30 de dez. de 2015

O SENHOR X


Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. [Clarice Lispector] 

Com o advento da internet as pessoas passaram a se estruturar em redes, fato que ampliou nossa capacidade de comunicação e sobretudo formação de novos grupos que hoje derivam por localização e afinidades. Numa forma mais aprofundada a internet criou conceitos como, CYBERCULTURA - CYBER – que significa algum local que possui uma grande concentração de tecnologia avançada e a CULTURA – hábitos que herdamos e aprendemos de acordo com nossa história, origem e tradições. O termo Cibercultura ganhou um novo prefixo com a junção para CYBER+CULTURA, abrangendo os fenômenos associados as forma de comunicação digital. Esse conceito absorveu nossas vidas de tal forma que hoje sentimos a necessidade de buscar cada vez mais o outro de forma digital, isso quando não queremos expor nossos passos nas redes digitais e aplicativos. Eduardo White de certa forma é reflexo deste conceito e só nasceu e pode construir sua identidade por associar sua vida como Garoto de Programa explorando as ferramentas de comunicação digital na internet e a partir disso compartilhando suas histórias no que chamamos de CYBERSPAÇO. 

 O livro Cyberculture de Pierre Lévy traz reflexões oportunas para se repensar os caminhos da humanidade e, em especial, da aprendizagem, com o advento das tecnologias digitais. 

Hoje muitos Garotos de Programa saíram das ruas e saunas e migrou para os sites, blogs e anúncios virtuais. Somos produtos dispostos em prateleiras digitais nas quais o cliente visita, clica, copia, analisa e até degusta visualmente (sem tocar), a fim de escolher uma opção que corresponda as suas necessidades. Esse fato faz com que as relações sejam voláteis, ou seja, não há fidelidade entre cliente x produto . Troca-se de produto como quem troca de roupa. Mas seria mesmo impossível um garoto de programa fidelizar uma clientela pela internet dada a tantas opções? 

Os motivos podem ser diversos, qualidade, preço, acessibilidade, versatilidade, afetividade, entre outros fatores que possam fazer com que sejamos fieis a tais produtos. Isso não garante que seu consumidor vá experimentar a concorrência, mas uma vez que ele experimenta e compara, ele poderá ter a certeza de que seu produto é insuperável e cada vez mais se adapta as suas necessidades. No sexo pago a coisa também caminha para o mesmo rumo. 

Senhor X é um homem polido,financeiramente estável e extremamente organizado. Aparenta ser de uma família bem constituída e muito fiel as tradições. Tanto que em sua juventude ele se fechou para experiências afetivas e sexuais, foram cerca de 30 anos abdicando de seus desejos em nome da família. Passado esse período de reclusão, ele decidiu aventura-se pelos seus desejos reclusos e o canal mais rápido foram os sites que ofereciam acompanhantes masculinos. 

Seus programas não poupam conforto e tempo. Tradicionalmente os encontros acontecem sempre aos sábados, no período das 8h às 16h na suíte máster ou presidencial de algum motel. As suítes são compostas por um quarto espaçoso, com TV, ar, frigobar, sauna, piscina, hidro e outras regalias. No encontro, além de muito sexo há tempo para conversa, rodadas de café ou almoço, pausa para cochilo, hidromassagem e piscina. Não necessariamente nessa ordem. O valor era um mero detalhe no qual ele perguntava uma única vez para certificar-se e agendar. Senhor X iniciou sua vida sexual com dois garotos, os quais ele enfatiza ter tido muita sorte pela forma como foi atendido, mesmo assim ele não os manteve cativo de outros encontro. 

Nesse período como um bom vivant do sexo pago ele sabia encontrar informações e os garotos mai recomendados. E, através de um site de avaliações o Senhor X encontrou relatos e registros sobre Eduardo White ponto chave que o fez acompanhar o blog do Garoto Errado. 

Dia 20 de novembro de 2015 

Eduardo, boa noite !
Em seu Blog, você informou que estará em nova temporada em SP, de 09 à 19 de Dezembro. - Estava navegando pelo site CAMBIO DE BOYS, e confesso que fiquei impressionado com os comentários a seu respeito (positivamente). - Caso venhamos a nos conhecer, você será o 3º Profissional com quem sairei. - Sempre realizo meus encontros no Motel XXXX, que fica na Marginal Tietê, não sei se você o conhece, mas é muito confortável, já que quase sempre (exceto uma única vez) consegui a suite master, que contempla piscina aquecida, hidromassagem e sauna. - Em função do que oferece a suíte, sempre peço ao Profissional um programa de 6 horas, pois a minha intenção é relaxar me utilizando das acomodações da suíte, ao lado de uma companhia agradável, que neste caso, será a sua (estou confiando novamente na minha intuição, que com os outros 2 Profissionais, ela não me decepcionou). - Caso você concorde, não sei se você possui problemas com horário (para atender na parte da manhã), geralmente temos realizado os programas das 08:00 às 14:00 horas. e SEMPRE aos SÁBADOS. - Gostaria de saber se há interesse de sua parte, e por gentileza, qual é o preço de seu atendimento (neste caso, de 6 horas). 

Aguardo seu retorno. Senhor X 

Na ocasião eu planejava minha última temporada de 2015 em São Paulo e certamente esse seria um cliente diferenciado. Mas coube a questão: Por qual motivo SenhorX ainda procurava novos garotos? O que eu poderia proporcionar a um consumidor tão exigente que levasse ele a repetir seus encontros comigo? 

Enquanto pensava nesses questionamentos tratei de responder o e-mail e fechar nosso encontro pra o dia 12 de dezembro. No tramite de acertar os detalhes Senhor X continuou acompanhar meu blog e dias depois recebo a confirmação e um pedido inusitado. Senhor X queria antecipar nosso encontro para duas semanas em São José dos Campos pelo mesmo período, sem desmarcar nosso encontro para o dia 12 de dezembro. 

Por incompatibilidade de agenda pedi que nosso encontro fosse agendado para domingo. E no dia marcado fui ao encontro do Senhor X que já me esperava em sua suíte paramentada e preparada para às 6 horas. No encontro tudo ocorreu com perfeita maestria e procurei proporcionar o meu melhor. Como era um período estendido fiz tudo de forma tranquila, comecei com uma massagem corpo a corpo, seguida de muitos toques e beijos, curiosamente Senhor X nunca havia beijado com línguas entrelaçadas e seu corpo havia sido pouco tocado. Creio que os dois primeiros garotos apenas foram pelo caminho mais habitual, penetrar seu cliente com a finalidade do prazer anal e por mim ejaculação. 

Refletindo pela lógica mercadológica e me vendo como um produto, pude constatar que todo produto além de grife tem características que os diferenciam uns dos outros, trata-se da embalagem, matéria prima, designer, preço, gosto, cor, cheiro, sabor, sensação de prazer diferenciado e memória afetiva. Esse conjunto de fatores que criam uma identidade para quem o consome. No sexo isso não é diferente. 

No encontro com Senhor X estava informado ao meu respeito. Ele sabia que eu gostava de café, que não aprecio acordar muito cedo e até me conversou sobre alguns textos publicados em meu blog. Na cama tentei percorrer e explorar caminhos não conhecidos por ele, o toque, o beijo, a penetração cadenciada, o sexo oral, a paciência e a calma foram fatores determinantes. Senhor X ficou tão agradecido por esse domingo que marcou mais um encontro para domingo seguinte, além do encontro previsto em São Paulo, todos igualmente com duração estendida. Seria ele um cliente fidelizado ou queria apenas se certificar de algo que sentiu diferente? Ainda era cedo para saber. 

A TEMPORADA 

No dia 08 de dezembro como previsto cheguei a São Paulo para minha última temporada do ano. Porém, nesta viagem fui acompanhado de um amigo de Campinas, tanto eu como ele somos muito diferentes na forma (corpo), mas temos estilos parecidos. Era a primeira vez dele em temporada em São Paulo e logicamente era um risco visto, que as primeiras viagens a capital saem como um investimento até que o garoto possa fazer sua carteira de clientes. 

É a lei do mercado, todo novo produto precisa ter uma oferta boa, além de divulgação e estratégia de marketing para se tornar conhecido e bem quisto por seus consumidores. Enquanto eu atendia no meu fluxo normal, meu amigo ficou três dias parado aguardando seu telefone tocar. 
Desconfiado disso, na véspera do nosso encontro Senhor X perguntou via whatsapp como meu amigo ia em sua primeira temporada a capital. Respondi que as coisas não iam bem para ele e que estava tentando ajuda-lo, fiz um novo ensaio fotográfico dele e iríamos enviar as novas fotos para um site de anúncios. Diante de minha resposta o Senhor X propôs um encontro a três a fim de ajudar o rapaz, mas queria certificar se para mim seria algum problema. 

Acatei o pedido com alegria, pois sei o quanto é difícil trabalhar numa cidade como São Paulo. Talvez para muitos garotos que possuam clientes cativos isso soaria como uma ameaça ao seu negócio, visto que compartilhar contatos e clientes é sempre um risco para a concorrência, confesso que esse pensamento é comum, mas do mesmo modo que ele vem, ele vai. Logo penso que não devemos ter o sentimento de posse sobre algo ou alguém. Isso é um circulo vicioso ao qual não devemos alimentar. Senhor X é uma pessoa e não um número, ele poderá se cansar um dia e partir para novos horizontes, novos desafios e assim a vida segue. 

EDU, GOSTARIA QUE VOCÊ AJUDASSE SEU AMIGO. Pediu Senhor X em tom confidencial. 

Sim, estou fazendo o possível para que tudo corra bem. Respondi. 

Em outro momento: 
EDU, VOCÊ NÃO ESTARÁ EM SÃO PAULO NESTE FIM DE SEMANA, POIS SUA TEMPORADA SERÁ MAIS CURTA. FICARIA CHATEADO SE EU MARCASSE MAIS UMA VEZ COM ELE? 
Não, fique tranquilo. Marque com ele, tenho certeza que vai gostar! Consenti. 

Embora fosse curioso o fato do Senhor X me pedir tal permissão, achei de certo modo respeitosa. Fidelidade? Cedo ainda para dizer, mas se houve a pergunta para minha aprovação é por algum motivo. Esse desprendimento pode servir de laboratório para que eu como observador faça minha análise interna. Quanto ao Senhor X, muito além dos números que ele pode proporcionar a um garoto, ele proporciona respeito e confiança, os quais devo retribuir a ele. 
Neste dia 29 fez um mês que nos conhecemos. Nossas conversas já saiu do nível de gentileza para ironias e charadas enigmáticas temperadas com bom humor. 

Senhor X: Amanhã fará 1 mês que nos conhecemos! 
Eduardo: Nossos encontros seguidos foi um recorde para você? 
Senhor X: Vai pro Guiness, até então o máximo foram duas vezes com o mesmo profissional. 
Eduardo: Fico lisonjeado por isso. Confesso que imaginei que não iríamos além de dois encontros. Senhor X: São tão ruins assim? 
Eduardo: Não, claro que não. Pare de levar tudo para o lado negativo. Eu achei que não iríamos tão longe pois você é do tipo de pessoa seletiva, que escolhe a dedo com quem quer sair. 
Senhor X: E por que então você não levava fé? E não tem que ser assim? 
Eduardo: É que é comum também um “cliente” enjoar de um garoto quando sai muitas vezes seguidas. Mas isso não é regra...apenas situações que lidamos com o passar do tempo. 
Senhor X: Por isso, vá praticando seus números, só esquece das algemas!! 
Eduardo: Hahaha! Esquecidas!

O garoto errado

22 de dez. de 2015

SEXO E A REVOLTA DO GNOMO DA SORTE


É preciso possuir mais virtudes para manter a boa sorte do que para suportar a má sorte. [François La Rochefoucauld]
 
Todos nós em diferentes fases da vida temos um ritual ou um talismã que nos faz acreditar que a sorte estará ao nosso lado. Eu tinha um cliente o qual intitulava O GNOMO DA SORTE – Tal “apelido” não foi dado por mim, mas sim por um amigo que também é GP e havia atendido um senhor baixinho, grisalho, gordo, de nariz, mãos e dote grandes e relativamente peludo.
Foi um único encontro para que meu amigo se referisse ao cliente como GNOMO, apenas isso. Foi também um único encontro para que esse senhor não sentisse empatia e nunca mais procurasse meu amigo e direcionasse sua atenção a mim.

Após o encontro fatídico esse senhor soube da minha existência e resolveu me testar, posso dizer que nosso sexo sempre foi de muita energia física, cadenciado por alguns momentos mais tranquilos, com toque e beijos, mas na maioria das vezes esse cliente sempre exigia bastante de minha performance, a qual sempre cumpri como combinado, sendo ativo, passivo, proporcionando beijos, massagens, beijos gregos e chupadas por todo seu corpo peludo.

Foram dois anos tendo o GNOMO DA SORTE em minhas temporadas por São Paulo e a cada encontro ele ressalvava qualidades em mim que o faziam retornar. Num desses encontros ele disse: VOCÊ TEM ESTRELA.

Entretanto, porém, contudo e todavia, toda sociedade e acordo comercial pode sofrer abalos e dessa forma, nesta temporada final de 2015 eu perdi meu GNOMO DA SORTE. Tudo ocorreu da forma mais patética possível, mas um fato que confessor ter abalado parte do meu dia.
Após uma tarde com duas horas de sexo nas quais fui revirado pelo avesso, o senhor baixinho por fim gozou, foi para o banho e quando saiu no vapor suando trocou de roupa para me pagar, eis a surpresa, ele deixou sobre a mesa três notas que não davam a soma do cachê que já vinha sendo pago por ele a pelo menos um ano. Cuidadosamente o corrigi. Odeio passar por isso e foi a primeira vez que o fiz.

É... ainda faltam R$ 50,00. Disse
Você aumentou o cachê? Disse ele em tom surpreso.
Não, o valor é o mesmo, desde minhas últimas temporadas.
Mas da outra vez paguei essa quantia. Insistiu ele.
Não, você pagou o valor que citei agora. Disse olhando em seus olhos.
Você esta duvidando de minha palavra? Exaltou-se

Neste momento fiquei sem defesas e não quis dizer nada, mas eu estava certo, porém resolvi me calar. Bom, está bem, aqui esta! Tirou mais uma nota de R$ 50,00 e pôs sobre a mesa.
Ok, obrigado.

Abri a porta e o vi sair, saúva e aparentava nervosismo. Fechei a porta, deixei o dinheiro sobre a mesa e fui para o quarto incomodado com a situação. Pensava: “Ele foi meu cliente por dois anos e nunca havíamos tido esse problema e lá estava aquela fatídica situação”. Em minha memória vieram todos nossos encontros, temporadas e até o dia em que aquele senhor conheceu meu apartamento na rua Frei Caneca, época em que morei em São Paulo e já cobrava o cachê solicitado a ele. Não poderia me conformar com aquilo. Ele se sentiu injustiçado sem ser.

Conectei no skype, puxei seu contato e escrevi um breve relato rememorando nossos encontros e enfatizando os valores pagos, isso certamente iria provocar mais sua ira, mas eu não poderia me calar e deixar que ele erroneamente me tachasse de aproveitador ou duvidasse da minha palavra. Relato feito e enviado. Instantes depois o vi logar e ficar online, ele recebeu a mensagem, leu e sua sua resposta foi lacônica, apenas me bloqueou, sem dizer nada, mas ao menos leu o que escrevi.

Paciência, minha sensação de dever cumprido era plena, quanto ao meu GNOMO ele já não me pertence mais, ficou livre para escolher outro pupilo a abençoa-lo com toda sorte que os gnomos possuem. Dizem ainda que é raro vê-los, mas caso isso aconteça é por que algo em você é diferente e certamente muitas sorte estará presente em seu caminho.
Sem meu gnomo eu estou a mercê do acaso. Porém já é dezembro e como todo fechamento de ciclo novos ventos sopram a nosso favor. Ele poderá me amaldiçoar, se chatear e rogar até pragas, mas nunca poderá dizer que deixei de lhe proporcionar prazer, caso contrário nossa “relação comercial”  não duraria a vida de um trevo de quatro folhas.


O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com

12 de nov. de 2015

CORROMPENDO UM VOYER

É a teoria que decide o que podemos observar. [Albert Einstein]

Muitas vezes passamos observamos a vida e confundimos o tempo despendido com a contemplação, ficamos indecisos de quais rumos tomar de deixamos de tentar e nos lançar a novos feitos pré-julgando um comodismo que acreditamos ser o caminho certo.
 A temporada em São Paulo surpreendeu, nunca imaginei que depois de meses parado ao retornar eu seria surpreendido novamente com minha agenda lotada. Posso dizer que este retorno aconteceu sem pretensão. Desde a mudança brusca a que me impus devido ao meu esgotamento em São Paulo e uma oportunidade de trabalho que veio a calhar em maio de 2014, eu havia parado com os programas, foram 18 meses imersos num escritório, focado em outra área profissional envolvido com outros projetos que só me fizeram crescer pessoalmente. Obviamente houve momentos em que batia a saudade de Eduardo e da vida como garoto de programa.  Não ter horários definidos para dormir e acordar, ser meu próprio patrão e fazer meu próprio lucro. Porém havia também a lembrança de algumas inquietações e das incertezas que vivemos diariamente. Mesmo assim a vontade de voltar e fazer algumas temporadas como uma despedida estendida existia dentro de mim. Falo despedida pois já não tenho o mesmo ritmo, em um ano muitas coisas mudaram e não posso me dedicar 100% a vida de Garoto de Programa.

Nesses devaneios nossa política e os escândalos na corrupção do pais quebram o Brasil e claro, nós trabalhadores pagamos o pato, eis que meu contrato não foi renovado com uma singela carta de elogios pela presteza nas atividades desenvolvidas acompanhado de um recado: “PASSE EM NOSSO RH NO MÊS DE JANEIRO DE 2016, ATÉ LÁ ESPERAMOS RECONTRATA-LO”.
O reflexo dessa onda foi tão grande que demitiram estagiários, prestadores de serviço e reduziram o horário da jornada de trabalho, além de outros cortes.

Estávamos em agosto e eu era mais um desempregado nas estatísticas do Governo, foi então que pensei “É AGORA OU NUNCA”; Decidi chamar Eduardo White para assumir minha vida, pelo menos até janeiro de 2016. Isso é um ultimato? Claro que não! Eduardo poderá ainda permanecer e partilhar meus dias. Não ousarei estabelecer um ponto final para não precisar me retratar posteriormente. Apenas digo que até o fim de 2015 ele estará 100% na ativa.

Voltando aos programas, primeiro comecei atendendo clientes em minha cidade, São José dos Campos, mas como sabemos em toda cidade pequena o mercado do sexo pago é mais difícil e grande parte não se dispõe a pagar um cachê digno que compense seu trabalho e deslocamento, sem contar os gastos extras que temos com preservativo gel lubrificante, óleo para massagem e gasolina para o deslocamento. Por esse motivo voltei atender pouquíssimas pessoas em minha cidade natal, visto que com os reajustes no cachê apenas uma parcela se disporia a pagar o valor solicitado para um programa.

No final de setembro planejei então uma temporada em São Paulo, a prioridade foi dada  aos meus clientes antigos, embora eu pensei em recorrer a outros meios como sites pagos de anúncios de garoto, eu resolvi tentar abrir minha agenda somente para quem já me conhecia de longa data. O primeiro comunicado veio pelo meu blog, que já não conta com os milhares de acessos em tempos áureos, mesmo assim ainda é muito lido, depois parti para um corpo a corpo enviando um tipo de freepass via whatapp para minha carteira de clientes, pessoas com quem mantenho algum contato e falo sobre amenidades e para fechar coloquei um breve aviso num dos portais mais importante de avaliação de GPs em São Paulo. Para minha surpresa no primeiro anúncio eu comecei a receber pedidos e até a semana véspera da viagem eu já estava com 90% da agenda fechada e precisei antecipar um dia da viagem marcada.
Na véspera da viagem eu dormi apenas 5horas devido a tanta ansiedade e apreensão. Por vezes eu pensei se daria conta de toda essa demanda, mesmo assim era algo que eu desejava fazer e engolindo o medo e o nó na garganta parti rumo a São Paulo uma noite antes da temporada, para dormir na casa de um amigo e de lá ir para o hotel para que não houvessem atrasos. Meu primeiro cliente estava marcado para 12h30 de quinta-feira.

Cheguei ao hotel, fiz check in e subi rapidamente para o quarto 114 de onde eu avistava a Catedral Ortodoxa, uma imagem imponente que me trazia lembranças de temporadas passadas quando me hospedava naquele hotel.
Com tempo cronometrado tomei uma ducha e me vesti para meu primeiro cliente. Eu estava um pouco nervoso pelo encontro. Na ocasião eu esperava Henrique, um voyer, cliente assíduo eu já o havia atendido mais de três vezes para transas assistidas; em todos encontros eu me exibia e transava com um parceiro diferente, ora sendo passivo, ora sendo ativo, em nenhuma das vezes Henrique participou, ele apenas nos assistia com ar de excitação. E com o tempo fomos adquirindo afinidades um pelo outro, isso fez com que estreitássemos laços, pois éramos parecidos como pessoas. Neste reencontro, após mais de um ano ficamos combinados que iríamos nos tocar, ele me faria uma massagem e dela poderiam surgir outras coisas.

De banho tomado, trajando bermuda e camiseta preta ele avisou que estava subindo, confesso que ansiedade tomou conta de mim. Foram longos 17 meses sem atender a um único cliente em São Paulo e lá estava eu, na pele de Eduardo White esperando seu primeiro cliente.

Três batidas, respirei fundo e abri a porta sorrindo.

Oi,  tudo bem? Quanto tempo!
Tudo bem, e você? Nos abraçamos!
Como você está? O que tem feito?

Dali trocamos algumas palavras, eu me vi um pouco sem graça.

Comprei pra você! Entregou-me um embrulho bonito “Casa das Cuecas”.
Opa, obrigado! Vou vestir pra você. Disse

Ao tirar o short meu pau já estava dando sinais, estava endurecendo tamanha excitação. Vesti a cueca, era preta com listras e ficou ajustada ao meu corpo. Logo Henrique tirou sua roupa e ficou também só de cueca, a meia luz no quarto eu deitei na cama, coloquei uma máscara para tampar meus olhos e relaxei para que ele me fizesse a massagem combinada.
A cada toque com óleo e creme suas mãos deslizavam cada vez mais gostosas pelas minhas costas. Ele começou massageando-me de bruços, espalhou creme e óleo pelos meus ombros, costas e continuou descendo, brincou com minha bunda e meu pau, que já estava duro, com seus dedos me penetrou e massageou meu cuzinho, seguindo para as pernas e pés.

Agora vira de frente pra mim. Pediu em tom baixo.

Deitado de frente para Henrique, pude sentir suas mãos deslizarem pelo meu corpo, a cada toque o nível de excitação aumentava, massageou meu peito, pau, bolas, pernas e logo deitou-se por cima de mim, me beijando com cuidado. Ali nossos corpos ficaram entrelaçados e não houve penetração, mas uma bela punheta, suas mãos lambuzadas de óleo estimularam meu pau por vários minutos que resultaram numa gozada farta. Foi uma sensação muito gostosa de reencontro e prazer, sobretudo pela barreira transposta ali entre um observador e seu observado, seu objeto de estudo. 

Henrique havia quebrado a barreira que nos separava e saia dali com algo modificado. Pode ser que isso não se repita novamente, mas de qualquer forma foi algo único. Após uma ducha nos despedimos e pouco tempo depois eu receberia outro cliente.

Continua...

O Garoto errado



18 de out. de 2015

PUDOR

Em homens duros a intimidade é questão de pudor - e algo de precioso. [Friedrich Nietzsche]


Nos conhecemos por troca de e-mails, Evandro me encontrou em uma de suas busca pela internet, leu o blog e resolveu escreve achando que eu não o responderia. Cético e um tanto resistente ele mostrava descrente de muitas coisas sobre o universo masculino e ali travamos curtos diálogos. Até que ele quis marcar um primeiro contato real. Sua timidez aos poucos ia sendo vencida e com isso íamos descobrindo gostos pessoais. A partir daí a intimidade adquirida transforma-se em química e a combinação é sempre muito boa.

O melhor deles foi um onde as palavras quase não foram necessárias. Estacionei o carro, anunciei o número do apartamento na portaria e subi as escadas. Ao abrir a porta Evandro me recebeu com um sorriso, entrei, esperei ele fechar a porta e nos abraçamos, nossos rostos se encontraram, as bocas se misturaram e logo minhas mãos encontram sua bunda e as mãos dele encontram meu pau...Ele aperta até sentir meu membro pulsar dentro da calça.
Logo guio sua cabeça para baixo, ele se ajoelha e como um rapaz obediente abre o zíper, baixa minha calça e cueca até as coxas, e cai de boca. Suas chupadas são as melhores, ele suga com maciez num vai e vem sem pressa e quente e as vezes me olha com expressão ingênua. Faço ele levantar, dispo toda sua roupa e o coloco no sofá, ajoelhado de costas para mim...

Agora é a minha vez...Empina essa bunda. Mando sem ser rude.

Ajoelho no chão e frente a frente admiro seu quadril e sua bunda lisinha com um cuzinho rosado e quente pós-banho, seguro firme seu pau já duro pela base. Com beijos suaves percorro toda sua bunda, e sinto a pele dele arrepiada... Com a língua desenho uma linha que começa na base de suas bolas e passar por cima do cuzinho que pisca e pulsa sem parar de tesão.

AHHHHHHH...Ele solta gemidos involuntários a cada linguada em seu cuzinho que vai se molhando com minha saliva. O toque final é uma esfoliação com minha barba, esfregando meu queixo barbudo em seu cuzinho. Ele geme mais ainda.

Levanto, pego-o pelo pescoço, beijo sua boca de forma doce e o convido para cama. Ele apenas obedece. Deito primeiro com o pau pra cima e mando que ele caia de boca num 69 gostoso com sua bunda em meu rosto.Ficamos por longos minutos enquanto um brinca com o outro.

Quero esse cuzinho agora!

Coloco a camisinha, passo gel nele já de bruços e vou penetrando devagar , quando o sinto pronto, vou com cuidado para ele se acostumar, beijo sua nuca, sigo seu ouvido e anuncio baixinho para ele aguentar pois vou bombar um pouco naquele cuzinho. Ele consente com apenas um ruído...Uhum...

Com os braços como se fizesse flexão na cama ergo metade do meu corpo deixando somente o quadril livre para movimentos mais rápidos e fortes e dou várias bombadas. Evandro geme mas não é de dor.  De quatro, já com ele relaxado eu brinco de bombar e tirar o pau, o cuzinho dele já acostumado se deixar penetrar enquanto ele começa a se tocar e anuncia querer gozar, conectados ali ficamos um saciando o outro até que ambos gozamos e nos jogamos na cama. 

O calor é infernal e ficamos ali sem energias, apenas olhando para o teto, sentindo a brisa que entra pela janela. Depois de me recuperar, tomamos uma ducha, visto-me, recebo pelo feito e me despeço com uma frase curta e mais um beijo. A maior comunicação fica entre olhares e sorrisos. O gato é a única testemunha...


O garoto errado.


Agenda São Paulo
22 a 26 de outubro - IBIS PARAÍSO – Rua Vergueiro
Últimos horários disponíveis


Agenda Campinas
06 a 09 de novembro - Flat Campinas Service - Rua Barreto Leme, 244

15 de out. de 2015

RITOS DE PASSAGEM

Trilha sonora para leitura:

O ser humano é a forma de vida mais tóxica que habita no planeta terra. Uma obra feita de barro que ganhou vida a partir de um simples sopro. Como estátua viva essa obra configura-se numa caótica e confusa peripécia criada por Deus, que é capaz de manipular outras obras de barro semelhantes a ela.
Do amor ao ódio...Do desprezo ao afeto...Da sensatez a insanidade...

Um Garoto de Programa é facilmente transmutado em objeto de desejo perante aos outros. Esse é o poder que ele procura exercer no mercado em que atua de e de certo modo é seu meio de sobrevivência. Esse jogo se estabelece na fantasia que é criada na cabeça de quem o procura, o cliente. Mas até quando esse jogo se sustenta? Como fazer para que seu joguete continue lhe obedecendo?

A necessidade de se dividir em dois faz com que muitas vezes percamos nossa essência e passamos a jogar de forma cruel na selva de cada dia. Vislumbrar um paraíso é cada vez algo mais distante. Falo aqui do meu eu mesmo, falo de Eduardo, falo de você...

Nenhuma condição é definitiva e podemos mudar a todo instante, isso de fato acontece, pois amadurecemos em muitos aspectos. O fato de voltar às temporadas é pontual e digo isso não como uma prestação de contas;  felizmente não sou TUTELADO e tampouco fui nesses três anos dividido entre ser um GAROTO DE PROGRAMA e ser um rapaz como tantos outros.

Um rapaz, uma estátua de barro que foi violentamente quebrada e milhares de pedaços. Parecia impossível me colar e me recuperar, a pancada foi tão bruta que o chão se abriu e fui engolido em vida, dessa maneira foi mais fácil me encaixar em outra forma... EDUARDO.

A vida é assim, para cada ação há uma reação. Hoje, ao retornar a forma de Eduardo vejo-me também transformado. Os ideais são outros e mesmo assim se volto é com o sentimento e o foco em me despedir e seguir em frente, fato que não foi possível pela forma abrupta com que abandonei WHITE enquanto o vivia 24h por dia.

Sendo Eduardo White ou meu “Eu mesmo”, uma coisa teremos sempre em comum... O gosto pelo sexo, o desejo pelo outro, a necessidade de toque, de beijo e do calor humano.

Trouxa! Babaca! Sua forma de sobrevivência é ultrapassada!

Pode ser que você tenha razão...é por isso que me defino como...
O GAROTO ERRADO


Agenda São Paulo
22 a 26 de outubro - IBIS PARAISO – Rua Vergueiro
Últimos horários disponíveis


Agenda Campinas
06 a 09 de novembro -  Flat Campinas Service - Rua Barreto Leme, 244


24 de ago. de 2015

ANTES... O INÍCIO DO DESPERTAR

Os meses iam passando com as coisas fora do eixo, estudos a mil por hora, coração vazio com um amor arrancado do peito, família em crise, emprego de merda que mal dava para pagar as contas e eu no meio disso tudo, sem tempo para olhar para trás. O que eu perseguia ainda estava fora do meu alcance, por instantes me sentia Alice perseguindo o coelho maluco, eu podia vê-lo mas não alcançá-lo...
Foi nas noites de São Paulo que resolvi abrir minha válvula de escape. O lugar? Talvez nem melhor, nem pior, chamava-se apenas Rua Augusta. Nessa rua, a noite reservava tantas cores e sons que era difícil resistir aos bares e botecos de cada esquina e de certa maneira eu não fiz o mínimo esforço para resistir. Solteiro e querendo viver o que ainda não havia vivido, numa cidade que para mim abrir possibilidades do desconhecido, resolvi mergulhar de cabeça no que eu chamaria de um dos submundos de São Paulo. Eu não sabia de muita coisa, só sabia que era naquele lugar que eu queria me perder um pouco para esquecer meus problemas.

Eram mais de 22h quando eu, Elano e Alê, meninos com quem morava numa república estávamos subindo a rua Augusta olhando o movimento, num bar qualquer paramos para pedir algo para beber. Sentados observávamos uma mulher que falava e gesticulava sem para, nitidamente alterada ela estava praticamente sob efeito de cocaína. Ao nos ver veio até nossa direção e falou algo qualquer que não me recordo, a única cena foi dela pular em minha frente, pegar em meu rosto e dizer. POXA, VOCÊ É BONITO HEIN... motivo para os meninos que estavam comigo tirar um sarro, pois dai não sairia nada...hehehe. Continuamos nossa subida pela Augusta, lembro-me que iríamos no para o famoso bar do “Netão” um boteco que na época tinha uma pista de dança, bebida barata e muita gente por metro quadrado, elementos que garantiam boas amizades, risos e quem sabe azaração... No trajeto passaram por nós quatro crianças, entre elas uma menina portando uma carteira. Aos gritos uma patricinha berrava: 

Pega! Essa filha da puta roubou minha carteira! Pega! Pega!

A menina mais que depressa deu um baile num segurança gordo que tentou cercá-la, mas sem muita sorte, ao atravessar um cruzamento foi acertada em cheio por um carro que vinha em baixa velocidade. O corpo caiu cerca de dois metros de distância, o segurança e a patricinha foram para cima da menina ainda no chão: Anda, devolve minha carteira!

A menina abriu os olhos, levantou-se vagarosamente, apoiou e apertou o lado direito da sua cintura para conter a dor, ouviu todos os gritos possíveis, olhou fixamente nos olhos da patricinha e disse: 

Eu não sei onde ta sua carteira! Eu acabei de ser atropelada querida! Saiu mancando rumo a parte alta da Augusta. Patricinha e segurança foram desbancados, a menina sumiu andando pela noite. Concluímos que na correria com os “irmãos” era passou a carteira para um deles a fim de despistar o segurança. E nessa atmosfera onde o ar pairava desigualdade social e boemia, a noite parecia estar começando.

No bar a pista cheia e o som alto era o convite perfeito, entre passos e olhares, eu me percebi observado, instantes depois o sorriso confirmava o que segundos atrás era uma dúvida. Pele parda, cabelos castanhos encaracolados, rosto quadrado, sorriso aberto, olhos na cor amêndoa, barba por fazer... meia dúzia de palavras bastaram para nossos lábios se encontrarem e a partir dali permanecerem madrugada adentro. Sentia-me diferente, afinal dois anos com uma única pessoa, não me fez ter a curiosidade de experimentar outras situações... Naquela madrugada, a sensação de estar vivo de novo se restabeleceu dentro de mim. Desta vez eu não queria saber seu nome, seu endereço ou seu prato preferido, aliás, eu não fiz questão de saber...

OITO ANOS DEPOIS...EDUARDO WHITE

São 2h da manhã de segunda-feira, é o dia onde tudo recomeça para a maioria dos mortais. Muita coisa mudou, novos desafios, novos cenários, a vida deu uma guinada interessante, mas tudo ainda muito instável. Equalizar o cotidiano não é uma tarefa fácil para quem vive na tormenta de um mar furioso, são poucos os momentos de calmaria.

Velhos fantasmas ainda me assombram e talvez fugir de São Paulo tenha sido apenas uma fuga fracassada. Será que não consigo apagar as marcas que Eduardo deixou dentro de mim?
Talvez sim, o que sei é que AINDA preciso tirar a prova; E antes que essa vida se acabe eu preciso voltar para encerrar o que comecei... Eu ainda preciso tentar muitas coisas.

Bem, em outubro estarei de volta para mais algumas temporadas...
Até lá...

Eduardo White
O garoto errado


8 de jul. de 2015

O GNOMO DA SORTE

Ninguém foge do seu destino. O que Deus risca, ninguém rabisca. [Madame Janete – Minissérie Hilda Furacão]

Todos em algum momento da vida tem um amuleto da sorte, algo que traga prosperidade e sucesso em algum projeto. Eduardo White também teve o seu...

Três anos atrás eu ainda não havia me mudado para São Paulo, mas fazia pequenas temporadas com um amigo do interior. Nossa primeira temporada foi em um luxuoso flat que no ato da chegada sacou o motivo pelo qual aqueles dois rapazes estariam hospedados lá e foram decisivos em prol da cafetinagem de luxo, informaram que iriam cobrar R$100 por cada “visita” que subisse para nosso quarto.

Na ocasião eu era só mais um garoto anônimo numa grande cidade e não poderia me dar o luxo de pedir que meus poucos clientes pagassem uma taxa absurda para subir para o quarto, tampouco eu poderia subtrair esse valor do meu programa. A solução era eu atender fora do flat, na casa do cliente ou em motéis pela região. Já a realidade do meu colega era bem diferente, ele já era conhecido e seus clientes não se limitaram em pagar a quantia exigida.

Numa manhã de sábado, enquanto eu havia ido atender um cliente na Republica num hotelzinho de quinta com colchão cheirando a suor e cobrando mais barato para não fechar no vermelho, meu amigo havia recebido um cliente especial, empresário, bem resolvido e que não se limitava a pagar R$ 400 reais por duas horas de prazer, mais a taxa do hotel. Eram por volta de 11h30 quando cheguei no flat com apenas duas notas na carteira e encontrei meu amigo de cueca Box com várias notas prezas na cueca desfilando pelo quarto.

Viu só! Dinheiro na mão, cueca não chão! Comemorava ele.

Porra, tudo isso por duas horas? Seu cliente foi massa hein... Confesso que senti  uma ponta de inveja, pelo cliente generoso.

E o cara, era bonito? Perguntei

Eduardo, o cara parece um gnomo, coroa, baixinho, barrigudo, um cheiro forte. Não que ele fede, mas tem um cheiro característico. Ah, e estava com bafo, assim que ele começou a falar eu já peguei um Halls para chupar, senão não ia conseguir. Confessou meu colega.

Bem, pelo menos nisso eu me sai melhor, o meu era um coroa passivo, mas com tudo em cima. Ri.

Os dias da temporada se passaram e digo que relei muito para não sair no vermelho, atendi todos clientes fora do flat, enquanto meu colega recebia seus abastados homens que não se importaram em pagar a taxa de subida para o quarto. Entretanto a passagem do Gnomo ficou marcada para ambos. Eu não o vi, mas meu colega sempre lembrava durante nossas conversas sobre clientes. Gnomo acabou ficando como apelido do cliente devido ao seu tipo físico, gordo e baixinho, que entre outras peculariedades ele também aparentava ter um pote de ouro e não se importava em pagar bem, muito bem ao mero mortal que o levasse ao fim do arco Iris.

A temporada se encerrou com algum lucro e muitas histórias, mas decidi que precisaria traçar novas estratégias para as próximas viagens, como um hotel com custo beneficio adequado, boa localização e que não reparasse tanto nas “visitas” que receberíamos no quarto. E claro, além de trabalhar formas de fidelização e marketing, as quais inclusive já escrevi sobre.

O tempo passou, continuei trabalhando trançando algumas estratégias e aos poucos fui fazendo meu nome no oceano infinito que é a prostituição masculina. Meu blog se tornou bastante conhecido e acessado, passei a receber e-mails de pessoas que se identificavam com o que escrevia.
Saber fazer a hora certa é importante para irmos para o lugar certo e assim o fiz, anunciei uma quarta temporada a capital. Como de costume eu iria com um colega,  pois a ideia era dividir custos nas diárias do hotel e revezarmos o quarto conforme nossos clientes surgissem. Nessa ocasião, eu sai de São José dos Campos com cerca de 50% da minha agenda fechada para quatro dias de temporada. Foi uma das mais rentáveis que fiz, cerca de 12 clientes, sendo um deles uma pernoite para acompanha-lo numa balada.

No terceiro dia, enquanto eu voltava da Consolação recebi uma ligação, um cliente de voz grave perguntava se eu tinha horário disponível para aquela tarde de sábado.

Sim tenho, mas preciso checar o quarto. Qual horário seria melhor para você? Perguntei enquanto caminhava pela rua.

Agora! Você ta perto?

Confesso que não contava com esse imediatismo, mas como dinheiro não se dispensa eu tentei contornar.

Estou fazendo temporada com um amigo, estou a caminho do hotel e vou confirmar se quarto não estará ocupado. Pode ligar em cinco minutos e já lhe respondo.

Em vinte minutos estarei no hotel, se o quarto estiver ocupado a gente espera ou podemos ir para outro lugar. Vou indo pra lá, te espero na portaria. Foi enfático.

Ok, combinado. Desliguei e apertei o passo.

Pelo whatsapp chamei meu colega e falei sobre o cliente que havia fechado. Recebi a confirmação que o quarto estaria ocupado por 1h30, meu colega também havia agendado um cliente. O jeito era eu chegar no hotel, expor a situação e ver a possibilidade de esperar, ir para outro lugar ou descartar o cliente marcado.

Logo cheguei ao hotel, na recepção havia hospedes fazendo check in, outros desembarcando de um táxi e próximo a porta estava um homem gordo, baixinho, cabelos grisalhos, pele branca, vestia calça social, camisa de manga cumprida branca, deduzi que fosse o homem que havia me ligado. Cumprimentei o com um aperto de mão e me apresentei. Como a recepção estava sempre cheia fomos para o restaurante do hotel, que estava vazio.

Poxa garoto, difícil marcar com você. Brincou ele.

Sim, estava fora do hotel. Peço desculpas, mas estou em temporada com um colega e revezamos o quarto. Falei com ele e o quarto estará ocupado por pelo menos uma hora. Se você quiser podemos ir para outro lugar ou marcar em outra hora melhor para você. É que realmente eu não esperava sua ligação e deixei a tarde livre para ele usar o quarto. Disparei a falar.

Eu conheço seu colega, estive com ele na outra temporada em que vocês estiveram em São Paulo.

Sério?...Parei para ligar os pontos.

Sim, acompanho seu blog, li que o flat cobrou uma taxa de vocês por cada visita recebida no quarto né?! O lugar era ótimo, pena que fizeram isso com vocês.

Pois é... Passei a falar menos e observar mais e de acordo com o que ele relatava eu constatei. O Gnomo estava diante de mim! Pode parecer patético, preconceituoso, mas era só uma constatação, parecia algo impossível.

Gostei do seu colega, mas não era o que eu buscava. Acompanho seu blog já tem bastante tempo e vejo que você tem um ritmo diferente dele.

Era algo inédito para mim. Eu já havia atendido em duplas e trios, mas até então não havia sido comparado ou requisitado por um cliente de um colega. Não que um cliente sempre vá repetir garotos, seria ingenuidade pensar isso, mas é estranho quando um dos garotos é seu colega e o respectivo cliente faz algumas comparações.

A ética é algo que deve existir em todas as esferas, mesmo na prostituição, então me limitei a tecer perguntas pessoais que desabonassem algo ou que parecem quebrar esse protocolo. Apenas fui claro ao dizer que as pessoas que me procuravam não esperavam muitas vezes buscavam um personagem, um Eduardo que eles idealizavam, mas que na verdade eu era um garoto comum, apenas gostava de deixar meu cliente a vontade e contava com a ajuda dele também para que o sexo fluísse de forma prazerosa, afinal, eu não opero milagres. Sexo não é masturbação para ser feito apenas por uma pessoa.

Você está crescendo a cada temporada. Esse hotel é bem localizado, tem metro ao lado, estacionamento, mas é muito movimentado. Você deve fazer uma temporada sozinho. Disse ele.

Será que consigo?

Sim, consegue. Você tem um perfil diferente, é calmo, inteligente. Pode perfeitamente frequentar outros ambientes...

Como tínhamos tempo acabamos conversando sobre muitas coisas, sobretudo carreira profissional e aos poucos aquela figura que outrora foi me passada com certo asco, não por não ter requisitos de um padrão de beleza que muitas vezes impomos, mas por que os contatos com clientes em geral são tão efêmeros e tão rápidos que conseguimos apenas conhecer a embalagem externa e muitas vezes não enxergamos o que habita dentro de cada homem. E naquele dialogo de 60 minutos a figura do Gnomo que guardava o pote de ouro foi se desfazendo. Eu não via mais o pote de ouro que ele tinha para me dar, via apenas um homem que buscava troca, carinho, um momento de respiro para toda encenação que era a vida.

A beleza externa nada mais é que uma casca, uma couraça que muitas vezes esconde a feiura de dentro. Era curioso ver como uma pessoa muda aos nossos olhos a medida que conhecemos seu interior. Uma das cenas mais emblemáticas que lembro ter visto sobre isso foi na minissérie Hilda Furacão, exibida nos anos 90 na Tv Globo. Interpretada pela então jovem Ana Paula Arósio. Na obra de Roberto Drummond, Hilda é descrita como uma linda jovem, da alta sociedade mineira, que no dia do casamento abandona o noivo no altar, larga a família e se refugia a zona boêmia de Belo Horizonte, no Bordel Montanhês Dance para se transformar em uma das mais famosas prostitutas na década de 1950. A rainha da zona boêmia deixava os homens loucos, entre eles, até um frei dominicano, interpretado pelo ator Rodrigo Santoro.

Na primeira noite de Hilda uma fila de homens formou-se na porta de seu quarto, a fila descia as escadas e culminava na calçada do bordel, todos pacientemente aguardando a jovem iniciar seus trabalhos. O primeiro cliente era um homem de meia idade, gordo, baixo, pele suada de um dia de trabalho, olhos castanhos e sem dos dentes dente da frente, que aguardou pacientemente seu lugar na fila. Na cena, a bela jovem o recebe vestida de noiva, acaricia seu rosto e deixa o homem estático diante de tanta beleza, que aos poucos é envolvido por Hilda. Me lembro que a cena é cortada e segundos depois ele sai do quarto gritando de euforia, comemorando aos quatro cantos de bordel sua satisfação por ter se deitado com uma mulher tão bela.

Hilda que poderia ter escolhido o melhor dos rapazes, poderia ter tido uma posição de destaque na alta sociedade mineira, mas não o fez. Ela resolveu descer até o “borralho” e viver o que estava predestinado a ela ou o que viu como único caminho em busca da felicidade. A seus clientes ela não fazia distinção, ela atendia a todos sem distinção de cor e padrão estético. Sua candura amolecia até os mais rudes dos homens que se rendiam diante de sua ingenuidade e beleza.

Já no quarto eu e aquele homem já com certa simpatia tomamos banho, baixamos a luz e nos entregamos, foi um sexo gostoso, com caricias, beijos e a cada movimento eu sentia que ele gostava. Após o orgasmo ele ainda quis me fazer uma massagem, me colocou de bruços e massageou minhas costas e nuca, logo depois deitou-se do meu lado e retomou a conversa do restaurante.

Faz o que eu digo. Faça uma temporada sozinho. É só reservar um bom hotel, como este, mas um pouco mais tranquilo e com estacionamento. Anuncie em seu blog, você poderá cobrar um pouco mais por isso, pois vai oferecer um atendimento diferenciado aos seus clientes.

Será? Perguntei.

Pode ter certeza que sim... Gostei bastante de você. Não é como a maioria, é inteligente, calmo, paciente. Isso faz toda diferença.  Dizia enquanto se vestia, pagou um pouco mais que o combinado e foi embora.

Minutos depois meu colega estava de volta ao quarto. Enquanto eu trocava o lençol e arrumava a cama e organizava as toalhas aproveitamos para conversar.

E ai, como foi seu cliente? Perguntei.

Era um cara gostosinho. Respondeu ele.

Eu atendi um cliente seu, mas só soube por que ele disse que havia saído com você na temporada passada. Disse a ele.

Eu sei, o Gnomo né? Eu estava sentado próximo a recepção quando ele saiu. Ele me viu também. Nossa só de lembrar...Ele deve ter me reconhecido. Foi difícil, né? Perguntou.

Nem tanto, como passamos muito tempo conversando acabou que fluiu de forma bacana. Acabei sacando um pouco o que ele gosta, ele foi bem calmo. Fui ativo com ele. Expliquei

Mas ele pagou mais para mim. Ele ficou duas horas comigo!

Sim, é verdade... Concordei

Ele disse algo sobre mim? Será que não gostou de algo? Mas eu consegui penetra-lo, fui ativo com ele também! Dizia meu amigo procurando algum motivo para a suposta “troca”.

Não disse nada. Ele veio por curiosidade. É normal o cliente querer variar, eles não são fieis a nós, um ou outro pode até ser...

Após esse episódio muitas coisas mudaram, assim como recomendou esse cliente , eu comecei a pensar numa temporada solo. Quase dois meses se passaram, eu e meu colega reservamos uma nova data em um novo hotel. Dessa vez considerei algumas recomendações passadas por esse cliente, como um lugar privilegiado mas fora do circuito de badalação. Com a data marcada eu anunciei a temporada em meu blog e tive grande procura, tendo 50% da minha agenda fechada com antecedência.

Logo no primeiro dia em que cheguei a capital um site que avalia profissionais do sexo a partir de relatos de seus clientes, fez uma publicação sobre meu perfil e atendimento, bastou isso para que o restante de minha agenda fosse preenchida por completo. Lembro-me que não pude atender a todos que me procuraram, mas anotei contatos para avisa-los sobre outras temporadas, com as devidas autorizações. Isso de certa maneira foi positivo, pois tudo que é em partes inatingível como produto, acaba aguçando e despertando mais curiosidade. O ser humano em geral sempre quer o que não pode ter.

Aquele cliente em especial voltou pela segunda vez, muito cordial ele me parabenizou pela publicação no site, pelos textos no blog e mais uma vez recomendou que eu fizesse uma temporada solo. Eu o tranquilizei.

Pode ficar certo. Na próxima viagem será o momento de fazer algo sozinho. Disse a ele.

E assim que anunciei em meu blog minha viagem solo, esse cliente, curiosamente apelidado como “Gnomo” fez questão de reservar o período de 4 horas comigo, logo no primeiro dia, após minha chegada. Passamos uma tarde inteira juntos. Transamos, conversamos e dormimos uma tarde de quinta feira inteira. Antes de ir embora ele ainda deu algumas recomendações e parabenizou pela minha coragem em ouvi-lo. Fez novamente uma massagem e me desejou sorte antes de sair do quarto.  

A partir dali eu consegui manter um fluxo de agenda completamente cheia, tive que prorrogar um dia além do programado, pois um cliente havia fechado um dia todo só comigo e outro uma noite inteira. Creio que foi uma das temporadas mais rentáveis para mim.

Dois meses depois eu estava morando na capital, com um flat montado próximo ao centro financeiro de São Paulo, eu passei a trabalhar muito e correr ainda mais atrás dos meus objetivos. Nessa nova fase o “cliente da sorte” veio me visitar, com um abraço fraterno disse se sentir feliz por eu estar prosperando na carreira que havia escolhido. Tivemos um último programa e depois de se certificar que eu estava bem ele foi embora.

Talvez o pote de ouro seja uma corrida insana, uma metáfora, mas o fato é que nossa sorte é a gente quem faz. Nada acontece por acaso. Agradeço a ele por todas oportunidades em que estivemos juntos.


O garoto errado
garotoprivado@hotmail.com