Após o anúncio de minha recaída e reativação de meu celular
inúmeras pessoas chegaram até mim ou...me reencontraram com as mais variadas perguntas
sobre minha suposta volta. Houve quem ficou feliz e houve quem lamentou. E como
no número de abertura do filme Cabaré, me sinto um dos coristas que volta ao
palco para mais um número. Ao som do piano o mestre de cerimônia anuncia:
Deixem seus problemas na porta! Aqui dentro a vida bela, as
moças são belas! A orquestra é bela! Lá fora é muito frio, mas aqui dentro é
muito quente!
Os corpos dançantes com olhares estáticos surgem em coro
exibindo-se a ribalta. Coristas de diversos tipos e estilos surge... Entre eles
Eduardo volta à cena como parte de um número principal.
O retorno se mostra mais consciente, não pelos tostões, mas pela
necessidade em fechar um ciclo que interrompi. Pode parecer estranho aos olhos
de algumas pessoas, mas olho Eduardo como algo que foi interrompido por uma
força maior, em um momento que meu corpo não suportou se dividir em dois. Eu me
via estressado, com esgotamento emocional e a reclusão se fez eminente. Não
hesitei em fazer as malas, como um fugitivo, voltei ao meu ponto de partida.
Mesmo ele não estando mais lá.
Seis meses se passaram, mudanças aquietaram minha alma corrompida
e a vida em estado de letargia parecia voltar ao seu normal. Foram meses em que
meu corpo ficou em LOADING...
E como no número de abertura do filme Chicago, em que a “vedete”
Velma Kelly dança All That Jazz, número em duo que fazia com sua irmã que havia
sido assinada por ela; Eduardo ressurge, dessa vez não em duo. Ele anulou meu “eu
mesmo” para voltar a tona... O que estava dividido entre dois deu lugar a somente
um... Ao que me parece um intruso que me toma por alguns momentos.
Venha, Baby...
Por que nós não pintamos a cidade?
E todo esse Jazz
Mesmo voltado como Eduardo, em parte, nada será como antes.
Hoje meu “eu mesmo” tem o controle da minha vida, vejo esse retorno como um
período para que Eduardo feche seu ciclo como era para ser feito, sem fuga, mas
uma despedida consciente.
Ele sempre precisará responder inúmeras perguntas, pois
sempre querem saber seus reais motivos. São perguntas e mais perguntas... As
vezes o sexo é mais suave do que o ato de falar , pensar e responder. Parece
que querem arrancar algo de mim que muitas vezes nem eu mesmo sei.
A pressão é grande e por vezes tento fazer do “meu eu mesmo”
um advogado que me orienta em respostas que preserve a verdade que trago dentro
de mim. Para esses casos a marionete assume minhas atitudes, um leve sorriso no
rosto, olhos bem abertos, movimentos retilíneos e boca com respostas
simétricas. Meu cérebro apenas aperta o play para um tipo de texto pré-estabelecido.
E quando muitas perguntas são disparadas como uma pistola sem controle, ponho-me
em prática e num tipo de dança das
cadeiras Eduardo se move como Roxie Hart; Em frente aos inúmeros repórteres/
clientes ele é questionado sobre todos seus passos. a super
marionete para que não haja um esgotamento para além das forças que tenho.
Reporters - De onde você veio?
Billy (--As Roxie--) ) - Mississippi
Reporters - E os seus pais?
Billy (--As Roxie--) ) - São muito ricos
Reporters - Onde eles estão agora?
Billy (--As Roxie--) ) - A sete palmos
Reporters - Quando você chegou aqui?
Billy (--As Roxie--) ) - 1920
Reporters - Quando anos você tinha
Billy (--As Roxie--) ) - Não me lembro
Mary Sunshine - Quem é Fred Casely?
Billy (--As Roxie--) ) - Meu ex-namorado
Reporters - Por que você atirou nele?
Billy (--As Roxie--) ) - Eu estava partindo
Reporters) - Ele estava bravo
Billy (--As Roxie--) ) - Como um louco
E eu ainda disse: "Fred, saia do caminho"
Billy - Ela sabia que estava fazendo a coisa errada
Reporters - Então descreva
Billy (--As Roxie--) ) - Ele veio na minha direção
Reporters - Com a arma?
Billy (--As Roxie--) ) - Do meu escritório
Reporters - Você lutou contra ele?
Billy (--As Roxie--) ) - Como um tigre
Billy - Ele tinha força e ela não tinha nenhuma
Billy (--As Roxie--) )
E ainda assim nós dois pegamos a arma
Sim, sim, sim nós dois
Oh, sim, nós dois
Oh sim, nós dois pegamos
A arma, a arma, a arma, a arma
Oh sim, nós dois pegamos a arma
A arma (...)
Aprendi que nenhuma condição é permanente nem mesmo a de
garoto de programa. Hoje eu não me defino como tal. Não sou Garoto de Programa,
eu “estou” Garoto de Programa. Eu não precisarei mais me anunciar insistentemente,
me desdobrando para ser visto. Eu já fui visto. Todo GP tem seu momento, quero
dizer, aqueles que se dão bem e se podem ou não aproveitar esse momento em
algum tipo de carreira...bem, é um empreendimento arriscado, não é? Por que o
momento é um tempo muito curto. Está aqui e logo não esta mais, como a maioria
dos garotos.
O ruim da projeção é você ser visto por quem não deve vê-lo.
Estar no foco faz você também atrair olhares não merecedores, de predadores
pronto para te morder e sugar seu sangue.
Isso pode ser anulado? Claro que pode. Mas como uma droga
que cria dependência em seu organismo é preciso desintoxicar.
O número final se aproxima, mas ainda não foi apresentando,
contudo, está próximo seu nome é projetado em lábios desconhecidos... Palco
escuro, espelhos iluminados, reflexos rebatidos. Eis que pessoas surgem a sua
volta, ecoando seu nome, murmurando em seu chamado ... Até que um nome...seu
nome em letras gigantescas é suspenso no ar e a cada chamado ele se sobe e se
perde no espaço, até ser inalcançável... ., até que as cortinas se fechem...
O garoto errado