Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.
[Sócrates]
Para os antigos gregos, as Dionisíacas era um rito
transformador. A embriagues e a dança vertiginosa serviam para os participantes
ultrapassarem a moderação, saírem de si mesmo, entrarem em êxtase e, com isso,
transformarem-se internamente. A embriaguez era considerada uma forma de
incorporar a divindade em êxtase e entusiasmo, no sentido literal da palavra,
isto é, “ter deus dentro de si”. Conta-se que, em uma dessas celebrações, no século VI a.C., um indivíduo
chamado Tespis ao invés de dizer “Oh Dionísio, deus do vinho”, ele disse: “Eu,
Dionísio, sou o deus do vinho”. Com essas palavras, ele passou a representar o
deus, isto é, tornou-se um ator, estava criado o teatro.
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/teatro-grego-mascaras-para-recortar-e-colorir/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues
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Ao longo da profissão como Garoto de Programa deixamos o
status de mero estranho e passamos a adquirir o status de bibelô, troféu ou
brinquedo sexual de luxo, com o qual o cliente busca ser divertir também fora
da cama, em eventos e viagens. Em geral o GP troféu muitas vezes cabe para
programas nos quais é exibido com certo orgulho, longe do escondido quarto de
motel e passamos a ser apresentados ao mundo do cliente como uma conquista de juventude,
beleza e virilidade, como sinônimo de uma conquista representada na imagem do
outro.
Mas nós também enquanto acompanhantes temos também nossos
troféus em forma de clientes. É bem verdade que há garotos e garotas que se
vangloriam de alguns feitos e até fantasiam situações, mas embora algumas
situações possam parecer inusitadas elas acontecem e a sorte ou o que achamos
sorte bate a nossa porta.
Hermes encontrou meu contato num site gringo aberto para
anúncios de acompanhantes. Maduro, de porte médio e olhos expressivos, ocupa o
cargo de Cônsul - um funcionário de um Estado
responsável, em país estrangeiro, pela proteção dos interesses dos
indivíduos e empresas que sejam nacionais daquele Estado, assim como Embaixador é responsável por embaixada.
Recém chegado a São Paulo para intermediar relações e ações
entre seu país com o Brasil Hermes era um amante do sexo e mesmo com tanta variedade de garotos na capital,
seu feeling veio de encontro com o meu justamente pela escrita. Poeta por
paixão, ele divide-se entre o trabalho no Consulado e suas criações
literárias, além de amar música clássica e as artes plásticas.
Inicialmente como de praxe nosso contato foi bem
superficial, com perguntas e respostas clássicas sobre meu trabalho e
atendimento. Como não tenho ido a São Paulo frequentemente e estou sediado no
interior, nosso encontro ficou planejado para algumas semanas depois, nesse
período passamos conversar quase que diariamente.
Ao longo das conversas fui percebendo que a posição de Cônsul
é um trabalho muito visado e exige o cumprimento de uma agenda dedicada a
eventos oficiais, encontros com outras autoridades e recepção de outras tantas
figuras importantes, como um anfitrião que recebe visitas e tem por tarefa
apresenta-los a diversos lugares, neste sentido a casa de Hermes é o Brasil e
seu trabalho exige que ele resida num local próprio para recepcionar pessoas
vindas de diferentes lugares. Por isso eu tentava entender qual era sua fissura
com garotos de programa, tendo em vista sua alta posição e os diversos olhos
que o cercam e poderiam julga-lo.
Em uma de nossas conversas soube que em seu país de origem,
por um longo tempo ele namorou um garoto de programa; Ambos se conheceram na
relação clientes versos GP, e se envolveram num namoro que durou alguns anos.
Neste período o rapaz fez a vida, largou a profissão como acompanhante, passou
a ter outro padrão de vida, estudou e se formou em psiquiatria. No entanto, não
aceitou a término do namoro e ainda corre atrás de Hermes na busca por
reconquista-lo. Como bom cético moldado pelas experiências da vida me custava a
acreditar nessa coisa chama “amor”. Para mim o rapaz simplesmente não quer
largar a regalia de ter um namorado que ostenta certo status, além de boas
cifras, porém ao ser confrontado Hermes nega.
Você era cliente exclusivo dele, pagava uma mesada?
Perguntei sem cerimônia.
Não, eu o ajudei, mas desde que começamos a namorar não dei
mais dinheiro a ele...
Certo...
Ele estudou e se formou em psiquiatria, hoje ganha muito
bem. Mas terminamos e vim embora para o Brasil, porém ele ainda me ama e quer
voltar...eu também o amo...
E por que não voltam? Perguntei.
Por que não sinto mais tesão por ele. Mas ele me quer de
volta.
Claro, você ocupa uma posição de destaque... Talvez para ele
seria conveniente... (As vezes não meço as palavras).
Atualmente ele não precisa de dinheiro...
E como me achou?
Conheci deu blog e acompanho desde então...
Ultimamente não tenho tanto tempo para o blog e as vezes até
esqueço que apesar de tantos anos e tantos textos antigos ele é muito lido, e
isso atrai pessoas intrigados na persona de Eduardo e que também dividem certos
dilemas. Já ouvi de clientes que muitos textos os ajudaram em momentos de
grandes dilemas e de certa forma isso me alegra, as histórias aqui
compartilhadas não são só minhas, são também de outros, mas que se cruzam em
algum momento comigo.
Os dias foram passando, e pouco a pouco eu e Hermes
criamos intimidade, falávamos de arte, cultura, personalidades e pensadores da
humanidade. Até que se estabeleceu um certo encantamento e também momentos de
estresse pelo conflitos de ideias.
Eu gosto de namorar...Se você se apaixonasse por mim, você
deixaria de fazer programas? Perguntou.
Se me apaixonasse eu toparia namorar, mas em relação ao meu
trabalho não penso em parar, ainda. Não gosto de depender de ninguém, prefiro
me deitar com 30 pessoas e ter minha liberdade a ficar a mercê de alguém
financeiramente. Tenho uma meta. Neste caso você teria que aceitar minha
profissão.
Você não precisa mais trabalhar como GP. Mas percebo que
você gosta disso Você sente prazer em ser garoto de programa! Tentava me
analisar sem me olhar nos olhos.
Sim, óbvio que eu gosto do meu trabalho, este é um dos
requisitos para você ser garoto de programa, seu ex-namorado não lhe explicou isso? Afinal ele
trabalhou por muito tempo como acompanhante.
Mas ele parou com os programas quando iniciamos o namoro e
foi estudar medicina.
Certamente atingiu um objetivo que ele queria, no meu caso
estou nessa busca. Não faça um julgamento precipitado. Não
sou nenhum acomodado na vida. Mesmo que eu namore alguém, jamais vou
interromper meus objetivos jogando a responsabilidade nesse alguém. Uma relação
é feita de concessões e convivência, nós nem nos conhecemos, nem tivemos
contato físico, além disso é um engano sermos radical a ponto de querer mudar a
personalidade de alguém.
Eu tentava abrir os horizontes de Hermes acerca do
preconceito com o qual a sociedade olha o garoto de programa, a ponto de
classificar seu trabalho como algum sujo, errado e imoral. Alias, quem sustenta
a base dessa pirâmide, basta olhar no espelho e vai saber...
O namoro pra mim não era ponto acordado, alias, eu nem estava
focado nisso. Mas era um tema recorrente da parte dele, talvez pelo desejo
sexual, ou intelectual em encontrar um par condizente com seu padrão intelectual,
um garoto = objeto sexual, mas com pontos em comum. Ao menos Know How para
entender a cabeça deste tipo de cliente eu já tenho, muitos deles nos fazem promessas
e nos contam histórias sedutoras para que abramos nossa guarda. Não que Hermes
fizesse isso premeditado, mas era um impulso. Afinal, quando a criança quer
muito um brinquedo ela faz birra por ele, depois que brinca de forma excessiva
e exaustiva o brinquedo fica desinteressante. Assim é o GP, um objeto de desejo
que a medida que vai sendo utilizado cai no desinteresse. Freud explica...
Conversa, vai, conversa vem, eu decidi entrar no jogo de
Hermes e ceder aos seus encantos verborrágicos, porém se a sua instante tinha
um lugar para um novo troféu resolvi me fazer de isca para ver até onde iríamos
na relação cliente x gp. Você, caro leitor, pode achar isso uma tremenda maldade,
mas se um cliente joga com o psicológico de um garoto que ele “julga” ingênuo
lhe prometendo namoro e uma vida estável, por que não fingir que acredita para
desfrutar desses bons momentos? Bingo!
Eduardo, tenho uma proposta. Vou marcar o programa com você.
Que tal você vir passar um final de semana comigo, levo você para um concerto,
saímos para jantar e ir a algumas exposições. Se você gostar, poderá voltar
mais vezes, mas ai será sem cobrar, você virá como meu namorado.
Ok, eu topo, neste primeiro final de semana vou para um
programa, aproveitamos para nos conhecer. A distancia temos muitas coisas em
comum, falta ver na prática.
No final de semana seguinte embarquei para São Paulo,
restava saber quem de nós seria Tespis e quem de nós seria Dionisio.
Continua...
Ogarotoerrado