o ex-namorado Hermes.

- Ele já conheceu o Brasil?
- Sim, vive dizendo que sente minha falta, ele ainda me ama, já veio ao Brasil passar alguns dias comigo...
- E o que achou?
- Ele gostou muito, fomos ao Rio e a Curitiba...
- Transaram?
- Sim, mas não é a mesma coisa, não sinto o mesmo tesão que tinha por ele...Não sinto mais vontade de transar com ele.
- E porque transam? Praticamente um programa. Comparei...
- Sinto que ele sente a minha falta...
- Transou por compaixão? Será que ele não sente falta da condição e dos status que você oferecia a ele?
- Creio que não, ficamos muito tempo juntos. Ele é médico psiquiatra, tem uma boa condição não precisaria disso...
- Você o conheceu médico?
- Não, ele era garoto de programa na Grécia, eu o ajudei, ele morou comigo, estudou psiquiatria, hoje seu consultório, está com outra condição. Disse num tom levemente irritado.
- Ah, entendi, você o bancou, pagou a faculdade dele e hoje ele é médico formado com sua ajuda. (Segundos de silêncio...) - Sinceramente, ele pode ser médico, mas não me engano. Ele sente falta do status que você oferecia a ele, sente falta dos eventos, sente falta dos jantares, sente falta do poder de influencia que você enquanto Cônsul ou funcionário de alta patente do Governo exerce sobre os outros e que oferecia a ele.
- Jamais, ele gosta de mim. Eu só o ajudei, ele deixou se ser garoto de programa desde que iniciamos o namoro.
- Sim, isso eu entendi, o mesmo que você propôs para mim a partir deste encontro.
- Exato, mas quanto a você sinto que gosta de ser garoto de programa.
- Sim, alias esse é um dos requisitos para a profissão, gostar de sexo casual sem rótulos. Mas o detalhe não é gostar de ser Garoto de Programa e sim saber gerenciar sua liberdade.
- Em que sentido?
- Veja, eu já tive ofertas para namorar outros clientes, mas o preço costumar ser alto. Um garoto quando é bancado, se muda para a casa do seu cliente/ namorado e passa a ser sustentado por ele fica em suas mãos, perde o controle da sua liberdade.
- Não vejo assim...
- É como na Grécia antiga, havia um Mecenas por trás dos grandes festivais e rituais, alguém que pagava o coro, os atores e dramaturgos e regia todo o evento. O mesmo acontece com a vida do garoto que aceita esse “pacto”. Mas chamo isso de escravidão neo contemporânea. O garoto é bem remunerado, mas é sugado ao seu limite. Inteligentes aqueles que faz o que seu ex namorado fez, estudam, adquirem boa formação, cultura e dão seguimento em suas vidas sem precisar ficar preso a uma relação.
- Mas hoje quem me procura é ele. Eu vim para o Brasil sozinho, mas ele insiste em querer voltar.
- Viver as próprias custas nem sempre é divertido...Pode ser que ele tenha sim sentimento por você, não duvido, você é um homem interessante, e tem muito a oferecer. Mas acho que ele sente falta do Mecenas...
- Você não quer, você prefere ser garoto de programa!
- Não se trata de querer. Eu quero muitas coisas, mas quero alcançar por mérito próprio e não depender a piedade de uma pessoa para isso. Agradeço muito sua oferta em querer me ter em sua vida, mas não consigo ser somente de uma pessoa, não sem sentimento. Me entende?
- Claro. Vou buscar seu dinheiro...

Enquanto Hermes atravessava o apartamento em direção ao seu quarto para pegar meu cachê, olhei a vista de São Paulo pela sua imensa janela da sala de jantar... Talvez aquela fosse a última chance de conquistar em pouco tempo o que eu gostaria... Talvez se dissesse “Sim” eu poderia aumentar minhas ambições; Talvez fosse um blefe; Talvez minha vida poderia ser muito melhor e um mundo de possibilidades se abriria...Certamente aquele fim de semana com passeios, cafés requintados, galerias de artes e concertos jamais se repetiria na mesma proporção... Mas o sentimento de liberdade em poder descer aqueles andares, olhar a rua e poder caminhar sem destino era imensurável... EU SOU DIONISIO e assim como disse Sócrates “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”.  Saber respeitar os limites quando não conhecemos alguém ou algo é a maior das virtudes que um ser humano pode ter.

O garoto errado, de volta em 2020