29 de jul. de 2016

O SEXO QUE NINGUÉM VÊ


Não há paixão mais egoísta do que a luxúria. [Marquês de Sade]

Ainda é difícil entender como muitas pessoas marginalizam o sexo...Desde que mundo é mundo o sexo permeia a consciência humana, seja de forma pura ou até mesmo sacra, o sexo movimenta a humanidade. Nesses anos como Eduardo White conheci inúmeras histórias e razões para acreditar que a humanidade pensa em sexo mas nega sua essência, convivo com homens e mulheres em diferentes contextos pertencentes as mais diversas classes sociais, níveis hierárquicos e intelectuais, que veem no sexo a forma de expressar seus desejos.

Empresários, esposas, padres, estudantes, metalúrgicos, fetichistas e religiosos, TODOS...em um dado momento se rendem ao prazer da carne, talvez o prazer do dilema pelo livro sagrado que vê o sexo como meio de reprodução humana, em tempos remotos antes de Cristo numa sociedade machista, na qual um único homem tinha dezenas de esposas em prol da procriação, e tudo que convergia fora da regra como SODOMA E GOMORRA era queimado pelo fogo vindos do céu...Os vestígios eram estátuas de sal mudas em um silêncio imposto pelo divino.

SEXO, como definir esse reflexo do desejo presente em nossa essência?

Nesta temporada em São Paulo recebi um convite inesperado. A emissora de TV “REDE TV” com a missão de fazer uma matéria para o programa “Documento Verdade” com o tema “A profissionalização do Garoto de Programa no mercado do entretenimento adulto” me convidou para uma entrevista onde eu pudesse falar da minha profissão como GP e como utilizo as ferramentas de trabalho para me promover e conquistar uma certa carteira de clientes. A ideia central é abordar a vida e o trabalho de acompanhantes masculino que cada vez mais investem nesse mercado e destacam-se no entretenimento adulto. A principio nada de errado se não fosse por outros programas que já tentaram abordar o assunto e caíram no sensacionalismo da marginalização dos garotos de programa. Por isso, antes de aceitar o convite da referida emissora refleti muito a respeito, pois temia, “ainda temo” sobre o enfoque que será dado ao assunto.

Em alguns e-mails trocados com a produtora do programa, deixei claro que se o foco fosse “MAIS DO MESMO”, ou seja, mostrar garotos sem prumo, com histórias sofridas e uma vida miserável, de consumo, drogas, depressão e marginalização, não haveria absolutamente nada de novo. De fato há esse lado obscuro, mas menosprezar o sexo e os garotos de programa de forma generalizada seria cair “mais uma vez” para o sensacionalismo.
Hoje o sexo comercial por meio dos profissionais acompanhantes atingiu outro patamar e se há oferta é por que há procura, para isso basta checar os números, em 2015 o mercado sexual cresceu 14% no Brasil, envolvendo a expansão de sexy shops, casas de swing, saunas, sites de classificados online, feiras e eventos dedicados ao sexo e fetiches.

Colocados alguns pontos decidi participar da gravação sem expor meu rosto; A gravação ocorreu na tarde de quinta-feira (21/07) no Parque Trianon, reduto de muitos garotos de programa em São Paulo, talvez uma escolha errônea para falar de um mercado promissor, mas como havia sido sugerido pela produção do programa não vi problema.
O fato é que existem profissionais e profissionais, tentei fazer meu papel, falei a respeito da minha experiência e de como o sexo entrou e evolui na minha vida. As perguntas foram baseadas e focadas no mercado para profissionais masculinos e como fazemos para nos diferenciar em meio a tanta oferta no mercado. Além disso foram abordados os principais gostos dos clientes que procuram um GP e os investimentos necessários neste mercado.
Em parte da entrevista expliquei que embora a sociedade ainda veja o profissional do sexo como um trabalhar a margem, esse cenário foi reconfigurado. Hoje é imprescindível que um Garoto de Programa saiba “além de transar e satisfazer seu cliente”, também agregar conhecimentos sobre mercado financeiro, estratégias de marketing, atendimento e fidelização de clientes e claro, traçar metas, pois é uma carreira com prazo de validade.
Enfim, agora é esperar o programa para conferir o conteúdo, pois além de mim creio que entrevistaram outros rapazes e clientes. Oremos pela mão do editor neste material. =]
Sobre a equipe posso dizer que todos foram educados, bem humorados e souberam lidar com o tema de forma leve e descontraída.

Os dias em São Paulo foram intensos. Felizmente não tenho tanto tempo de ócio quando faço temporadas a capital e todos clientes com quem encontro são pessoas cordiais, que além da busca pelo sexo me fazem Cia com boas conversas.

Pensando sobre o tema da entrevista segui com a temporada atendendo a diversos clientes, grande parte eram clientes fixos e de temporadas passadas, haviam também alguns novos que me procuravam pela primeira vez. Cada um com uma bagagem, sempre após o sexo e um banho conversávamos, as histórias iam desde dramas familiares com partilhas de bens, términos de namoro ou apenas amenidades do dia a dia. Em cada homem ali presente havia uma necessidade de explorar algo em sua sexualidade, ora obscura, ora fruto de um desejo além das convenções sociais. O que havia de comum em cada programa era que eu não conseguia mais me blindar e sempre íamos além de um mero programa sexual.

Reservei o domingo para tomar café fora do flat e passear pela Avenida Paulista, precisava sair e respirar outros ares que não fosse o cheiro de sexo do meu quarto. Fazia sol e haviam centenas de pessoas subindo e descendo a avenida, famílias, crianças, pets, casais de diferentes gêneros, artistas de rua...tudo culminando com a passagem da tocha Olímpica. Caminhei sem pressa e sem me preocupar com o celular, parei em algumas bancas, namorei alguns quadros e obras e já próximo do MASP resolvi entrar na fila comprar um ingresso e conhecer o cartão postal ícone da Paulista.

Haviam três exposições, entre elas “Histórias da Infância”, retratando diversos períodos e múltiplas representações da infância, desde brincadeiras, comportamento, até a morte.

Porém, foi no piso superior que constatei que embora os séculos passem, a humanidade persegue inúmeros anseios, como o divino, o conhecimento, o desejo e a sexualidade. Embora as convenções sociais fazem grande parte de nós reprimir esses espasmos estamos sempre transgredindo as regras, isso constatamos tanto em passagens bíblicas mas também na arte. A exposição “Acervo em Transformação” apresentou 119 obras vindos de diferentes museus, abrangendo um arco temporal do século 4 aC a 2008. Com telas suspensas era possível o expectador ter uma visão de 360 graus, com a imagem a sua frente e um breve resumo sobre o artista e sua obra atrás da moldura. Entre inúmeros nomes consagrados como, Pablo Picasso, Pietro Perugino e Di Cavalcanti, havia também obras de brasileiros. 

Em algumas telas o tema homossexualidade e sexo era bem nítido, como a imagem de São Sebastião na coluna (1500 a 10) em que Perugino traz a figura do Santo com o corpo nu, sem pelos, envolto a um tecido, e o rosto com traços delicados sugerindo uma imagem homoerótica. Ou a tela “O Casamento Desigual” representando um casamento de convenções, por interesses no qual uma jovem casava-se com um velho, ela por sua vez interessada em sua riqueza, ou seja, vivemos apenas a repetição dos séculos.
No campo da homossexualidade a tela mais emblemática do salão era “Marte e Vênus, com uma roda de cupidos e passagem”, (1605-10), de Carlo Saraceni. Na obra, Marte, deus da guerra, é retratado desarmado e em cena íntima com Vênus, ambos roedados de cupidos, que usam a armadura de Marte como brinquedo.

Ao final do passeio sai do museu certo de que o embora o tema “SEXO” seja tabu para muitas pessoas e culturas, é algo que não conseguimos negar, pois trata-se de uma necessidade fisiológica, como comer e dormir. Portanto, podemos até reprimir o “sexo” por algum tempo, mas não o tempo todo, é um assunto presente em nosso dia a dia. Seja o sexo visto por mera forma reprodução da casta, prazer, transgressão, fetiche, perversão ou devoção, o sexo nasceu com a humanidade e assim será. Como a bíblia diz: “Nosso corpo é como um templo”, cabe a nós habitarmos da melhor maneira possível. Um garoto de programa usa seu templo em beneficio próprio, desde que respeite seus limites e os limites do outro.

No caso de um Garoto de Programa temos no sexo uma moeda de troca, algo que se analisarmos a fundo não é novo. A humanidade também já comercializa o sexo de diferentes formas e interesses, seja por ascensão profissional, interesses matérias ou mero entretenimento, as pessoas se vendem sem se dar conta e erroneamente classifica ou julga quem o faz por dinheiro vivo, sem se dar conta que reproduz esse comportamento tão medieval, mas com outros motivos.





O garoto errado