Não há paixão mais egoísta do que a luxúria. [Marquês de
Sade]
Ainda é difícil entender como muitas pessoas marginalizam o
sexo...Desde que mundo é mundo o sexo permeia a consciência humana, seja de
forma pura ou até mesmo sacra, o sexo movimenta a humanidade. Nesses anos como
Eduardo White conheci inúmeras histórias e razões para acreditar que a
humanidade pensa em sexo mas nega sua essência, convivo com homens e mulheres
em diferentes contextos pertencentes as mais diversas classes sociais, níveis
hierárquicos e intelectuais, que veem no sexo a forma de expressar seus
desejos.
Empresários, esposas, padres, estudantes, metalúrgicos,
fetichistas e religiosos, TODOS...em um dado momento se rendem ao prazer da
carne, talvez o prazer do dilema pelo livro sagrado que vê o sexo como meio de
reprodução humana, em tempos remotos antes de Cristo numa sociedade machista,
na qual um único homem tinha dezenas de esposas em prol da procriação, e tudo
que convergia fora da regra como SODOMA E GOMORRA era queimado pelo fogo vindos
do céu...Os vestígios eram estátuas de sal mudas em um silêncio imposto pelo
divino.
SEXO, como definir esse reflexo do desejo presente em nossa
essência?
Nesta temporada em São Paulo recebi um convite inesperado. A
emissora de TV “REDE TV” com a missão de fazer uma matéria para o programa “Documento
Verdade” com o tema “A profissionalização do Garoto de Programa no mercado do
entretenimento adulto” me convidou para uma entrevista onde eu pudesse falar da
minha profissão como GP e como utilizo as ferramentas de trabalho para me
promover e conquistar uma certa carteira de clientes. A ideia central é abordar
a vida e o trabalho de acompanhantes masculino que cada vez mais investem nesse
mercado e destacam-se no entretenimento adulto. A principio nada de errado se
não fosse por outros programas que já tentaram abordar o assunto e caíram no
sensacionalismo da marginalização dos garotos de programa. Por isso, antes de aceitar
o convite da referida emissora refleti muito a respeito, pois temia, “ainda
temo” sobre o enfoque que será dado ao assunto.
Em alguns e-mails trocados com a produtora do programa,
deixei claro que se o foco fosse “MAIS DO MESMO”, ou seja, mostrar garotos sem
prumo, com histórias sofridas e uma vida miserável, de consumo, drogas,
depressão e marginalização, não haveria absolutamente nada de novo. De fato há
esse lado obscuro, mas menosprezar o sexo e os garotos de programa de forma
generalizada seria cair “mais uma vez” para o sensacionalismo.
Hoje o sexo comercial por meio dos profissionais
acompanhantes atingiu outro patamar e se há oferta é por que há procura, para
isso basta checar os números, em 2015 o mercado sexual cresceu 14% no Brasil,
envolvendo a expansão de sexy shops, casas de swing, saunas, sites de
classificados online, feiras e eventos dedicados ao sexo e fetiches.
Colocados alguns pontos decidi participar da gravação sem
expor meu rosto; A gravação ocorreu na tarde de quinta-feira (21/07) no Parque
Trianon, reduto de muitos garotos de programa em São Paulo, talvez uma escolha
errônea para falar de um mercado promissor, mas como havia sido sugerido pela
produção do programa não vi problema.
O fato é que existem profissionais e profissionais, tentei
fazer meu papel, falei a respeito da minha experiência e de como o sexo entrou
e evolui na minha vida. As perguntas foram baseadas e focadas no mercado para
profissionais masculinos e como fazemos para nos diferenciar em meio a tanta
oferta no mercado. Além disso foram abordados os principais gostos dos clientes
que procuram um GP e os investimentos necessários neste mercado.
Em parte da entrevista expliquei que embora a sociedade
ainda veja o profissional do sexo como um trabalhar a margem, esse cenário foi
reconfigurado. Hoje é imprescindível que um Garoto de Programa saiba “além de
transar e satisfazer seu cliente”, também agregar conhecimentos sobre mercado
financeiro, estratégias de marketing, atendimento e fidelização de clientes e
claro, traçar metas, pois é uma carreira com prazo de validade.
Enfim, agora é esperar o programa para conferir o conteúdo,
pois além de mim creio que entrevistaram outros rapazes e clientes. Oremos pela
mão do editor neste material. =]
Sobre a equipe posso dizer que todos foram educados, bem
humorados e souberam lidar com o tema de forma leve e descontraída.
Os dias em São Paulo foram intensos. Felizmente não tenho
tanto tempo de ócio quando faço temporadas a capital e todos clientes com quem
encontro são pessoas cordiais, que além da busca pelo sexo me fazem Cia com
boas conversas.
Pensando sobre o tema da entrevista segui com a temporada
atendendo a diversos clientes, grande parte eram clientes fixos e de temporadas
passadas, haviam também alguns novos que me procuravam pela primeira vez. Cada
um com uma bagagem, sempre após o sexo e um banho conversávamos, as histórias
iam desde dramas familiares com partilhas de bens, términos de namoro ou apenas
amenidades do dia a dia. Em cada homem ali presente havia uma necessidade de
explorar algo em sua sexualidade, ora obscura, ora fruto de um desejo além das
convenções sociais. O que havia de comum em cada programa era que eu não
conseguia mais me blindar e sempre íamos além de um mero programa sexual.
Reservei o domingo para tomar café fora do flat e passear
pela Avenida Paulista, precisava sair e respirar outros ares que não fosse o
cheiro de sexo do meu quarto. Fazia sol e haviam centenas de pessoas subindo e
descendo a avenida, famílias, crianças, pets, casais de diferentes gêneros, artistas
de rua...tudo culminando com a passagem da tocha Olímpica. Caminhei sem pressa
e sem me preocupar com o celular, parei em algumas bancas, namorei alguns
quadros e obras e já próximo do MASP resolvi entrar na fila comprar um ingresso
e conhecer o cartão postal ícone da Paulista.
Haviam três exposições, entre elas “Histórias da Infância”,
retratando diversos períodos e múltiplas representações da infância, desde
brincadeiras, comportamento, até a morte.
Porém, foi no piso superior que constatei que embora os
séculos passem, a humanidade persegue inúmeros anseios, como o divino, o
conhecimento, o desejo e a sexualidade. Embora as convenções sociais fazem
grande parte de nós reprimir esses espasmos estamos sempre transgredindo as
regras, isso constatamos tanto em passagens bíblicas mas também na arte. A
exposição “Acervo em Transformação” apresentou 119 obras vindos de diferentes
museus, abrangendo um arco temporal do século 4 aC a 2008. Com telas suspensas
era possível o expectador ter uma visão de 360 graus, com a imagem a sua frente
e um breve resumo sobre o artista e sua obra atrás da moldura. Entre inúmeros
nomes consagrados como, Pablo Picasso, Pietro Perugino e Di Cavalcanti, havia
também obras de brasileiros.
Em algumas telas o tema homossexualidade e sexo era bem
nítido, como a imagem de São Sebastião na coluna (1500 a 10) em que Perugino
traz a figura do Santo com o corpo nu, sem pelos, envolto a um tecido, e o
rosto com traços delicados sugerindo uma imagem homoerótica. Ou a tela “O
Casamento Desigual” representando um casamento de convenções, por interesses no
qual uma jovem casava-se com um velho, ela por sua vez interessada em sua
riqueza, ou seja, vivemos apenas a repetição dos séculos.
No campo da homossexualidade a tela mais emblemática do
salão era “Marte e Vênus, com uma roda de cupidos e passagem”, (1605-10), de
Carlo Saraceni. Na obra, Marte, deus da guerra, é retratado desarmado e em cena
íntima com Vênus, ambos roedados de cupidos, que usam a armadura de Marte como
brinquedo.
Ao final do passeio sai do museu certo de que o embora o
tema “SEXO” seja tabu para muitas pessoas e culturas, é algo que não
conseguimos negar, pois trata-se de uma necessidade fisiológica, como comer e
dormir. Portanto, podemos até reprimir o “sexo” por algum tempo, mas não o
tempo todo, é um assunto presente em nosso dia a dia. Seja o sexo visto por mera
forma reprodução da casta, prazer, transgressão, fetiche, perversão ou devoção,
o sexo nasceu com a humanidade e assim será. Como a bíblia diz: “Nosso corpo é
como um templo”, cabe a nós habitarmos da melhor maneira possível. Um garoto de
programa usa seu templo em beneficio próprio, desde que respeite seus limites e
os limites do outro.
No caso de um Garoto de Programa temos no sexo uma moeda de
troca, algo que se analisarmos a fundo não é novo. A humanidade também já
comercializa o sexo de diferentes formas e interesses, seja por ascensão
profissional, interesses matérias ou mero entretenimento, as pessoas se vendem
sem se dar conta e erroneamente classifica ou julga quem o faz por dinheiro
vivo, sem se dar conta que reproduz esse comportamento tão medieval, mas com
outros motivos.
O garoto errado