4 de ago. de 2018

EU SOU DIONISIO


Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. [Sócrates]

Para os antigos gregos, as Dionisíacas era um rito transformador. A embriagues e a dança vertiginosa serviam para os participantes ultrapassarem a moderação, saírem de si mesmo, entrarem em êxtase e, com isso, transformarem-se internamente. A embriaguez era considerada uma forma de incorporar a divindade em êxtase e entusiasmo, no sentido literal da palavra, isto é, “ter deus dentro de si”. Conta-se que, em uma dessas celebrações, no século VI a.C., um indivíduo chamado Tespis ao invés de dizer “Oh Dionísio, deus do vinho”, ele disse: “Eu, Dionísio, sou o deus do vinho”. Com essas palavras, ele passou a representar o deus, isto é, tornou-se um ator, estava criado o teatro.
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/teatro-grego-mascaras-para-recortar-e-colorir/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues

Ao longo da profissão como Garoto de Programa deixamos o status de mero estranho e passamos a adquirir o status de bibelô, troféu ou brinquedo sexual de luxo, com o qual o cliente busca ser divertir também fora da cama, em eventos e viagens. Em geral o GP troféu muitas vezes cabe para programas nos quais é exibido com certo orgulho, longe do escondido quarto de motel e passamos a ser apresentados ao mundo do cliente como uma conquista de juventude, beleza e virilidade, como sinônimo de uma conquista representada na imagem do outro.
Mas nós também enquanto acompanhantes temos também nossos troféus em forma de clientes. É bem verdade que há garotos e garotas que se vangloriam de alguns feitos e até fantasiam situações, mas embora algumas situações possam parecer inusitadas elas acontecem e a sorte ou o que achamos sorte bate a nossa porta.

Hermes encontrou meu contato num site gringo aberto para anúncios de acompanhantes. Maduro, de porte médio e olhos expressivos, ocupa o cargo de Cônsul - um funcionário de um Estado responsável, em país estrangeiro, pela proteção dos interesses dos indivíduos e empresas que sejam nacionais daquele Estado, assim como Embaixador é responsável por embaixada. 
Recém chegado a São Paulo para intermediar relações e ações entre seu país com o Brasil Hermes era um amante do sexo e mesmo com tanta variedade de garotos na capital, seu feeling veio de encontro com o meu justamente pela escrita. Poeta por paixão, ele divide-se entre o trabalho no Consulado e suas criações literárias, além de amar música clássica e as artes plásticas.
Inicialmente como de praxe nosso contato foi bem superficial, com perguntas e respostas clássicas sobre meu trabalho e atendimento. Como não tenho ido a São Paulo frequentemente e estou sediado no interior, nosso encontro ficou planejado para algumas semanas depois, nesse período passamos conversar quase que diariamente.

Ao longo das conversas fui percebendo que a posição de Cônsul é um trabalho muito visado e exige o cumprimento de uma agenda dedicada a eventos oficiais, encontros com outras autoridades e recepção de outras tantas figuras importantes, como um anfitrião que recebe visitas e tem por tarefa apresenta-los a diversos lugares, neste sentido a casa de Hermes é o Brasil e seu trabalho exige que ele resida num local próprio para recepcionar pessoas vindas de diferentes lugares. Por isso eu tentava entender qual era sua fissura com garotos de programa, tendo em vista sua alta posição e os diversos olhos que o cercam e poderiam julga-lo.

Em uma de nossas conversas soube que em seu país de origem, por um longo tempo ele namorou um garoto de programa; Ambos se conheceram na relação clientes versos GP, e se envolveram num namoro que durou alguns anos. Neste período o rapaz fez a vida, largou a profissão como acompanhante, passou a ter outro padrão de vida, estudou e se formou em psiquiatria. No entanto, não aceitou a término do namoro e ainda corre atrás de Hermes na busca por reconquista-lo. Como bom cético moldado pelas experiências da vida me custava a acreditar nessa coisa chama “amor”. Para mim o rapaz simplesmente não quer largar a regalia de ter um namorado que ostenta certo status, além de boas cifras, porém ao ser confrontado Hermes nega.

Você era cliente exclusivo dele, pagava uma mesada? Perguntei sem cerimônia.
Não, eu o ajudei, mas desde que começamos a namorar não dei mais dinheiro a ele...

Certo...

Ele estudou e se formou em psiquiatria, hoje ganha muito bem. Mas terminamos e vim embora para o Brasil, porém ele ainda me ama e quer voltar...eu também o amo...

E  por que não voltam? Perguntei.
Por que não sinto mais tesão por ele. Mas ele me quer de volta.

Claro, você ocupa uma posição de destaque... Talvez para ele seria conveniente... (As vezes não meço as palavras).
Atualmente ele não precisa de dinheiro...

E como me achou?

Conheci deu blog e acompanho desde então...

Ultimamente não tenho tanto tempo para o blog e as vezes até esqueço que apesar de tantos anos e tantos textos antigos ele é muito lido, e isso atrai pessoas intrigados na persona de Eduardo e que também dividem certos dilemas. Já ouvi de clientes que muitos textos os ajudaram em momentos de grandes dilemas e de certa forma isso me alegra, as histórias aqui compartilhadas não são só minhas, são também de outros, mas que se cruzam em algum momento comigo.
Os dias foram passando, e pouco a pouco eu e Hermes criamos intimidade, falávamos de arte, cultura, personalidades e pensadores da humanidade. Até que se estabeleceu um certo encantamento e também momentos de estresse pelo conflitos de ideias.

Eu gosto de namorar...Se você se apaixonasse por mim, você deixaria de fazer programas? Perguntou.
Se me apaixonasse eu toparia namorar, mas em relação ao meu trabalho não penso em parar, ainda. Não gosto de depender de ninguém, prefiro me deitar com 30 pessoas e ter minha liberdade a ficar a mercê de alguém financeiramente. Tenho uma meta. Neste caso você teria que aceitar minha profissão.

Você não precisa mais trabalhar como GP. Mas percebo que você gosta disso Você sente prazer em ser garoto de programa! Tentava me analisar sem  me olhar nos olhos.
Sim, óbvio que eu gosto do meu trabalho, este é um dos requisitos para você ser garoto de programa, seu  ex-namorado não lhe explicou isso? Afinal ele trabalhou por muito tempo como acompanhante.

Mas ele parou com os programas quando iniciamos o namoro e foi estudar medicina.

Certamente atingiu um objetivo que ele queria, no meu caso estou nessa busca. Não faça um julgamento precipitado. Não sou nenhum acomodado na vida. Mesmo que eu namore alguém, jamais vou interromper meus objetivos jogando a responsabilidade nesse alguém. Uma relação é feita de concessões e convivência, nós nem nos conhecemos, nem tivemos contato físico, além disso é um engano sermos radical a ponto de querer mudar a personalidade de alguém.

Eu tentava abrir os horizontes de Hermes acerca do preconceito com o qual a sociedade olha o garoto de programa, a ponto de classificar seu trabalho como algum sujo, errado e imoral. Alias, quem sustenta a base dessa pirâmide, basta olhar no espelho e vai saber...
O namoro pra mim não era ponto acordado, alias, eu nem estava focado nisso. Mas era um tema recorrente da parte dele, talvez pelo desejo sexual, ou intelectual em encontrar um par condizente com seu padrão intelectual, um garoto = objeto sexual, mas com pontos em comum. Ao menos Know How para entender a cabeça deste tipo de cliente eu já tenho, muitos deles nos fazem promessas e nos contam histórias sedutoras para que abramos nossa guarda. Não que Hermes fizesse isso premeditado, mas era um impulso. Afinal, quando a criança quer muito um brinquedo ela faz birra por ele, depois que brinca de forma excessiva e exaustiva o brinquedo fica desinteressante. Assim é o GP, um objeto de desejo que a medida que vai sendo utilizado cai no desinteresse. Freud explica...

Conversa, vai, conversa vem, eu decidi entrar no jogo de Hermes e ceder aos seus encantos verborrágicos, porém se a sua instante tinha um lugar para um novo troféu resolvi me fazer de isca para ver até onde iríamos na relação cliente x gp. Você, caro leitor, pode achar isso uma tremenda maldade, mas se um cliente joga com o psicológico de um garoto que ele “julga” ingênuo lhe prometendo namoro e uma vida estável, por que não fingir que acredita para desfrutar desses bons momentos? Bingo!

Eduardo, tenho uma proposta. Vou marcar o programa com você. Que tal você vir passar um final de semana comigo, levo você para um concerto, saímos para jantar e ir a algumas exposições. Se você gostar, poderá voltar mais vezes, mas ai será sem cobrar, você virá como meu namorado. 

Ok, eu topo, neste primeiro final de semana vou para um programa, aproveitamos para nos conhecer. A distancia temos muitas coisas em comum, falta ver na prática.

No final de semana seguinte embarquei para São Paulo, restava saber quem de nós seria Tespis e quem de nós seria Dionisio.

Continua...

Ogarotoerrado

30 de mar. de 2018

CATARSE, SEXO E LIBERTAÇÃO


Se pudéssemos limpar as portas da percepção, tudo se revelaria ao homem tal como é: infinito.
[ William Blake ]

Roberto apareceu por acaso como cliente caroço (aquele tipo de cliente que aparece, faz inúmeras perguntas, pede todo seu material como fotos, vídeos, reclama do preço, pede desconto, te liga nas horas mais inoportunas e some. Perdi as contas de quantas vezes ele fez isso comigo e outros colegas de profissão. Com o tempo e a prática do contato diário com clientes e curiosos, o garoto de programa desenvolve seu feeling para identifica rapidamente o perfil do cliente que o procura, dentre os curiosos, decididos, indecisos, experientes, iniciantes, podres, ricos, carentes, solteiros, comprometidos há no meio deles o cliente “caroço”, um tipo que se auto intitula cliente, mas no fim das contas ele só quer sua atenção para passar o tempo, são raros os casos que desabrocham para um programa real.

Com Roberto foi assim, inicialmente ele achou meu cachê caro, depois me achou fora do perfil que queria, entre outros motivos que encontrava para aparecer e sumir. Nessa época não o atendi e sugeri ele buscar garotos mais econômicos e como sugerido Roberto foi sair com a concorrência, no caso o mercado informal de garotos que iniciantes ou ainda não profissionais que não tem tato com sexo e com variados perfis de clientes.

Após uma série de programas frustrados que deixaram Roberto literalmente na mão, ele  resolveu me contratar para uma foda. Chegando em seu apartamento notei diversos símbolos do camdonblé, como a figura de Iemanjá sobre a mesa de vidro, algumas esculturas de cavaleiros guardando a parte superior da porta de entrada, caboclos sobre os armários da cozinha, entre outros símbolos que não entendo, pois não sou conhecedor da Umbanda.

Roberto é um homem de baixa estatura, branco, um pouco gordo, barba sempre feita, cabelos ralos, sinal de calvice e olhos castanhos arregalados. Ele tem uma tara particular em pornô gay, logo ao entrar em seu apartamento há uma TV de tela grande na sala na qual era exibido um filme erótico gay, já no quarto a mesma situação, há uma TV pequena também com pornô gay sendo exibido. Toda aquela atmosfera em conjunto com símbolos do Candomblé, me levou a um leve desconforto. Confesso que senti-me apreensivo, logo pensei. “Se houver alguma pomba gira aqui isso vai provavelmente me afetar”, pura ignorância, eu sei, mas era falta de conhecimento. Meu único contato com espiritismo foi depois de adulto quando fui algumas vezes a um Centro Kardecista, que aliás é uma linha oposta ao Candomblé e a Umbanda.

Para entendermos melhor, o Kardecismo defende que os espíritos são evoluídos, de acordo com o seu desprendimento das coisas materiais e, quanto mais evoluído, maior é a proximidade de Deus. Essa evolução se da por meio do arrependimento de coisas passadas, o que se dá através das reencarnações ou do trabalho no mundo espiritual. Historicamente o espiritismo de Kardec é rotulado como elitista, feito pelos brancos e para os brancos. Já a Umbanda tem origem com os negros a partir de matrizes africanas, originado nas senzalas no período da escravatura. A Umbanda transmite conhecimentos espiritualistas respeitando as tradições populares e os usos e costumes do povo.

Há também um grande preconceito com a Umbanda e o Candomblé, pois no período da escravidão a igreja católica dominava a população. Enquanto os brancos cultuavam o cristianismo e colonizavam negros e índios, o povo negro sofria nas senzalas e sua forma de pedir proteção e celebrar a vida, era louvando seus santos e crenças com cantos, danças e cultos aos seus santos e espíritos de luz, a partir da Umbanda e do Candomblé.  Logicamente isso era visto como algo obscuro e criticado pela elite branca, dessa forma foram religiões mal vistas por centenas de anos, recebendo o nome de magia negra, macumba, etc... Isso não exime o fato de pessoas usar esses poderes para o mau, mas é preciso separar o joio do trigo.

Posto isto, era difícil transar com a sensação que você estava sendo vigiado por alguma entidade. O quarto já estava preparado, climatizado, filme pornô no televisor, luz ambiente enquanto Roberto me despiu peça a peça. O enfermeiro de olhos arregalados tinha uma particularidade, o fetiche por sungas de praia e na ocasião fui usando uma a pedido dele. Sem tirar minha sunga ele começou apertar meu pau, sentindo ele enrijecer, enquanto deitado eu acariciava suas pernas e seu pau, que já pulsava na bermuda.
Aos poucos ele tirou minha sunga e num 69 ambos caímos de boca nas pirocas já duras e volumosas. Roberto tinha um pau muito gostoso e macio, passei minutos chupando seu cacete, engolindo e colocando inteiro na boca, enquanto ele fazia o mesmo e acariciava meu cuzinho.

Vira de bruços pra mim?! Pedi em voz baixa

Um pouco receoso ele se deitou de bruços, tinha uma bunda grande, carnuda e branca. Com as duas mãos abrir aquele rabo, era rosado e bem cheiroso, não fiz cerimônia, cai de boca naquele cu macio. Mesmo não sendo muito passivo Roberto gemia com o rosto mergulhado nos travesseiros, relaxando todo o corpo, momento oportuno para preparar o território com gel, encapar o pau e ir penetrando bem devagar. Ao lado da cama há um guarda roupa todo espelhado, possibilitando uma visão privilegiada de toda transa. Roberto então virou o rosto para ver a penetração.

Nossa, seu pau é muito grosso. Dizia ele enquanto eu o penetrava com todo cuidado para ele não fugir da enrabada.

Nem tanto, o seu é mais, relaxa o corpo, confia, vou devagar. Disse a ele.

Aos poucos lembrei que uma das características da Umbanda e do Camdonblé é a catarse pelo corpo, sobretudo com as danças que evocam orixás e entidades como o Preto Velho, entre outros. Nesse instante Roberto estava de bruços e como o pau encaixado em seu anus deixe-me levar, esfregando meu corpo contra o corpo de Roberto, atolando o pau em seu rabo e me movendo como uma serpente, o movimento partia em zigue e zague da coluna e a cada movimento aproveitava para descer mais o quadril e penetrar mais fundo o enfermeiro bundudo. Aos poucos o medo de Roberto ao ser penetrado foi passando, dando lugar a um apetite interessante por rola.

Com todo cuidado consegui essa proeza. E quanto ele havia acostumado aproveitei para bombar com mais vigor naquele rabão guloso. Ele gemia mais forte nos travesseiros, virei o de lado e continuei socando a piroca, dessa vez entrava com toda facilidade e podia sentir um saco batendo no outro. Não demorou muito e Roberto gozou sendo penetrado. Após uma ducha, me troquei, peguei meu pagamento e fui embora.


OS RETORNOS
A partir deste primeiro encontro, Roberto passou a me chamar com certa frequência foi quanto ele confidenciou que era casado com outro homem e seu grande desejo era que ser marido participasse conosco.

Eu falei de você para meu marido!

Sério? O que ele achou?

Ah, mostrei seu perfil na internet, fingi que não te conhecia e só disse que gostei, que poderíamos te chamar para tentar. Ele disse que vai pensar.
Mas se a gente te chamar você tem que fingir que não me conhece! Alertou ele.

Ok, sem problema. Fazemos nosso teatro.

Entretanto esse fetiche nunca foi realizado, os encontros eram aconteciam entre mim e Roberto. Mas ao final de cada transa o assunto do marido vinha a tona. Roberto já estava no segundo casamento, o primeiro não havia dado certo pois o namorado/ marido era muito dotado e somente ativo, Roberto é flex, mas não tem muita resistência como passivo, acabou terminando o relacionamento pois o sexo era uma missão quase impossível entre eles.
Neste novo casamento tudo seguia bem, mas caiu na monotonia, o sexo esfriou, segundo ele.


ENERGIA NEGATIVA OU CALOTE? UMA BOA PERGUNTA

Nosso último encontro foi decepcionante e revoltante pra mim. Era uma tarde, eu estava no no banco para uma analise de crédito para financiamento imobiliário e Roberto aparece no celular. Pelas mensagens havia uma grande agitação.

Oi, você ta atendendo agora?

Estou fora de casa, mas posso atender mais tarde.

Você faz massagem com masturbação?

Faço, massagem relaxante e posso te masturbar. Não quer penetração hoje?

Quero agora massagem e que você goze, agora a tarde em meu apartamento.

Ok, vamos marcar.

Chega em quanto tempo?

Estou no banco, vai demorar um tempo...

Conversa vai, conversa vem Roberto parecia impaciente até que consegui me livrar do banco e fui ao seu encontro. Chegando em seu apartamento, diferente da outras vezes a TV da sala exibia o filme “Bruna Surfistinha”. Mais do que depressa Roberto quis ir para o quarto, deitou-se de roupa na cama, não quis tirar nada, pediu apenas para que eu tirasse e me masturbasse pra ele.

Mas você não quer a massagem? Posso tirar sua roupa, fica de cueca para eu fazer a massagem e curtirmos com calma.

Não, bate pra mim. Quero ver você gozar. Disse com os olhos arregalados em voz embriagada e baixa.

Ok... Percebi que havia algo diferente naquele dia, mas já que estava ali e ele era um cliente fixo... “Vamos fazer a moda do cliente”, pensei.

Comecei me tocando suavemente ao lado dele na cama, o pau foi endurecendo, com movimentos de vai e vem continuei “tocando” minha punheta. Roberto aproximou-se mais, e com a palma da mão começou tocar meu saco e pedir em voz baixa.

Goza, goza, vai...goza em cima de mim, vai...

Não demorou muito gozei, ficamos alguns segundo ali.

Quer gozar?  Perguntei.

Não...

Neste instante fui para o banheiro me limpar e Roberto deu por finalizado, ficou ainda deitado na cama, enquanto eu retornei e comecei a me vestir. Puxei um assunto qualquer e ele respondendo foi para sala e ficou sentado no sofá vendo o filme “Bruna Surfistinha” que ainda passava na TV.

Não tinha visto esse filme da Bruna ainda? Perguntei

Já... inclusive falei de você pra ela...Ela disse que te conhece. Respondeu com a voz mais enrolada.

Oi? Pensei comigo...”Melhor ir embora por que isso não ta legal”... Terminei de me aprontar, saquei o celular e maquina de cartão, coloquei o preço e dei para Roberto incluir o cartão e fazer o pagamento no débito, como ele costumava fazer... Ai veio a ingrata surpresa.

O que? Perguntou ele com os olhos caídos.

Pra você fazer o pagamento. Você pediu pra eu trazer a máquina... respondi

Aé...Mas já acabou?

Sim...você não pediu massagem e punheta? Eu cheguei aqui você não quis mais massagem, pediu para eu tirar a roupa e me masturbar...atendi seu pedido.

Ah...mas eu quero mais. - Veio pra cima de mim, foi abrindo o zíper da minha bermuda e me levando para o quarto, deitamos na cama e Roberto parecia um bêbado, ficou me alisando, pegando no meu pau mole...Não sabia nem o que fazia até que se cansou.

Não vai ficar duro?

Não, eu acabei de gozar nesse instante...Você não deu tempo pra nada, não quis massagem, não quis gozar, só pediu para eu me masturbar e gozar em cima de você. Eu fiz.

Ah... Saiu para sala.

Preciso que você acerte comigo!

Acertar o que?

Meu pagamento.

Pagamento?...

Sim, você marcou um programa comigo, vim aqui te atender. Eu fiz o que combinamos. Você não vai me pagar?

Ah... Nesse instante enquanto ele foi para o quarto eu continuei na sala esperando com a maquina de cartão, mas já repetindo pra mim mesmo “Não acredito que cai nessa”...

Roberto mais pra lá do que pra cá volta com um vidro de perfume, sem caixa, sem rótulo, simplesmente um vidro com um perfume qualquer. Sem querer adivinhar para que era aquilo, antes que ele me oferecesse uma colônia barata como pagamento eu já disparei.

Sinceramente não esperava isso de você, nos conhecemos a tanto tempo, nunca tivemos um problema e agora você faz uma coisas dessas? Marca comigo para me dar um calote? Sem problemas, não me ligue mais, agora preciso ir embora!

Posso ir com você na portaria?

Para que cara?! Você ta ai tonto, todo alterado! Você bebeu? Usou alguma droga? Não quero que você vá comigo a lugar nenhum, quero ir embora, abre a porta, por favor!

Sem prolongar a situação fui embora do condomínio desacreditado, revoltado, me sentindo um lixo humano, acontece... Em muitos casos um garoto sem equilíbrio literalmente enfiaria a porrada no cliente, ou faria uma limpa no apartamento dele pegando objetos de valor. Porém essa não minha índole, jamais me sujeitaria a este ato. Eu só agirei em legitima defesa, pois também não sou nenhum monge gregoriano. Entretanto, acredito muito na lei do retorno. O que você faz de ruim para alguém em algum momento volta, já constatei isso em outros carnavais. Nesses anos todos como Garoto de Programa já passei por diferentes situações e felizmente nunca tive problemas graves, também nunca me faltou nada, consegui prosperar dentro da minha realidade, mas ainda sim é revoltante passar por essa falta de respeito.

Já em casa, tomei um longo banho para tirar toda aquela energia pesada do apartamento de Roberto, peguei meu celular e passei uma mensagem para ele. De tudo que disse no final arrematei com o seguinte texto:

“Achei que você como Umbandista respeitasse seu próximo, visto que a Umbanda não adota práticas agressivas ou violentas ou age com falta de caráter e respeito.
 Mas enfim, não podemos esperar muito das pessoas. Não sou umbandista, mas acredito muito na lei do retorno, e se hoje você engana alguém como me enganou, futuramente isso retorna para você em escala maior. Não irei lhe atender mais, sigamos nossos caminhos. Espero que você numa mais use pessoas como você fez hoje. É uma sensação muito ruim. Que seus guias te orientem a encontrar um caminho de luz.”
Abraços.

Se havia mais alguém naquele apartamento, não posso afirmar, mas a partir da analogia de que “nosso corpo é o nosso templo” é interessante testar alguns limites em busca do prazer, afinal o prazer é também um estado de catarse, compreendida na filosofia, na medicina e na psicanálise como limpeza, purificação e libertação do que é estranho à essência ou natureza de um ser. Especialmente naquele caso a catarse deu-se na quebra entre mim e Roberto, me vi liberto, meu templo foi usado, mas a consciência estava em paz.

O garoto errado.


8 de fev. de 2018

O SEXO NA ARTE



RETOMADA
Muitos meses se passaram desde minha ultima publicação no meu diário virtual O GAROTO ERRADO. O distanciamento ás vezes se faz necessário para que possamos seguir nossas vidas, assim têm sido com Eduardo.
Muitos ainda me escrevem, cobram novos relatos e histórias, é como se a interrupção por aqui significasse o fim, mas alerto que não. Eduardo habita em mim como uma chama acesa e as histórias acontecem no curso da vida, o motivo da pausa é a falta de tempo para me dedicar a tantas coisas. A vida segue e com ela nossos planos, felizmente novos trabalhos estão surgindo, muitos projetos, freelas, parcerias profissionais, e claro, os estudos, muitos estudos, afinal, as habilidades de um garoto de programa vão além do bom sexo, ser um SAPIOSEXUAL é também uma maneira de dar prazer ao parceiro, em meu caso procuro unir os prazeres da carne aos prazeres do intelecto.
Feito as honras da casa retomo meu diário virtual com um texto da minha temporada em São Paulo, realizada ainda em 2017, na ocasião escrevi mas até o momento não havia publicado.

SOBRE 2018
Não posso garantir, mas pretendo ser mais presente aqui no blog, contudo, ao que tudo indica 2018 será um ano muito produtivo profissionalmente, no qual irei alçar novos voos. Neste período recluso vivi muitas histórias, conheci pessoas e descobri mais sobre mim e Eduardo.
Gostaria muito de reunir os textos deste diário em algum lugar, debater e revelar coisas que só eu sei e realizei para sobreviver como GP num mercado tão competitivo e efêmero, mas isto requer estudo e reflexão, pois pressupõe me expor de forma diferente, não sei se estou pronto pra isso, mas se o fizer gostaria de um registro onde as pessoas em geral olhassem a prostituição sem o véu da hipocrisia, afinal, sexo nunca foi um problema, o problema é o peso que colocamos no ato sexual.  O certo é que se este plano se concretizar a ideia é trazer fatos ainda desconhecidos e não imaginados por muitos.  Enquanto isso, sigamos trocando experiências por aqui.


O SEXO NA ARTE
O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança. [Gabriel García Márquez]

A relação entre arte, sexo e prostituição andam em linhas sinuosas que se cruzam a todo momento, basta estudar o contexto histórico de alguns séculos que será possível encontrar tal relação registrada em livros, quadros e poesias. Em temporada a São Paulo me permito fugir para alguns passeios e alimentar minha alma fora do quarto e dos lençóis onde passo a maioria do tempo com desconhecidos, aliás, a fuga é necessária para manter a sanidade mental.

Desta vez voltei ao MASP para visitar a exposição LAUTREC EM VERMELHO – que traz 75 obras do artista plástico Henri-Marie-Raymonde de Toulouse-Lautrec-Monfa  - mais conhecido como Toulouse Lautrec. Certamente muitas pessoas não o conhecem profundamente, mas em algum momento da vida já se deparou com sua obra. Lautrec foi um artista boêmio que viveu grande parte de sua vida em cabarés e casas fechadas, chamadas de Maison Close no século XVIII. Com forte traço em retratar a vida cotidiana das mulheres que lá viviam e de seus clientes, Lautrec pintava a fim de capitar a atmosfera e a intimidade das mulheres prostitutas daquela época.

As Maison Closes, em francês – eram bordéis que existiam oficialmente, numa época em que a prostituição era encarada como um mal necessário, capaz de acalmar os ânimos masculinos e assim preservar a “pureza” e castidade das mulheres solteiras e a ordem pública. Naquela época, e ainda hoje o machismo era muito forte e ao homem era permitido que este buscasse no sexo diversão e prazer, enquanto as mulheres era imposto a castidade como triunfo para honra e pureza. Ainda sim, as mulheres libertárias que se tornavam prostitutas ou lavadeiras eram recriminadas por transgredir a ordem das coisas em ter no homem o tutor responsável por manter a casa e a família.

Como podem notar, a prostituição tem sua parcela e peso em todas as sociedades e ainda continua discriminada por grande parte da população, por acreditar e desmerecer sua importância em pleno século XXI. Pois bem, em observação as obras de Lautrec mais do que cores e o falso luxo de uma época em que os prostibulos tinham certo requinte é possível notar os olhares perdidos e a angustias das mulheres retratadas.

Lautrec era frequentador das Casas fechadas e amigo dessas mulheres e cafetinas, tendo passe livre para transitar e retratar em suas obras o cotidiano dessas mulheres. Em seus quadros é possível notar momentos informais como, a espera pelos clientes, os momentos a mesa durante as refeições, a intimidade no sexo entre elas, a amizade e a exaustão. Seu traço é capaz de transportar o observador para dentro dos quartos.

Entre as pinturas, uma me chamou atenção, intitulada como “SEULE [SÓ] “-  como traz o informe do Masp diz o seguinte  “É o estudo para uma litografia que compõe o álbum sobre o cotidiano das mulheres. Uma mulher de roupas brancas está deitada na cama, suas pernas vestidas com meias pretas, pendem para baixo. Seu corpo parece se fundir com os lençóis como sés fossem feitos da mesma matérias, Isto é enfatizado pelo fundo castanho do cartão sobre o qual a pintura é feita, que une todos os elementos representados pelo artistas – a mulher, a cama, o lençol, o travesseiro, o quarto. As pinceladas de tinta. A carga emotiva – é um das mais fortes do artista. Uma possível leitura é da mulher finalmente a sós com seu corpo, seus pensamentos e sonhos. Mas a imagem talvez surgira de algo mais dramático: o retrato de uma mulher exausta, massacrada pela vida da prostituição, sujeita as regulamentações da polícia ao controle da dona do bordel, à competição com as outras mulheres e ao ciclo constante de clientes”.

SOBRE LAUTREC: Aos dezesseis anos foi estudar pintura com Léon Bonnat, professor rígido que não o agradava. Logo depois foi estudar com Fernand Cormon, cujo estúdio ficava nas ladeiras suburbanas de Montmartre, em Paris. É lá que Lautrec descobriu a inspiração que lhe faltava. Mudou-se para aquele bairro de má fama e encontrou seu lugar entre trabalhadores, prostitutas e artistas de caráter duvidoso. Começava sua nova vida.
Tinha habilidade em capturar as pessoas em seu ambiente de trabalho, com a cor e o movimento da pululante e opulenta vida noturna, porém sem o glamour. Usava muito vermelho, em geral de maneira contrastante, cabelos cor de laranja e a cor verde limão para traduzir a atmosfera elétrica da vida noturna. Era um mestre do contorno, podia retratar cenas de grupos de pessoas onde cada pessoa é individual (e na época podia ser identificada apenas pela silhueta). Frequentemente ele aplicava a tinta em uma estreita e longilinea pincelada, deixando a base (papel, tela) ou o contorno aparecer. Sua pintura é gráfica por natureza, nunca encobria por completo o traço forte do desenho. O contorno simples era a "marca registrada" de Lautrec desde o início da carreira como designer de cartazes. Não pintava sombras. Suas pinturas sempre incluíam pessoas (um grupo ou um indivíduo) e não gostava de pintar paisagens. O papel usado para os cartazes frequentemente era amarelo. Curiosamente o amarelo tornou-se a cor marca da prostituição. Segundo dizem no século XVIII com a recém chegada da luz elétrica as prostitutas vestiam “amarelo” para que pudessem serem vistas a noite.
Henri de Toulouse-Lautrec morreu prematuramente, aos 36 anos, no castelo de Malromé em Gironde. Entregue ao alcoolismo, apesar da excepcional popularidade de seus cartazes  publicitários e das numerosas litografias, o reconhecimento da importância estética... –




O garoto errado